sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Ciência como denúncia contra o demônio



Por que tanta crítica e desconfiança tanto na filosofia quanto na ciência?  Por que tanta rigorosidade metódica para extrair a verdade dos fenômenos? Por causa do discurso demoníaco.

Talvez você dissesse: "não, é pelo soberano bem, pela felicidade suprema". E nada disso, nem o soberano bem, nem a felicidade suprema, não fariam sentido suas buscas se não houvesse o demônio. 

Não estou falando necessariamente de uma entidade antropozoomórfica que espreita a queda do homem, mas sim de tudo o que espreita a queda do homem. 

Se de um lado a tradição cristã colocou Deus como Aquele que preparou para seus filhos o paraíso, de outro, enxergou uma divindade menor que serpenteia a natureza humana calcando sua perdição. São duas forças metafísicas ativas: uma oferecendo a salvação, a outra, o contrário. 

É mais condizente com a realidade circunvizinha entender estas duas forças como existentes do que definir uma pela ausência da outra. O holocausto nazista não se sobressaiu em crueldade pela mera ausência de democracia.   

O que seria a força demoníaca, então? Todas estas ações com força própria que levam o homem ao mal: a trapaça, a mentira, a ganância. Não entraria aqui o engano, por exemplo, pois este não é uma força ativa, mas o deslize de alguma força. 

A filosofia e a ciência, pois, não se esmeram em extrair verdades da pedra apenas pelo gosto lúdico de acertar. Elas querem salvar almas, e sabem que uma mentira que se propaga propositadamente como verdade é geradora de morte, merece, pois, ser questionada e desmascarada. Sabe que a trapaça se imiscui entre os fatos, e que é preciso denunciá-la a fim de que não faça vítimas.

Um artifício demoníaco que se incrustou nas ciências humanas foi a defesa de que não há verdade, apenas interpretações. Este subterfúgio permite que o discurso demoníaco seja acolhido como mera perspectiva. As ciências exatas não caem de todo nessa falácia, e é ainda o que nos permite estar vigilantes. 

Eis um fundamento metafísico da filosofia e da ciência que ignoramos, mas sem o qual não podemos entender a energia movente de muitos cientistas e filósofos genuínos.

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