domingo, 7 de janeiro de 2018

O novo entendimento de santo

 

Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?“Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão.” (O Livro dos Espíritos, pergunta 932)

Pode parecer estranho falar em novo entendimento de santidade, já que esta participa daquelas categorias que se subsumem no divino, e este seria a invariância por excelência. Mas, é isto mesmo, o divino é invariável, porém a santidade é ação humana impulsionada pelo divino. E, no que tem de humanidade, está submetida ao processo histórico. 

O que há de eterno, por outro lado, é que as várias formas de santidade que se apresentaram na história humana são como faces perfeitas de um ângulo de Deus. 

Na idade Média a figura icônica do santo era mais ou menos aquela figura monacal, distante da vida enraizada no mundo, trabalhando desde a madrugada entre preces e mortificações para remediar o pecado de seu corpo. O espírito deveria se render a Deus. 

Francisco de Assis foge à esta imagem, talvez, apenas pela distância corporal com o mundo (embora em espírito ainda fosse um estranho) e pelo aspecto lúgubre das mortificações (já que era um bobo alegre de Deus). 

A cultura do renascimento traz outras formas de enxergar a virtude. A mais cultuada era a da audácia de conhecer coisas novas. Era o retorno do heroísmo clássico, transmutado pelo espírito do cavaleiro medieval, rumo às exigências de um mundo que crescia exponencialmente a olhos vistos. A África era margeada, as Índias descobertas, a Mongólia desvendada, as Américas inauguradas aos olhos do europeu. 

Como deve ser o novo santo?

Não pode mais viver em um mosteiro. Deve participar do mundo. A riqueza que vai acenando em todas as partes aponta que o paraíso talvez ainda estivesse por aqui, e não perdido em uma transcendência qualquer cercada por arcanjos furiosos.

Como toda verdade revelada, foi corrompida. A insânia humana de conquista quis subjugar o mundo, todas as culturas que se descortinavam, à sua forma de ver. 

Pensam os espíritos corsários que Deus lhes havia dado novas terras para que delas fossem proprietários, ao ponto de fazerem o que bem entendessem por lá. Engano. As novas terras eram novos ares para sanar as chagas de seres que há muito vinham mergulhando a história em sangue.  

O novo santo nestes tempos de mundialização deve ser um que não ignora o chamado de Deus para assumir o mundo. Amplia sua visão de irmão para além da gleba, do clã e da ordem. Sacrifica seus rituais em favor do necessitado. Reencontra Deus para além do santuário. É aventureiro como todo santo deve ser, já que sair de si para encontrar Deus, em qualquer época é arremessar-se em um mar bravio a nado.  

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