sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Jesus é Deus? (Parte II)

     Que Deus existe, por argumentos ontológicos e silogismos metafísicos, não há como negar. No máximo, nada poderíamos falar por não ser de nosso alcance. Mas, na metafísica da cadeia das causas, claro que tudo se origina de uma causa primeira, os movimentos, de um primeiro motor imóvel. O salto da fé está em que a causa primeira também tenha se tornado homem, sendo ela e ele um só e a mesma pessoa sem desfigurar a ideia da unidade.

    Há outros desenrolamentos da fé católica que poderíamos resumir assim: 

    - Se a Verdade é criadora, é Deus. Se Ela se importa com você, é o Deus dos judeus. Se se importa com você a tal ponto de ter se tornado homem para te salvar, é Jesus, o Deus dos católicos.

    Em sendo verdade, torna-se um imperativo apascentar as pessoas para esse Jesus, com todos os sacramentos perpetuados pela igreja nos últimos dois milênios. E que se deixe de lado as noções de energia cósmica, chakras, reencarnação, diálogo com os desencarnados, astrologia, pois basta ao cristão os sacramentos de conexão com Deus. 

    Se você for católico, e não tiver o corpo de Cristo em suas veias toda semana, não lhe entendo. Isso é o máximo da comunicação com Deus: Ele se dividir ao infinito, não mais se fazendo homem, mas se fazendo hóstia, para ter com você no seu corpo.

    Todavia, não o sou. E, apesar da minha crença infantil da obviedade da negativa ser abalada com tamanha fé de tantos luminares, o máximo que consigo alcançar é isto:

  1. O Espírito ascende por vias multimilenares até um ponto que se distingue qualitativamente da humanidade como a vemos hoje, simiesca.
  2. Aos poucos, como o bebê que enxerga a mãe, divisa seus contornos, a vê de fato e por inteiro. 
  3. O momento de visão integral de Deus e de submissão absoluta à Sua vontade lhe torna um Cristo. 
  4. Houve apenas um Cristo na história da humanidade: Jesus. 
  5. Pela teoria da mediunidade, o melhor dos médiuns para a manifestação de um Espírito é aquele que tem bagagem suficiente para deixar o Espírito livre para ser através dele, permitindo uma comunicação bem fluida, em palavras e atos.
  6. Jesus foi o médium de Deus na Terra.
    Isso não desmerece ou descarta outras crenças, a não ser aquelas que são contra Deus, na Sua ação amorosa e salvífica para com as criaturas. Creio que permita todos os bons movimentos de busca da alma florescerem e frutificarem, do contorcionismo iogue, subjugando as resistências do corpo, à mendicância franciscana, subjugando as paixões da alma.
    Só que o Espiritismo tem se afastado de Jesus, por achá-lo um grande personagem histórico, mas apenas um personagem histórico, e por ter vários outros homens hoje vivos no mundo que parecem ser tão pertos de Deus quanto ele. Aí é que mora o perigo, onde estão os gurus, onde se espreitam os falsos cristos e profetas. 
    As teses espíritas que expus tiram Jesus da definição de Deus, mas coloca-o lado a lado, ou até mesmo misturado só que em dimensões diferentes. O sentimento de veneração deveria ser o mesmo, e claro que nunca será. É diferente eu venerar o Espírito comunicante e o médium, por melhor que o médium seja. É assim que entendo, sob a perspectiva do apocalipse, ser historicamente melhor deixar Jesus como Deus, e permitir a sua governança no coração dos homens, do que rebaixá-lo a um médium de Deus. 
    É só até aí onde consigo chegar hoje, ao dia 2 de fevereiro de 2024. Uma conclusão pragmática, que não me permite nem mais amor ao Cristo nem ser uma melhor pessoa. Apenas ter uma visão mais sóbria do mundo e de seus fluxos de transformações.