domingo, 23 de outubro de 2016

Diálogo com um jovem pensando em suicídio



Sinto-me deslocado. 

Essa sua sensação de já não estar entre nós, ver tudo passando como um filme chato, seus sentimentos ilesos ao que acontece conosco, é parte dessa verdade de que você é um Espírito para além deste corpo. Seu Espírito parece estar deslocado. O corpo emite sinais ao Espírito distante.

Se isso fosse apenas um vôo, te pouparia da minha fala. Mas, se anda gerando vontade de morte, não posso me abster de tentar te convencer do contrário. Toda vontade de morte é doença. Precisamos ir em busca do que te devolve vida, potência de existir.

Por que insistir em mim? 

Conheço seus familiares. Estão aflitos. A aflição em perder alguém é uma das formas de amor. Um amor que se acalma com a presença do ser amado. Sofre com a distância. Há, de outro modo, nas nossas crenças (e na comunicação dos Espíritos), a ideia de que não é boa coisa tirar deliberadamente a vida. O estado de alma depressivo se perpetua depois da morte. Esse inferno na consciência permanece e queima na pele do Espírito como se estivesse em carne viva.

Por que Deus fez um universo com sofrimento?

Não sei. Sério. Não sei. Ainda não consegui entender completamente a cabeça de Deus. E, sinceramente, não sei se conseguirei nos próximos dias. O universo que Deus fez é este aí que estamos vendo. Há belezas estonteantes que a sua visão cinza atual não enxerga. E há a feiúra que sua visão acizenta mais do que deveria. Queria te convidar a pintar os olhos. Não se pode colorir a feiúra, mas há quem peleje por saná-la. Agora não. Mas, podemos vir a ser destes últimos, um dia.


Diálogo com o Espírito que o induz ao suicídio


Você não aparece. E se mistura nos pensamentos do rapaz como se fosse os dele. No início até poderia se distinguir, mas hoje a relação que você conseguiu construir é tão emaranhada que o pobre pensa serem uma só e a mesma pessoa.

Não posso te censurar. Sinto que vocês dois se amaram muito em outra vida. Um amor traído, não foi? Hoje virou vingança. Ainda é amor, não é? Mas, adoecido. 

Se ao menos ele acreditasse em reencarnação e que os Espíritos podem atuar em nossa vida, eu poderia convencê-lo a lutar contra você ou te perdoar e pedir que se pacifique. Mas, não acredita, e pensa que tudo o que chega no coração vem dele mesmo. Sente-se mau por pensar em se matar, em se cortar, em se intoxicar. E ser alguém mau o fere ainda mais do que a faca. 

Por que Deus permitiu que nós nos reencontrássemos e déssemos seguimento a essa simbiose de morte? 

Suponho que Ele queira ver os filhos se entenderem. Que os nós sejam desatados por nós. 

Vê. Você não é um demônio. É apenas alguém precisando ser amado. E será. 

(Continua)


* Texto baseado em um conjunto de diálogos com pessoas em sofrimento atendidas ao Lar Espírita Chico Xavier.

  




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