(Toca vinheta)
Allan Denizard: Estamos aqui com mais um caso em “Reencontros com...”. Já nos aproximamos do assunto das reencarnações nas famílias pela ciência e pela psicologia, sempre abordando seus conflitos. Hoje, receberemos a visita de mais um pai que tem memórias que circundam o vínculo com seu filho, bem como a de um padre que haverá de expor o posicionamento da igreja hoje [em 4015] sobre o assunto. Como é o nome do senhor?
Pai: Allan Denizard.
AD: Ora, vejam só! Meu xará! Conte-nos um pouco, Allan, sobre o relacionamento com o seu filho, desde quando as memórias de outras vidas lhes perseguem?
Pai: Pra falar a verdade, Allan, elas nunca deixaram de existir. Eu não diria perseguir, é forte, é assustador. Não é uma caça. São lembranças.
AD: Mas, lembranças todos nós temos.
Pai: Isso! Todos nós. Acho que ao contrário das memórias, lembranças são mais vagas, são mais doces.
AD: Então as lembranças do seu filho não te perturbam?
Pai: Por que perturbariam? São elas que vão me manter vivo dentro dele quando eu não estiver presente. Não podemos viver só do presente, sabe?! A vida é pra ser vivida, claro! Mas temos de viver também a saudade. Temos de viver também a esperança. Não acredito só em um Homo sapiens, acredito em um Homo amorosus. E para amar precisamos lembrar de quem amamos. Precisamos esperar a pessoa amada. Esperar mesmo ser amado. Ter saudade de quando o fomos. Sentir falta se hoje não somos. Esperar ainda ser. O que seria de nós sem as lembranças?
AD: O que o senhor tem a dizer disso, padre?
Padre: Continue, Allan...
Pai: Então, seríamos um desenho em um papel. Só um. Não mais, nem menos. As lembranças nos dão dimensões.
AD: Tudo bem. Mas, você fala isso desta vida. O que estamos abordando no programa são as muitas...
Pai: Lembranças! A vida é uma só. Ou talvez, Allan, as mortes são muitas e não só a do corpo. A palavra que acabou de sair da minha boca foi, nesse instante, sepultada no vento. Por que você continua seguindo o fluxo da minha fala? Por que você ainda entende o que digo? É que você se lembra da vida do meu verbo antes da vida deste que agora vem em contínuo devir da minha boca.
AD: Isso você diz porque, ao contrário de muitos pais que estiveram aqui, seu filho ainda não te renega. Se ele vier a fazer isso, como você vai se portar?
Pai: Peço a Deus que eu me porte com sabedoria. A negação dos filhos contra os pais não é de 4015, é desde que o primeiro homem percebeu não ser igual ao outro. Eu preciso, mais dia ou menos dia, dizer: eu não sou você, você não é eu. Vai doer? Não duvido. Vou crescer? Duvido menos ainda.
AD: Gostaria de falar alguma coisa, padre?
Padre: Gostaria de pedir para o Allan continuar.
Pai: Pois é, obrigado padre. Acho a maior das bobagens esse seu programa, Allan Denizard. Queria muito que os pais que estivessem assistindo a ele, preocupados com as memórias dos filhos que lhes escapam, estivessem dedicados a brincar com seus moleques. O pior da brincadeira é brincar sozinho. Já pensou se o seu parceiro ou oponente sempre fizesse o que você esperasse? Seria o fim dos tempos! E uma das coisas que as lembranças nos ensinam é que a vida passa e se torna tempo - o tempo que passou. A gente tem que aprender a se importar menos com o que vem decorado pelos nossos filhos e se importar mais em decorar nossa relação com eles. Decorar de decoração e não de decoreba. O que vai permanecer no Espírito dele para sempre não vai ser o que eu fiz ele repetir, mas o que ajudei ele a inovar, renovar. E essa aventura do novo é uma que só se dá nas navegações do amor.
AD: Obrigado pela sua participação, Allan. Eu realmente gostaria de ouvir alguma coisa que o senhor, padre, tem para falar.
Padre: Eu não.
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