domingo, 13 de janeiro de 2013

O Espiritismo e a nossa Mortalidade


Os espíritas não se tornam alienados por viverem pensando sua imortalidade? 

Sobre essa pergunta mil pensadores se inclinaram. Não necessariamente analisando o Espiritismo, mas o duelo infindo entre mortalidade e imortalidade.

Eloqüentes e clássicos discursos existem nas obras de Kant, alertando para as ilusões da Metafísica, e nas obras de Nietzsche, reinventando o conceito de niilismo. 

E para começar diálogos com a filosofia, a que esse blog se propõe, devemos por o primeiro pé nas obras de Homero, ou atribuídas a ele, as tais Ilíada e Odisséia. Particularmente sobre a figura do sedutor Ulisses. 

Vindo da Guerra de Tróia, vitorioso e sujo de sangue - pois não contentes de vencer, os gregos decidem trucidar os troianos - Ulisses é castigado por Zeus, em virtude dessa desmesurada crueldade, com uma volta não pacífica a Ítaca, seu querido reino. Enfrenta mil desventuras, entre monstros e sereias. Mas, particularmente, a experiência de Calypso, é a que dá a maior ilustração ao tema que nos dispusemos enfrentar. 

A ninfa, apaixonada por Ulisses, se utilizando da sua potência divina, promete ao herói imortalidade e juventude se ao lado dela permanecer seu amante para todo o sempre. E o guerreiro aceita a proposta por um tempo até que o pranto de não estar em seu reino, no seu lugar, toma conta de seu peito.

Ulisses rejeita a imortalidade juvenil e as doçuras do acolhimento do corpo daquela divindade para ir em busca do seu reinado, mas também, da velhice (que traz a angústia da própria morte) e da reunião familiar (que traz a angústia da morte dos que estima). Por que tal escolha poderia ser considerada mais certa, louvada como mais sábia do que a outra? E, olhe, que definitivamente não era uma questão de fascínio e mentira de uma divindade traquinas. Calypso estava realmente disposta a ofertar ao seu amante o salvo-conduto para um idílio eterno. 

O que a sabedoria grega dos mitos antigos nos quer contar é que vale mais a assunção do nosso papel no seio do universo (reinar em Ítaca) do que o desfrute da miragem de uma vida que não nos pertence (amar Calypso). Mais vale morrer tentando cumprir a missão que nos cabe aqui e agora (voltar a Ítaca), do que viver a imortalidade que não tocamos lá e depois (permanecer para sempre na ilha da ninfa). Mil vezes viver o que vim para viver, do que já estar morto preso a uma certa imortalidade, perdida minha atual identidade, meu norte de hoje, meu trabalho desta vida.  

- Mas, como assim? Então, segundo a mais clássica fonte filosófica, é vã toda a pregação que os espíritas fazem sobre sermos imortais?

O tema promove um livro. E me basta, no momento, a façanha de apenas iluminá-lo. Peço para que o leitor amigo tenha apenas a graça de meditar sobre as seguintes passagens:



  1. "Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos"(Mt 8:22)
  1. "O anseio de morrer para ser feliz é enfermidade do próprio Espírito."(Emmanuel em Caminho, Verdade e Vida)
  1. "Não consiste a virtude em assumirdes severo e lúgubre aspecto, em repelirdes os prazeres que as vossas condições humanas vos permitem."(Um Espírito Protetor
  2. em Evangelho Segundo o Espiritismo)

Voltaremos ao tema, sob novos prismas. 

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