O jovem:
"E o que vocês tem a dizer sobre árvore, presentes, materialismo... e sei lá. Acho que tem tanto sobre natal que extrapola o nascimento de Jesus. Mas, talvez ficasse extenso demais, mesmo. (...) E o pensamento racional ao qual tu se propõe também deveria considerar que provavelmente Jesus nem nasceu no dia 25 de dezembro. (...) O que me chamou atenção, no final, é que tu se refere a Jesus como Deus, no fim do texto. Pera, deixa eu ver aqui se acho o quote: "o parto dessa Divina Criatura que ESCOLHEU nascer em condições tão deprimentes entre nós para mostrar, a partir de baixo, como o humano pode se elevar às mais cristalinas alturas."
- Sobre árvore, presentes e materialismo:
A árvore nos devolve a um culto ao redor de seres vivos com potencial para viver bem mais que a gente e testemunhar gerações. Ainda me lembro* que papai costumava enfeitar de lâmpadas coloridas a laranjeira que nasceu em nossa casa do sertão, aguada pela sujeira que escorria de nossos corpos - meu, de minha irmã e do meu primo - pelados ao pé do tanque. Então, a árvore, para mim, tem gosto de lembrança do papai e da mão da mamãe ensaboando meu corpo.
Os presentes. Minha esposa sai em busca de gastar o décimo terceiro nosso com cada pessoa próxima a quem ela quer muito bem, e mesmo para os distantes a quem ela deve respeito. Às vezes a gente nem recebe de volta nada. Então, uma grande lição me proporciona: amar sem esperar de volta.
E o materialismo. O que seria de nós se não fosse a matéria? Penso em beijos, cheiros e abraços quando falo nisso.
Da data de nascimento de Jesus. Sério?! Que me importa se algum imperador do passado baixou um decreto criando essa data? Que Jesus tenha nascido dois meses antes ou dois meses depois só vale para os astrólogos que ficam tentando saber de que signo seria o menino. De novo: me é querida a data em que, lembrando o "amai-vos uns aos outros como eu vos amei", tentamos, no maior consenso da civilização ocidental possível, nos aproximar do aniversariante por esses caminhos: árvore, presentes e matéria.
Sobre o fato de Jesus ter escolhido o próprio nascimento. Só um deus escolhe nascer, não é? Humanos são nascidos, confere? É que acreditamos que Jesus, embora não sendo Deus, era deus suficiente para já não estar submetido a obrigações de ciclos de renascimento. Nascer entre nós, os necessitados disso, foi uma escolha de retorno para nos mostrar o caminho que conduz a libertação dessa necessidade, bastas vezes dolorosa. Ou talvez, ensinar que esses ciclos não precisam ser dolorosos. E o quanto de dor ele sofreu para nos ensinar isso, não é? Mas, isso, querido, é um artigo de fé espírita. Foge um pouco da filosofia. Sim, também temos artigos de fé. Podemos viver sem ter?
Mas, tipo, lembrar que possuímos escolha de amar ou não as pessoas, aceitar que, semelhante ao Cristo, apesar das contingências, SOMOS ESCOLHA, me faz sentir livre para ser um pouco mais do que sou a favor daquele que não é como eu. Esse movimento, de sair da certeza de si para o mistério do outro, é uma das definições de caridade.
* Não dá para responder sobre essas datas comemorativas sem ser algo completamente pintado com as próprias vivências.
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