O momento para o Brasil é de pesar. Um surto de malformações fetais onde se predomina a microcefalia desespera a população e, para piorar a história, o Nordeste é vítima da maior parte dos casos, superpondo esse sofrimento ao da seca. As notícias sobre os agravos aumentam e vazam com a leviandade dos boatos.
Venho aqui para tentar pensar qual o motivo dessa tragédia entre nós. Vou elencar algumas correntes de pensamento espírita que provavelmente fundamentarão explicações daqui em diante nos relatos mediúnicos, esperando que algum me surpreenda e fortaleça-nos ainda mais.
A tese das expiações evolutivas ou das dores do parto
Um surto que acomete populações inteiras pode ter relação com uma leva de Espíritos reencarnantes, cujo tempo para a progressão moral se finda no avançar da hora da maturação do planeta. A humanidade, nestes últimos séculos, se ressente das dores de um parto que custa a acabar, cujos momentos de seu curso se refletem na eclosão de violências, no escancaramento de vícios e corrupções, e, agora, na materialização de meios propícios para a vivência de dores de resgate e aprendizado.
Parteja-se aqui um mundo melhor, entregue em breve às luzes de um descanso de regeneração para o corpo social sofrido.
Sobre o caráter dos Espíritos envolvidos
Quando carregados de escolhas ruins, estas fragilizam seu perispírito, órgão espiritual que plasma o corpo físico, fazendo com que as malformações emerjam. As limitações extremas do corpo conduzem o Espírito a um aprendizado de seus movimentos interiores, de suas emoções, e mesmo os pais e familiares passam a ler as lições trazidas pelas próprias vulnerabilidades.
Acontece de grandes almas escolherem reencarnar em um corpo débil. Almejam mais iluminação ao sofrerem com as ilusões da dor. Pensam também em se engajarem em contexto de aprendizado para os pais, sendo instrumentos para tanto.
Ocorre de igual modo que pais abnegados tenham escolhido receber Espíritos em situação de resgate expiatório, e, assim, acolhem aquele sofrimento com devotamento ímpar.
Sobre a "culpa" da natureza
O Espiritismo tenta mostrar que a natureza não é nossa inimiga. Uma superficial visão ecológica nos faria entender que os ciclos de vida e morte são inevitáveis, que as doenças são caminhos possíveis. A imortalidade da alma nos deixa estagiários destes processos.
É verdade, porém, que viemos, com nossa tecnologia, alargando vários limites da natureza. Algumas dessas nossas tentativas descambam em não menos naturais desequilíbrios que nos convidam a empreender melhores respostas.
Não se defende o crescimento zero, mas o crescimento bem guiado pela inteligência e pela ética a fim de tornar o desenvolvimento o mais democrático possível. Somos destinados a fazer imperar o cosmos sobre o caos, mas nunca em benefício de uma oligarquia olímpica. As tentativas que se direcionam para o privilégio são corrupções da nossa missão e sempre tendem a desandar.
De outro modo, assim como em pequena escala o Espírito é responsável pelo origami do corpo, em larga escala, nossas ações como humanidade se refletem em tudo que nos é considerado meio de existência. Está perfeitamente conforme à cosmovisão espírita pensar que as catástrofes naturais possam refletir o estado de espírito dos homens e mulheres, formando bolsões de miasmas que se precipitam sobre nós o que, aos tempos do Egito antigo, foram considerados como pragas, e que, todavia, tinha menos a ver com a ação direta de Deus do que com a repercussão dos nossos atos sobre o mundo.
A missão do Brasil
Certa corrente do pensamento espírita imagina ser o Brasil um grande acolhedor das práticas do Evangelho. E, como ele tivesse sido destinado por Jesus para acolher os aflitos do mundo, é provável que alguém nos fale que os Espíritos envolvidos em crimes de outras nações estejam sendo destinados para compor nossas novas crianças cujos corpos débeis servem de poderoso cadinho para as transformações viscerais do espírito imortal.
O que todas essas teses apontam é que não devemos vestir a túnica dos coitados do mundo, que o desespero deve ser convertido em trabalho, que o amor pelo próximo e o acolhimento dos debilitados deve ser, mais do que nunca, a tônica de nossos corações.
Leia também:
* O comentário que faço à contribuição de leitores desse assunto: link
** Uma mensagem de consolação escrita por um leitor endereçada à família vivendo com a situação da microcefalia: link
*** Outros diálogos que andei tendo com leitores deste blog: link
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