terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O Espiritismo é minha religião e Eu me sinto cristão


Meu amigo Saharoff pergunta se o Espiritismo é religião e, em ele sendo, se é cristão. 

Aparentemente o meu título já responde as perguntas. Mas, por trás disso há muita discórdia no reino dos termos. 


Existem mil referências de definição que poderiam enquadrar o Espiritismo como religião e outras tantas que o poderiam dispensar desse epíteto. Mas, eu gosto de usar o que Allan Kardec, aquele que deu o ponta pé inicial em termos de Espiritismo, falou sobre o assunto, em um discurso que proferiu perto do final da vida:


Sobre religião: "(...) então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por isto, porque é a Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos."


Antes de falar isso, ele tinha feito três páginas de discurso para deixar claro o quanto "o sentido filosófico" (ou essencial) da religião era o de estabelecer laços de fraternidade e comunhão de pensamentos mais do que de estar sob o teto de uma mesma liturgia. Contudo, se assim o fosse, muita coisa seria religião, não é mesmo?


Então, ele completa: "Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de não haver senão uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto."


Aí fica difícil responder o segundo ponto, já que o Espiritismo é e não é religião. Mas, é interessante o conceito que Kardec dá de Espírita Verdadeiro em O Livro dos Médiuns: "Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as conseqüências." Diz ele que "estes são os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos". 


No Dicionário Filosófico de André Comte-Sponville há o seguinte verbete sobre Cristão: "Não é apenas um discípulo de Cristo (senão Espinosa seria cristão). Ser cristão é crer na divindade de Cristo."E, se assim o for, seríamos, os verdadeiros espíritas, como Espinosa o era. Mas, como não acreditamos na divindade do Cristo, é difícil as igrejas cristãs oficiais nos considerar da mesma forma. 


Fica aqui então, ao final, o que eu sinto, longe de todas as contendas. O Espiritismo é minha religião, porque, para mim, religião é onde eu coloco meu coração. E é exatamente dentro dele, desse quarto que  carrego dentro do peito, que me ponho a falar com Deus. Mas, digo ainda aqui, há amigos queridos que não são Espíritas e que me sinto em igreja da mesma forma junto deles. Acho, então, que é porque, na verdade, meu coração é minha religião. E como as palavras de Jesus conseguiram entrar nele de mansinho, sem muito alarde, não tenho como não me sentir discípulo de Cristo. 


Muitos espíritas, senão todos, pensam assim. 

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