sábado, 23 de novembro de 2013

As utopias na criação de nossos filhos



Nesse 1 mês de pai, tive, pelo menos dez crescimentos, vou compartilhando alguns. 

O primeiro foi quando meu filho deixou de mamar. Aqui não cabe, definitivamente, esmiuçar as causas. A todo instante há especialistas que se aproximam e sugerem uma explicação, lançam sua hipótese como a última brilhante. E mesmo no banco de leite em que fomos atrás de receber ajuda ao vigésimo dia de insistência, quando não só desciam gotas de leite, mas de lágrimas da minha amada esposa, somos recepcionados com um:

- Está dando suplemento?
- Tive que começar algum.
- Está explicado!



Simples como mágica. Vinte dias de esforço ininterrupto da mulher mais querida e guerreira que tenho hoje em minha vida destroçados por um saber vultoso de uma pergunta qualquer. Sem contar da ditadura da mama que faz com que todas as pessoas olhem torto para aquela-que-não-conseguiu-amamentar-o-filho

O fato é que não conseguimos. E fiquei preocupado se esta já não seria nossa primeira falha de pais, o primeiro trauma, o primeiro nó e, portanto, a já derrocada de nosso projeto de fazer desenvolver um ser humano perfeito. 

Dei-me conta da eugenia dessa decepção quando percebi este último ponto. Se nós morrermos aos setenta anos, na pior das hipóteses, serão mais quarenta anos de uma vida que estamos tentando fazer vingar. Ainda não temos nem tudo isso de vida e já me preocupo com o que não consegui fazer neste dia, como se fosse irremediável para sempre. 

Relembrei meu pai, que santifiquei após a morte, mas que voltei a enxergar suas falhas e os ruídos do nosso relacionamento em me vendo, agora, pai. O quanto nós aprendemos nos dias em que fomos cometendo erros juntos durante sua permanência no corpo! E minha mãe que, viva e doente, me lança desafios semanais para ajudar o crescimento do espírito.

Que perfeição esperar de nós? Ainda temos menos compaixão do que o mundo precisa. Ainda mais egoísmo. Ainda a raiva, o menosprezo e a indisciplina. Ali, não aqui, o amor sem medidas. 

O pequeno veio com desafios. Eis o que é verdade. Não preciso entrar nos exemplos dos dons inatos daquela garota bailarina, deste menino pianista, daquele outro matemático. Já começam as diferenças no peito da mãe. Uns aceitam tranquilos o que a natureza lhes preparou como alimento durante nove meses. Outros, nem tanto. E outros ainda, de forma alguma. Vidas escondidas em um corpo perfeito que deixa aflorar os incômodos da volta a carne. 

Estamos tentando um equilíbrio sobre o fio da vida, bêbados de amor. Desatar os nós em pleno espaço, enquanto esse grande cometa Terra segue seu curso errático pelo universo das explosões, no escuro de tudo. 


Por que seu choro é tão sofrido no momento das cólicas, meu filho, enquanto o filho do vizinho só geme um pouquinho? Quem saberá por onde sangrou os teus pés até chegar aqui? Deixemos o passado de lado, pois o amor há de cobrir todos os nossos pecados. 

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