sábado, 22 de novembro de 2014

Precisamos aprender a nos odiar melhor



Se alguém vem a mim, e não odeia o próprio pai, a mãe, a mulher, os filhos, os irmãos, as irmãs, e ainda a sua própria alma, não pode ser meu discípulo. (Lc 14:26)
Fala pesada. Talvez tenha servido para justificar a vida monástica e as práticas de auto-flagelação que pretendiam uma ascese espiritual com isso. Hoje, vejo que podemos encará-la de uma forma completamente diferente. Kardec já nos dizia que "odiar" para a língua hebraica era "amar menos". Então, seria "amar menos ao próprio pai & cia" do que a Jesus. 

Nestas sociedades pós-modernas em que vivemos, nos incitam todo instante a ser o que somos, nus e crus. Muitas vezes, os canalhas se valem disso para perpetuar sua desonestidade. Não podemos levar essa sinceridade até as últimas conseqüências, mas há um lado bom disso. Temos de convir que não dá para amar todas as pessoas da noite para o dia. Há quem nos pareça intragável. 

Ser discípulo de Jesus é aprender a amar. Mas, não podemos negar que somos seres sujeitos ao ódio, sob pena de sermos discípulos pela metade. Se negamos o que somos hoje, o que teremos para oferecer a fim de ser trabalhado? Então, se temos motivos para odiar alguém, o que proponho é que aprendamos a odiar. Primeiro, que se atirarmos na face dessa pessoa nosso ódio, será um inimigo a mais que teremos na vida e isso é contra-producente. Por outro lado, esconder é se envenenar. Temos que conviver, e ainda que haja choques, ultrapassar as barreiras. As brigas são salutares. Saneiam relações. Precisamos controlar os ventos para não termos temporadas longas de tempestades.

Com o tempo, quem sabe, poderemos ter mais um parceiro na vida ou uma batidinha nas costas dada pelo próprio Deus. "Muito bem, filho!". Para quem não gosta muito dessa visão de recompensa, como eu, deve se contentar em ter diminuído o rancor da própria alma e ter conseguido aumentar a quantidade de alegria no mundo.

Sobre odiar "a sua própria alma", proponho que façamos as mesmas coisas que sugeri para com os inimigos, mas com os inimigos dentro de nós. Sem guerra, mas tentando conviver. Se surgir aqueles pensamentos e impulsos que nos fazem perder amigos, respire, tenha calma, converse com essa sua selvageria e bola pra frente, juntos. Lembre-se que não se pode matá-la sem que saiamos extremamente feridos, também. Controle sua relação com esse lado negro. A reconciliação sem derrotados é a maior vitória que poderíamos oferecer para a glória de nosso espírito.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

As lições espirituais de MEN IN BLACK


Ao final de cada filme da trilogia Men in Black, o autor nos convida a uma reflexão sobre nossa pequenez. Mais precisamente, ele nos propõe uma conscientização. 

No primeiro filme, nos lembra que, em verdade, fomos as espécies que dominaram a Terra, e a Terra apenas, porque em outros planetas, portadores de outras condições históricas, quem se tornou a espécie hegemônica, por exemplo, foram as baratas. Sem contar da principal revelação do filme que é a existência de extra-terrestres camuflados entre nós, induzindo, portanto, uma extremamente sofisticada "exopolítica". 

O final: cada galáxia não passaria de bolas de gude nas mãos de um grande deus brincalhão. Nem mesmo temos a dádiva de termos as feições de deus gravitando ao redor da nossa própria semelhança. 



No segundo filme, nossa galáxia não apenas está em uma bola de gude nas mãos de um grande deus, como nós mesmos temos galáxias infinitamente pequenas entre nós. Mundos inteiros dentro de armários,  e o nosso mundo, ele mesmo apenas um dos muitos engavetados em um conjunto de armários vizinhos. 



No terceiro filme, nos deparamos com um ser que tem sua consciência acessando a quarta dimensão, podendo perceber dimensões do tempo que nos escapam, antevendo infinitas possibilidades de acontecimentos a um só tempo, cuja determinação variam conforme nossas atitudes.

Seu final, contudo, é de uma sensibilidade sem precedentes. Depois de os protagonistas terem revirado o mundo e até mesmo atravessado a linha do tempo para salvar o dia, o nosso habitante da quarta dimensão nos mostra que o ato ultra-heróico de salvar o dia, com todas as peripécias associadas, tem o mesmo peso de manter a paz que o hábito de deixar a gorjeta na pequena lanchonete da esquina. Esse simples ato pode provocar uma revolução sistêmica da mesma magnitude de qualquer malabarismo de super-homem. 




As lições que Men in Black nos deixa são simples e grandiosas:

1. Nada é tão grande que não caiba nas menores coisas;
2. A sua grandeza é um ponto de vista singular no universo - um ponto de vista;
3. Cada agente do universo, por mais mínimo que seja, agindo no universo conforme sua própria vida pede, é responsável por cada máxima felicidade que se instala ou se perpetua. 

São as mesmas dicas que o Espiritismo teria para dar à você, chegando até elas por caminhos diferentes, mas nem tanto!

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Memórias de Vidas Passadas: esquecimento?



Um JOVEM me interpela da seguinte forma sobre o ESQUECIMENTO DE VIDAS PASSADAS:


"Macho, o conhecimento dos espíritos é uma coisa muito bugada, pqp! Pq dá reset toda vez que nasce de novo e mesmo assim acumula."

No que respondo:

Você tem que abandonar essa concepção de aquisição de conhecimento que lhe inculcaram na primeira séria do fundamental. Só é válido o conhecimento para passar nas provas se for o decorado tal e qual o livro?

Conhecimento é muito mais amplo que isso. Quando renascemos, o que fica é o essencial. Não há um esquecimento total. Estamos imersos em uma rede de lembranças que muitas vezes nos impulsiona sem atentarmos exatamente o porquê. Ao sentir o carinho gratuito por uma pessoa, não é gratuito. A repulsa imotivada por outra que você mal conhece, não é sem motivos. Até mesmo a forma singular com que as crianças se portam desde o berço, não é idiossincrasia pura e simples. Já existe todo um caminho prévio percorrido que nos fez (leia-se: nos fazemos) como somos hoje. 

Agora, quer lembrar de data, hora e local? Pode até ser, a isso damos o nome de déjavu. Quer ter lembranças específicas de cenas? São os lapsos. Quer descortinar toda uma vivência anterior? Estes são os caminhos percorridos pelas Terapias de Vidas Passadas

A briga é grande. Cada ramo da ciência, hoje, toma para si a interpretação que lhe agrada dessas palavras que acabei de citar. Mas, a interpretação espírita, se quisermos ser honestos com essa cosmovisão, não prega que ficamos completamente zerados. Obnubilados seria uma melhor palavra. 

Por falar nisso, tenho quase certeza que não nos encontramos por acaso nesta encarnação, e o fato de eu estar conversando com você, fazendo questão de responder à essa pergunta em plena duas horas da madrugada, não tem nada a ver com caridade, mas com continuidade de um diálogo muito antigo. 

Vai dormir, agora! 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

O que é Salvação?



Jesus está bem aqui ao meu lado. Está crucificado, tanto quanto eu. Meu Deus, eu roubei, mas esse justo, o que ele fez? Roubou coração de mulheres, homens e crianças, não foi? Foi. Ainda lembro quando ele passou pelo meu povoado e cochos andaram para o seguir, cegos viram como ele flutuava, surdos ouviram os seus passos. Me crucificaram, sou ladrão. Te crucificaram, mas és rei:

- Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.
- Em verdade...


***

Não sei o que há comigo. Estas palavras me penetram feito encanto. A culpa se dissolve. O arrependimento de qualquer mal não mais pesa, liberta. O sangue que escorre dos buracos que pregaram em mim esfria. O corpo gela. Não o consigo mais sustentar. Não estou mais na cruz. Onde estou? Que lugar é esse? Uma longa estrada se delineia a frente. Meu Deus! Não estou morto, ando! Minhas feridas saram. Outra força move as entranhas. Nunca vi a Torá tão reluzente em meu peito. Os versos de amor me acolhem, me impulsionam. Enxergo irmãos em tudo quando antes era solidão. O que acontecerá comigo a partir de agora? Que sei eu? Me sinto bem...

A verdadeira fé é uma questão de desespero



Contra-censo total o que falei nesse título. Mas, espero que o leitor me entenda. 

Sempre nos falaram que a fé é um ato de espera, esperar, esperançar. O desespero é o oposto disso. É querer agora o que há para querer, imediatamente, pois não se aceita esperar. Porém, a bem da verdade, venho achando desde há muito este tipo de fé uma insolência para com Deus. 

O que podemos esperar de Deus? Muitos ostentam adesivos nos carros dizendo que aquela propriedade foi Ele (o Todo Poderoso) quem deu. E se o carro for roubado? Ora, foi Deus que permitiu, portanto, vale dizer: "Foi Deus que me tirou!". 

Isso vale para todo o resto. Se estamos doentes, não cansam os Espíritos de nos dizer que a doença chega como uma professora. Se vem a cura, é conquista e graça. Se morre uma pessoa amada, é porque estava na hora. Se sobrevive, é porque não era o tempo. Se nasce alguém, é uma concessão divina. Se, logo depois de nascer, ela morre, foi uma necessidade do Espírito e uma provação para os pais. 

Não podemos prever a vontade de Deus! Portanto, não deveríamos esperar nada. 

Viver desesperadamente seria aceitar a realidade como ela se nos apresenta: em sua radicalidade. 

Isso não deve nos impedir de tentar agir segundo a vontade de Deus - causaria menos sofrimento. Não é o que espero de Deus, mas o que Ele espera de mim. Por outro lado, dizem-nos os Espíritos que não devemos nos abster de pedir o que esperamos que aconteça. Pedir pela cura do filho doente, por exemplo. Mas, ainda assim, deve-se pedir, antes de tudo, que nossa vontade coincida com os desígnios superiores. 

Esta fala do Cristo ilustra bem esse conflito profundo:
"Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres." (Mt 26:39)
Em pleno desespero, uma esperança e a fidelidade. 

E, nesse mundo em que estamos, eu diria que o que mais nos define é essa tensão entre querer intensamente algo que talvez não seja o que nos espera de fato. 

domingo, 9 de novembro de 2014

Acabei de participar de uma cirurgia espiritual



O joelho doía há mais de um ano e fui procurar ajuda que não a do tensor, quando me veio uma dor excruciante ao descer uma rampa. A ressonância me apresentou uma fissura de patela. 

Esse post não quer falar se fui ou não curado à cirurgia espiritual, mas das belezas que vi por lá com olhos não-mediúnicos. 

Um terço dos presentes estava ali para se submeter às luzes terapêuticas prescritas pelos médicos do além a fim de consolidar o ato cirúrgico. Profissionais da técnica Reiki dedicavam seu sábado pela manhã para harmonizar o corpo das pessoas em ato de graça. A maioria vinha com suas dores para se valer dos Espíritos que, através de médiuns, tocavam as pessoas em suas inflamações, aqueciam as feridas com as mãos impostas, acolhiam as morbidades para quem a medicina oficial foi negligente ou assustadora. 

Não há cortes. Há uma fé em que a proximidade cura, o cuidado, a dedicação, a devoção. A "médica" não falou nada sobre a fisiopatologia da patela. Apenas:

- Você deve estar muito limitado, não é? - olho no olho. 

Atrás do povo que esperava pela cirurgia, voluntários preparavam o sopão para os menores e os moradores de rua. Crianças se agitavam alegres ao redor. E um pequeno Marcos saiu brincando de dar bom dia para todos os expectantes, chacoalhando as mãos. 

Há o setor das águas. Acreditam todos que elas são imantizadas por propriedades terapêuticas que, quando bebidas, se misturam ao seu corpo doente para restaurá-lo. E há o setor dos fitoterápicos, as preparações de cura de várias gerações que nos antecederam são aceitas em sua verdade. 

Dentro do salão onde aconteciam as intervenções, baixinhas, músicas evangélicas e de padres brasileiros nos convidavam a lembrar da força de Deus. Alguns espíritas abastados talvez sentissem falta de suas músicas clássicas. Eu não. Há músicas evangélicas que marejam meus olhos e as dos padres que acalmam as dores de minha mãe. Elas me evocam a simplicidade e a intensidade de uma religiosidade brasileira. Simples, tudo. Intenso. 

Ao final, nos entregavam um receituário em que estava escrito para não abandonar os tratamentos da medicina material. Das duas uma: A) Ou se deve ter muito receio que nada disso dê certo; B) Ou se deve ter muita confiança no poder de tudo o que lhes falei, defesas que estão essas práticas de qualquer perturbação que lhes sejam estranhas. 

Deixam claro, todavia: Nada sem a fé.   

sábado, 1 de novembro de 2014

Pena de Morte segundo o Espiritismo



Palestra proferida junto aos companheiros do Centro Espírita Camille Flammarion.*

A defesa espírita é que não deve haver pena de morte. Antes de chegar no argumento espírita capital, extremamente simples, decidi passear por outras razões dessa negativa:


1. Sobre os inocentes


Dei o exemplo de inocentes memoráveis, como Sócrates, que preferiu a morte à fuga, falecendo com a consciência do homem justo, e Janusz Korczak, médico e educador polonês que, tendo vivido à época das guerras mundiais, foi condenado, juntamente com as duzentas crianças do orfanato que dirigia ao extermínio na câmara de gás. Sim, o extermínio dos judeus era um tipo de pena de morte. Eles foram considerados culpados por muitos insucessos político-sociais do mundo, segundo a cartilha nazista. 


2. Sobre a verdade


O caso dos judeus chama uma polêmica que ficou memorável à época. Estariam os nazistas errados? Se eles tivessem vencido a guerra, provavelmente teríamos a visão de mundo deles, pois os que pensavam diferente eram também exterminados, selecionando, assim, os melhores - segundo a cartilha nazista. 

Essa foi uma teoria levantada nada mais, nada menos do que por Levi-Sträuss, grande sociólogo da época. De fato, é preciso que a verdade de um valor ou de um julgamento cresça mais do que o da vida humana para que haja razão suficiente para exterminá-la. Qual o valor é o mais certo? Depende da cultura. 


3. Sobre o semelhante


Boris Cyrulnik, psiquiatra francês, nos diz que basta não considerar o outro semelhante para que se dê a liberdade de cometer violência para com ele. Está explicado assim porque matamos tranqüilamente os animais que comemos, ao passo que somos cheios de escrúpulos (tabu) de matar um ser humano. Quem o faz, um dos motivos é, segundo o psiquiatra, porque já não o considera semelhante. É uma outra espécie, é uma outra raça. 


4. Sobre a imortalidade


Aqui é o argumento espírita capital. A pena de morte não deve ser levada a cabo porque... não se morre. A morte de um criminoso gera, bastas vezes, um espírito vingativo, loucura nas famílias, doenças nos implicados, todos eventos funestos que gravitam em torno do tema da obsessão espiritual. 


5. Sobre a igualdade


Melhor do que todos estes argumentos que citei, o que mais me encanta é o de Jesus, mesmo. Por que não devemos matar um criminoso? Porque somos igual à ele. Ou atire a primeira pedra. Vá lá! Confesse! No fundo, no fundo, queremos matá-lo para ver se matamos ele em nós. Mas, não mata. É preciso que aprendamos a nos reconciliar com os inimigos externos a fim de apaziguar nossos próprios demônios.  

*Se você quiser ouvir a palestra por inteiro, ela está temporariamente disponível clicando aqui.