sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A perturbação que os astros provocam em nossos espíritos



Esse post não vai falar sobre a influência que os astros podem causar sobre nossa vida íntima, ou o determinismo que eles pretensamente engendram sobre nossa forma de ser, mas do quão perturbador são as novas revelações da astrofísica para a visão de mundo deste blog. Mas, também para qualquer visão de mundo que tenha o infinito como fim. 

Estava eu conversando com meu amigo astrofísico que se aprofunda nessa matéria pelas zonas dos Estados Unidos em que mais fervilha as pesquisas desse jaez. Falávamos das leis da termodinâmica (aqui o link da conversa), particularmente da segunda lei que reza assim, segundo expôs o filósofo francês Sponville:

"O segundo princípio da termodinâmica estipula que a entropia, num sistema fechado, necessariamente cresce, o que supõe que, nesse sistema, a desordem tende ao máximo: é o que confirmam a história do universo (salvo a vida) e o quarto de nossos filhos (salvo quando o arrumamos). O sol e os pais pagam a conta." 

Entropia seria a medida da quantidade de desordem de um sistema. Dizer que qualquer sistema tende ao crescimento de sua entropia é dizer que ele se desorganiza na medida em que evolui. É o que confirma, também, o nosso ambiente de estudo, que, na medida em que o vamos utilizando, a desarrumação toma de conta. Salvo quando paramos para arrumá-lo. Esse exemplo é bobo. O outro exemplo é que é magnânimo e me causou perturbação: "é o que confirma a história do universo". Isto é, o universo, toda essa ordem que conhecemos ao nosso redor, está se desorganizando, a tendência seria a desordem suprema, na prática, o fim, o apocalipse.  Isso dá razão a todas as teorias do fim dos tempos e de julgamentos finais (quando se acredita em um Deus-juiz). 

Meu amigo tenta ponderar na teoria, falando sobre a máquina térmica ideal, que seria o agente que conseguiria repor a ordem na mesma medida em que a desordem surge: um pai sempre a postos a reorganizar o quarto do filho, sem desgaste de si. Todavia, assevera, que essa máquina tem uma "eficiência inalcançável". Portanto, até onde conhecemos, "difícil escapar da segunda lei". 

Como isso muda a concepção apocalíptica que eu acreditava ser a do Espiritismo?

Eu acreditava que o trabalho no Universo era incessante. Assim como Deus, nunca pararíamos de trabalhar pela evolução do Universo. Claro que em ordens diferentes. Quando nós, Espíritos simples e ignorantes, chegássemos à máxima altura, complexos e sábios, retornaríamos a fim de ajudar os que ainda estavam submetidos ao erro. Esse ciclo seria sem fim. A segunda lei da termodinâmica diz que isso um dia pára. 

É como se o Universo tivesse um termo. Fosse um livro de história com página final. É o que meu amigo chama de "seta do tempo". Apenas podemos pensar em seta se ela aponta para alguma coisa, no caso do tempo, o seu próprio fim, a máxima desordem ou, o fim dessa era a que denominamos Universo, Cosmos, enfim, esse conjunto de leis, forças e matéria a que somos submetidos. 

Não é mais a pergunta o que há além da morte que cutuca a curiosidade, mas o que há além do Universo? Pergunta mais metafísica não houve nesses últimos tempos para mim. 

Qual a contribuição que isso traz para o nosso cotidiano?

Mais humildade. Até agora importa saber que essa vida aqui não finda. Prossegue além da nossa próxima morte. Que o trabalho continua e que, verdadeiramente, retornamos com novas luzes e amores para ajudar quem ainda está por se iluminar e aprender a melhor amar. Adianta pensar no fim dos tempos que está lá no infinito? Por ora, cuidemos de nos cuidar uns aos outros nestes momentos vizinhos, que já são uma eternidade para nossa percepção. É o melhor a fazer. 

Em outro post quero falar um pouco sobre o que meu amigo desprezou por ser uma ninharia em relação a escala do universo: o surgimento da vida. Ninharia que discordo. A vida, esse complexo surpreendente de que somos dotados, não é de forma alguma desprezível. Ela, simplesmente, manifesta a outra face do Universo que pode dar sinais do que há para além dele.  


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