Fui convidado para falar sobre esse tema. Decidi partir das minhas experiências pessoais de encontro com a psiquiatria.
Antes disso é preciso deixar explícito o que acho que devemos ter em mente ao tentar o diálogo com estes assuntos.
- Não julgar;
- Amparar sempre;
- Não querer ser o salvador das pessoas;
- Respeitar o momento de cura de cada um;
- Os remédios são importantes, mas não suficientes;
- A cultura influencia, mas não devemos culpá-la de todo;
- Somos seres imortais e responsáveis pelos nossos movimentos de cura e adoecimento
- Uma vida não basta para pensarmos sobre estas questões;
- Jesus está bem ali para o milagre, mas espera nosso despertar.
Dito isto, minha fala se constrói em torno de três momentos, que são minhas próprias aproximações com os transtornos psíquicos.
No primeiro narro as imagens que guardo de certo homem com retardo mental motivo de chacota e insultos das crianças da cidade pequena onde me criei. Dele surgiram minhas dúvidas sobre "como é possível doenças da mente que nascem com as pessoas?". A reencarnação me ajudou a formular repostas. Essa aproximação teve um caráter apenas intelectual, e distante.
A segunda aproximação refere-se ao meu encontro com certa menina que foi do meu círculo de colegas na escola e que, então, estava devastada pelo sofrimento psíquico, internada em um hospital. Pela proximidade e semelhança, ela me fez pensar que poderia ser eu em seu lugar. A pergunta que nasce então é "o que aconteceu para que não fosse?". A reencarnação surge ajudando a explicar a questão em termos espirituais, mas também expliquei as companhias que podemos trazer de outras vidas, vingadores de outrora. Não que eu tenha um passado ilibado ou isento de desafetos, mas aparentemente meus desvios não incidiram no império da mente, não mais, não por ora. Essa aproximação teve um caráter um pouco mais emocional, tocou algo de mim, mas ainda não o que me é central.
A terceira é quando definitivamente o transtorno psíquico me bate à porta, tomando pessoas que amo de assalto. Assim, passo a testemunhar a luta, a angústia, o desespero de quem vive com as doenças contra as quais os psiquiatras se esforçam. Ainda mais quando os remédios são vãos, e a escuta terapêutica, impotente. Essa última aproximação toca no íntimo, permitindo que eu tenha uma noção mais justa do que é o sofrimento mental.
Essa espiral de aproximações entendo ser mais fiel do que simplesmente tentar a pureza do conceito e a adequação das palavras: do int-electo ao ínt-imo.
Da última aproximação, conduzo a reflexão cristã de tentar fazer ressuscitar a esperança apesar de qualquer escuridão, já que esse foi o caminho do próprio Cristo. Talvez essa seja, na verdade, a condição humana de aquisição de sabedoria, ou do Reino dos Céus. Ninguém que almeje a cura, que é outro modo de dizer a salvação da alma, pode se eximir de enfrentar seus próprios abismos.