terça-feira, 22 de janeiro de 2019

João de Deus: uma chaga evitável



Qual o caso que tenho em mente quando escrevo isto:

- Um médium próximo ao espiritismo* (mas que se dizia católico?) que se dedica à medicina alternativa denominada cirurgia espiritual, internacionalmente conhecido e visado. Cobra certo preço em meio ao processo. Recentemente caiu sobre ele acusações de abusos sexuais, centenas, provindas de todo o Brasil.

Sobre essa imagem, trago de volta os conselhos do Prof. Allan Kardec com minhas palavras.

Centro espírita tem que ser pequeno. Por quê?
- Porque assim as pessoas podem se conhecer melhor, estudar com mais conforto as obras fundamentais para o engrandecimento moral, bem como engendrar um processo de análise das comunicações mediúnicas que receberem com mais cuidado e menos melindre, já que se tratam de amigos. Assim se tem um processo de vigilância que as previne de as discórdias tomarem proporções destruidoras para o grupo.

E se houver discórdia?
- O discordante, se não arrastar a todos pela verdade de sua palavra, funda outro centro espírita além. E se discordar dos pontos tidos como fundamentais na definição do espiritismo, funda novo movimento com outro nome.

É temerário o médium ter um lugar de destaque no centro espírita. Por quê?
- Porque suas comunicações são o objeto de estudo e não o núcleo fundante de novos dogmas. Se ele for o centro, o líder, o sacerdote, quem estará acima dele para criticá-lo, guiá-lo em direções mais sãs? Como saber se o que vem dele é de Deus se sua palavra for a última?

A humanidade precisa do contato com o transcendental pelos mais diversos canais. Médiuns são indispensáveis!
- É verdade. Quando éramos aqueles que errávamos no deserto esperando um profeta, muitos eram os que jogavam prodígios e milagres sobre a população. O profeta verdadeiro se sobressaía pelo seu exemplo santo, esmagado pela sombra de Deus. Hoje estamos em uma sociedade em que todo autor de milagre é glorificado em algum X's Got Talent. A sociedade do espetáculo.

Ainda Kardec: a mediunidade é apenas a entrada da doutrina. Quando se é convencido da realidade do mundo espiritual, devemos partir para as consequências morais.

Mas, os milagres de cura são bem diferentes. Eles são o poder de Deus descendo para aliviar os aflitos.

- Qualquer alívio ou mesmo cura é temporário se não houver transformação moral efetiva. Não é demais insistir: fenômeno mediúnico, qualquer que seja, é apenas ignição.

Pode-se cobrar pela graça distribuída?
- Não, já que é graça. Isso previne o charlatanismo. De onde virá a renda que sustenta o que quer que seja (uma cidade inteira?!) quando a graça da forma que veio, isto é, espontaneamente, desaparecer? Resposta: de fenômenos forjados.

O perigo do exercício da mediunidade à la João de Deus já estava previsto nos primeiros anos de doutrina espírita. O que acontece com um médium que é o foco das atenções de milhões de adoradores?
- Envaidece-se, certo dia suas vestes são rasgadas, revela-se a carne humana, e cai.



*PS.: Amigos comentando que João de Deus se dizia católico e não espírita. Porém quando digo próximo ao espiritismo, me refiro a relações ainda que indiretas que o conectam a nós. Há a denominação de médium, terminologia espírita. Há o fenômeno da cura mediúnica, praticado por outros médiuns que se denominam espíritas de fato. Há imagens de toda sorte que revelam certo parentesco que ele deixava transparecer conosco.


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