terça-feira, 11 de novembro de 2014

A verdadeira fé é uma questão de desespero



Contra-censo total o que falei nesse título. Mas, espero que o leitor me entenda. 

Sempre nos falaram que a fé é um ato de espera, esperar, esperançar. O desespero é o oposto disso. É querer agora o que há para querer, imediatamente, pois não se aceita esperar. Porém, a bem da verdade, venho achando desde há muito este tipo de fé uma insolência para com Deus. 

O que podemos esperar de Deus? Muitos ostentam adesivos nos carros dizendo que aquela propriedade foi Ele (o Todo Poderoso) quem deu. E se o carro for roubado? Ora, foi Deus que permitiu, portanto, vale dizer: "Foi Deus que me tirou!". 

Isso vale para todo o resto. Se estamos doentes, não cansam os Espíritos de nos dizer que a doença chega como uma professora. Se vem a cura, é conquista e graça. Se morre uma pessoa amada, é porque estava na hora. Se sobrevive, é porque não era o tempo. Se nasce alguém, é uma concessão divina. Se, logo depois de nascer, ela morre, foi uma necessidade do Espírito e uma provação para os pais. 

Não podemos prever a vontade de Deus! Portanto, não deveríamos esperar nada. 

Viver desesperadamente seria aceitar a realidade como ela se nos apresenta: em sua radicalidade. 

Isso não deve nos impedir de tentar agir segundo a vontade de Deus - causaria menos sofrimento. Não é o que espero de Deus, mas o que Ele espera de mim. Por outro lado, dizem-nos os Espíritos que não devemos nos abster de pedir o que esperamos que aconteça. Pedir pela cura do filho doente, por exemplo. Mas, ainda assim, deve-se pedir, antes de tudo, que nossa vontade coincida com os desígnios superiores. 

Esta fala do Cristo ilustra bem esse conflito profundo:
"Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres." (Mt 26:39)
Em pleno desespero, uma esperança e a fidelidade. 

E, nesse mundo em que estamos, eu diria que o que mais nos define é essa tensão entre querer intensamente algo que talvez não seja o que nos espera de fato. 

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