quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Por que isso aconteceu comigo?



Aí está a principal pergunta que conduz o indivíduo a busca pela espiritualidade. Não conheço outra com mais poder para isso. E quando associada a questões de sofrimento, ainda mais!

Vou dar um exemplo simples. Meu filho está doente, como verdadeiramente está. Iniciou uma febre boba e estranha antes de ontem e passou o dia inteiro com febre ininterrupta. Quando baixava o efeito do remédio em seu sangue, ela voltava. 

Quero que você saiba algumas angústias de um pai médico: nunca se sabe quando uma febre pode dar convulsão, a febre pode ser desde um simples resfriado até um caso de meningite que pode dar sequelas graves, os principais remédios para febre podem dar desde de problemas graves no sangue (gravíssimos) até complicações de pele (não leiam bula). 

Por isso não exagero quando digo: "Viver é correr o risco de adoecer a cada instante e morrer." Até mesmo os mais simples tratamentos médicos de que dispomos atualmente podem causar novas doenças. E a doença é quase sempre a volta à aula, a sirene que faz terminar o recreio, a estraga prazer. A gente acorda da vida de sorrisos e se toca que há algo errado com a vida: ela é mortal. Daí a seqüência dessas perguntas que vou tentando responder até onde não der mais.

Começando como se o sofrimento de meu filho fosse uma singularidade:


- Por que meu filho adoece tanto?- Por que não tem a imunidade forte, não se amamentou.- Nossa culpa?- Vocês fizeram de tudo, mas ele tem gênio difícil.- Culpa dele?- Como culpar alguém que quase não tem personalidade? - Ele trouxe esse gênio de vidas passadas e se manifesta nele feito instinto? - É uma explicação plausível. - Ele está sofrendo, então, pela própria responsabilidade?- E para aprender a ser mais dócil.- Por que não se pode aprender a ser melhor por um caminho sem sofrimento?- O sofrimento não é tão ruim assim. O máximo que pode acontecer é a morte, e a morte é apenas uma passagem para um outro plano em que ele permanecerá com vocês em uma presença diferente. - Não concordo. O sofrimento é ruim. A morte é uma ausência que está longe de substituir a alegria da presença dele. - Isso é sua visão mesquinha. Deve olhar as coisas do alto, com os olhos da eternidade. - Meus olhos são de carne. - Está menosprezando o espírito...

Agora, vejamos como seria o diálogo considerando que o sofrimento dele é quase uma regra da infância, afinal, as crianças menores adoecem cerca de 8 vezes ao ano. 


- Por que as crianças adocem mais fácil que os adultos?- Um corpo que ainda luta para se estabelecer na existência.- Por que elas não vieram à vida apenas quando estavam completamente maduras?- O corpo da mãe não suportaria tamanha espera. - Por que o corpo da mãe não é forte o suficiente para tanto?- Porque ele é fruto de uma cadeia sucessiva de conquistas que favoreceram cada vez mais as melhores formas de vida. No momento, ainda não está na perfeição. - Os animais parecem, nesse ponto, mais perfeitos que a gente. Uma tartaruga sai do ovo e já vai para o mar, sem educação alguma e já pronta para ganhar a imensidão. - Não sem desafios. Há os predadores sempre no caminho que correspondem, no universo humano, aos micróbios que lhes infectam. - Por que nossos caminhos não são perfeitamente livres para viver, sem predadores?- Porque vocês têm necessidade deles para crescer, do contrário, a inércia tomaria de conta. - Por que já não nascemos dotados de vontade incorruptível para o bem?- Onde estaria o mérito, então?- Por que as faculdades que temos devem ser conquistadas com suor, com mérito? Por que não estão gratuitas em nosso ser desde o início?- Onde estaria o mérito, então?- Por que tem que haver mérito?!- Porque Deus quis!

E, então, você deve conhecer uma clareza sobre o Espiritismo. Não é uma doutrina que nos dá todas as respostas, apenas algumas respostas a mais, ou diferentes. A angústia persiste para qualquer espírita que não feche os olhos (e o coração) para os males ao seu redor. Que não se acalme tanto com o "Porque Deus quis" ou "Porque tinha de ser assim" ou "Porque a reencarnação...". Daí, a necessidade, não de querer saber de tudo, mas de aprender a lidar com a própria ignorância, limitação, mortalidade (no sentido de percepção obtusa, distanciamento da nossa inteligência ao eterno das coisas), pequenez, dependência, etc.

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