domingo, 8 de dezembro de 2013

As pessoas precisam da gente, também




É um tema complicado de se falar nesses tempos em que tentamos ainda cicatrizar nosso eu das negações a que o entregamos nos idos dos cilícios medievais (ainda!). Quando a doutrina de Jesus era encarada como um desprezo ao mundo, ao corpo, ao prazer. Pelo menos em certa visão hegemônica.

Hoje, portadores da síndrome do messias se deitam nos divãs tentando recuperar o amor de que se esvaziaram para entregar aos outros. Em um processo natural, como acontece com todo aquele que é sugado, murchamos. Lidamos com o desafio de fechar as feridas para voltar a amar da forma certa. Caímos na tentação de voltar a amar apenas a nós mesmos. Não que amar ao outro não possa ser amar a si, também. Mas, é que há algo mais profundo em amar ao outro como o outro que ele é, e não o reduzindo a mim, um espelho, uma cópia. Acredito que a aventura - boa aventura - que Jesus propôs foi a de conseguir enxergar um palmo na nossa frente e expandirmo-nos para além, isto é, para o próximo, sem perder o contato conosco.

Motivou-me falar sobre isso ao ver meu filho, recém-nascido, devolver brilho a olhos foscos e sorriso para bocas tristes. A princípio temi que fosse um peso grande demais, já para um bebê, ser o motivo da felicidade de alguém. Acho que tive um pouco o sentimento de Maria ao ver seu filho entregue aos apóstolos, aos leprosos, aos cegos, aos aflitos de toda sorte. Cada sofrimento minguado parecia apontar o martírio terrível de que padeceria no fim.

Ela não podia fazer nada. O aprendiz de carpinteiro nazareno se entregava inteiro para aquela missão de arrebanhar ovelhas. Que poderei fazer eu? Ainda que esse pequeno venha a sair do berço e correr em prol de enxugar outras lágrimas que se confundirão com as suas, é escolha inalienável. Se mais tarde quiser repousar a fronte em minha barriga gorda e deixar os soluços expulsarem as dores que muito tomou para si, me restará apenas deixar-me ser banhado. Se esse meu redondo jeito de pai não for suficiente para resolver o que quer que seja no seu íntimo, os terapeutas da mente terão vagas para lhe escutar diligentemente, como o fazem para comigo. Se, ainda assim, lhe faltarem forças para seguir no cumprimento de sua missão, o que ele sente ser ela, as muitas igrejas cristãs e os lares espíritas estarão de portas abertas para que ele se alimente na mensagem do bom sacrifício evangélico, do nobre amor.

Esse texto é uma mensagem que endereço para o seu futuro:

- Não esqueças que estou contigo, e Jesus, com todos nós, ainda e para sempre!

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