segunda-feira, 8 de maio de 2017

Desistir da religião pela incoerência da igreja



Vi vários amigos se distanciarem da religião porque encontrou incoerência nos atos dos indivíduos que compunham a igreja. Isso é compreensível, mas é questionável. 

A ideia é que parece frustrante, para aquele que está se dedicando de corpo e alma para uma religião, que o corpo das pessoas que lhe são referência destoem da alma da doutrina. Em outras palavras, que os discursos estejam separados das ações. 

No cristianismo, contudo, isso é o mais fácil de se compreender. O único verbo que se fez ação (carne), na substância mesma dele, foi Jesus. Todos os outros seguidores, podendo apenas imitá-lo, claro que saem com déficit. Ainda que cheguem a não serem mais eles que vivam, mas o Cristo que viva neles, até lá, muito erro escorre pela sua história de vida. 

Por outro lado, de uma forma geral, a religião dita um conjunto de normas morais que se impõe sobre o indivíduo, provocando neles uma tensão que os conduz a serem mais do que são, ou, se não se tem essa visão de evolução, serem diferentes do que são, homens e mulheres novos.  

É normal que não se consiga ser o que se diz que se deva ser! Não é por isso que se deva parar de pregar os deveres morais. Claro que o testemunho das palavras em atos vale mais do que mil palavras, mas, esse é outro nível.

Perceba que há outro porém nessa história toda. A questão dos deveres morais é ainda mais complexa e bonita do que se pensa. Os deveres morais são sempre algo que escapa do particular, do indivíduo, e aponta para o universal. É o que poderia ser universalmente válido, caso pudéssemos replicá-los nos mais diversos atos. É, também, uma atitude possível, isto é, está dentro das minhas possibilidades. Então, é um dever possível. Todavia, querer que eu - indivíduo particular - seja um sujeito moral universal é, no mínimo, querer esgarçar os limites do espírito. Que o particular coincida com o universal em alguns momentos, não é difícil de vislumbrar. Que o particular se torne universal, é um contra-senso, ou melhor, seria um milagre. É o que, no cristianismo se chamou de santificação, e o que, em alguns casos, valeu estigmatizações. Isto é, no caminho de imitar Cristo não há como não findar em crucificação, no limite.

O desafio colocado pela religião cristã - não tenho tanta propriedade para fazer uma análise nessa profundidade das outras - é o da experiência do absoluto por seres relativos, é o da participação da eternidade por seres limitados. 

É um desafio impossível? Nós, humanos, já demos prova de tantas conquistas impossíveis. É um desafio louvável! 

Não deu certo? Retoma a caminhada e continua. Numa procissão, alguns ficarem para trás não significa que não devamos seguir em frente.  



* Reflexão elaborada em virtude de diálogo com meu amigo, estudante de medicina, Thiago Matos.

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