quarta-feira, 2 de julho de 2014

Continuando o diálogo sobre Obsessão Espiritual com os médicos



Em resposta a nossa postagem sobre obsessão espiritual, o Dr. George Magalhães partilha a seguinte experiência:


Anos atrás, conversando com minha psicanalista sobre estes aspectos, os limites da medicina, ela me contou esta história que se passou com um psicanalista amigo dela em outra capital. Ele, com alguns pacientes que não conseguiam sair do canto - uma análise emperrada, como se um algo existisse que não percebesse - ele tinha um amigo médium de um centro espírita. Perguntou a este amigo se não poderia ver alguns destes poucos e intrigantes pacientes. Como psicanalista, não tinha crença alguma, mas tinha a curiosidade. O seu colega médium se dispôs a ver os poucos casos no centro espírita e, de fato, alguns analisados estavam obsediados e passaram a melhorar e entrar em análise após alguns passes. Mas, o incrível é que alguns pacientes foram devolvidos com uma pequena carta: "Amigo continue o tratamento deste paciente, seu caso não é daqui, não está obsediado." Minha psicanalista disse-me que o amigo dela lhe comentou que era verdade, estes pacientes depois de algum tempo ou haviam melhorado ou haviam tido necessidade de farmacoterapia.


Uma pesquisa empreendida em 2004, por Frederico Camelo Leão (acesse aqui esta pesquisa), havia realizado experiência semelhante à relatada pelo nosso professor, jogando em cima alguma análise estatística, concluindo, com certa significância, a melhora clínica e comportamental dos pacientes em comparação com quem não havia sido submetido à intervenção.


A coisa é revolucionária! Você pegar o nome de pacientes, colocar em uma mesa mediúnica alheia aos casos abordados, e nela serem construídos diálogos que apaziguam entidades espirituais que possam estar comprometendo a saúde deste ou daquele sujeito - minha nossa! Não é uma hipnose que se aprofunda no inconsciente do indivíduo no divã a fim de mexer com seus traumas recalcados. Nem muito menos uma sessão de terapia que visa mexer com esses traumas pelas vias do fortalecimento da consciência. É como se você pegasse estes traumas, arrancasse dos indivíduos, levasse a um círculo mediúnico e começasse a falar com eles intermediados por outro corpo que não o do paciente. Entendeu? Seriam Traumas com T maiúsculo, portadores de identidade e materialidade (até onde se pode usar essa palavra?) próprias, independentes do aparelho psíquico original do "caso" em questão.


Platão falava da realidade substancial do Bem, do Belo, da Verdade, como se fossem entidades que você pudesse ver, tocar, abraçar, cheirar, beijar quando tivesse elevado seu espírito à altura do Mundo das Ideias. Falamos aqui de Traumas, Violências, Vinganças, Ódios, como se fossem entidades com quem você pode dialogar intermediadas pelo corpo de uma pessoa em transe. Os poetas, como Homero e Hesíodo, na Grécia homérica, eram tidos como intermediários dos deuses. Seus poemas, como mensagens. Muitas vezes, dava-se menos importância ao homem do que à sua fala que, todos acreditavam, estava vindo de uma musa, e ele, mero mortal, não era mais que um gramofone.

Hipócrates, por exemplo, contra essa mentalidade mitológica e antecipando assustadoramente a mentalidade moderna, dizia: "Na minha opinião ela [a doença sagrada - imposta pelos deuses] não é nem mais divina nem mais santa que qualquer outra doença tendo, ao contrário, uma causa natural, sendo que sua suposta origem divina se deve à ignorância dos homens."


Mas, o professor acha incrível que os Espíritos coordenadores das sessões mediúnicas tenham devolvido alguns casos, alegando não serem questões de obsessão. Pode ser incrível para os muitos espíritas que culpam os pobres dos Espíritos de tudo o que acontece na vida deles. Todavia, a nossa modernidade se fundou sobre a rejeição do mundo dos espíritos, do sagrado mediúnico, da Natureza portadora de alma, devolvendo os casos antes considerados espirituais para a ciência da natureza material. Na verdade, para os modernos, a resposta do Espírito não passa de sensatez.

"A Interpretação dos Sonhos" de Freud havia sido revolucionária exatamente porque rejeitava o viés profético-místico da mensagem onírica a favor de uma mensagem que partia da própria pessoa, mensagem subliminar, criptografada, exalada de seus calabouços psíquicos onde muita coisa rastejava em sussurros. Ele insistia na imanência dessa mensagem na história do próprio sujeito em detrimento da transcendência da mesma vindo de deuses ou demônios. O que era revolucionário para a época não passa de senso comum dos nossos dias.

Incrível mesmo, olhando o fenômeno com minha face moderna, é estes pacientes terem melhorado diante da simples dedicação de algum punhado distante de médiuns reunidos a fim de ajudar nestes casos. Eu acharia isso, na verdade, um tremendo absurdo, se eu já não tivesse me convencido de que é verdade.

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