Havia uma passagem que sempre estranhei nas histórias sobre Jesus:
"(...) Enquanto eu estiver no mundo, eu sou a Luz do mundo. Depois de Jesus ter dito isto, ele cuspiu no chão e fez um pouco de lama com a saliva. Depois passou a lama nos olhos do cego (...)" (João 9:5-6)
E fez-se a luz para o cego!
A interpretação canônica vai fundo na simbologia e diz que Jesus aqui imitou o gesto primordial de seu Pai que pariu o mundo no fazimento da luz. Quando Adão foi gestado, ele nasceu do limo, do barro, da lama. Ele estava, portanto, submerso na escuridão da pré-criação, cego, inexistente, e da lama passa a enxergar.
Entre os espíritas brasileiros, e para os simpatizantes, algo que se afilia acontece. É uma pomada singela que promete servir para amenizar vários males. Ela tem cheiro de ervas e uma consistência mais viscosa do que as pomadas comuns. Conta-se que a receita é mediúnica e, se revelada, perderá o efeito*. É que o Espírito, o vovô Pedro, quis que ela fosse gratuita para todos, seja porque, em Espírito, já não precisa de dinheiro ou fama, seja porque o restabelecimento da saúde deveria ser um bem não capitalizável. O fato é que nacionalmente ela é reproduzida por voluntários que a fabricam em prece. A posologia é fácil: "passar na zona afetada como se desse um passe".
À época de Kardec, soube-se de uma pomada assim, mas de receita livre. Em novembro de 1862, a médium Ermance Dufaux permite a publicação dos ingredientes de um ungüento que um Espírito havia lhe passado. Prometia, assim, um efeito extraordinário de sanar vários males.
Eram grãos, tubérculos, raízes misturados em uma cera.
A minha hipótese para essa panacéia não se reduz ao efeito placebo. Como algo que cumpre o que promete, ao ponto de atrair novos voluntários e usuários, serve para tão grandes aplicações? A medicina ocidental oficial geralmente nos traz remédios com um espectro de ação muito obtuso. Penso que o efeito não está nos ingredientes em si, mas que servem como meio excelente de acumulação e propagação de fluidos de cura. Como uma pilha a acumular carga, a pasta absorve as preces dos voluntários e se potencializa com a prece do enfermo. Os componentes lançam ao organismo todo esse conjunto de fluidos curadores e, daí, provocam as alterações celulares necessárias para o restabelecimento do equilíbrio.
Antropologicamente é um fenômeno maravilhoso, como tantas outras formas de a comunidade tentar restabelecer a própria saúde por meios não oficiais. Imagine milhares de pessoas devotadas religiosamente a fabricar um bem gratuito para todos os enfermos. A simbologia desse gesto já dá o que pensar.
Como acontece na base da crença espírita sobre os milagres do Evangelho, vê-se que as ações de Jesus podem ser reproduzidas quando as pessoas, com fé, se irmanam a mover montanhas. É a herança que Deus nos deu de fazer brotar luz da lama.
* Se fôssemos seguir a risca os fundamentos doutrinários, não há porque uma pomada perder o efeito porque revelada seus ingredientes. Mas, se a hipótese que levanto neste texto estiver certa, se o efeito da pomada tiver a ver com todo o contexto em que ela é produzida, sendo a própria gratuidade um dos ingredientes de cura, a comercialização do produto (e a cobiça, e a ambição, e a ganância consecutivas) degeneraria toda a caridade que há por trás, corrompendo a essência do gesto curador.
gostaria de receber um potinho dessa pomada,
ResponderExcluirTô passando ela numa queimadura na barriga..e vou te falar tenho fé que logo estarei bom . A conheço desde muleque guando íamos nos cultos espíritas nos sábados eles são pessoas ilumunadas
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