domingo, 3 de novembro de 2019

Sonho sobre a vida póstuma

Sonhei que havia morrido. Era muito estranho. Não fui para o umbral. Não vi espíritos sofredores, nem vociferadores. Também não vi ninguém que me convidasse para qualquer cidade espiritual. 

Acordei e levantei-me do corpo, andei alguns passos, olhei para trás. Era ele, o meu corpo. Aquele que tinha animado há pouco. Já havia passado os choros e as homenagens. Tive vontade de ver a esposa e os filhos. Pronto! Foi o suficiente para já estar ao lado deles. Os rapazes enxugavam o rosto da mãe. O mais velho a beijava. O mais novo não sabia o que dizer. Beijei o rosto do caçula que tomou um susto, olhou para os lados. Vi o peito do primogênito apertado. Eu podia ver a angústia. Isso não é metáfora. Eu podia ver mesmo! Cheguei para ele e pus a mão em seu coração. Seu músculo cardíaco deu um salto descompassado. A angústia diminuíra. Ele achara estranho aquele fugaz descompasso. Beijei a boca da minha esposa, que saboreia o beijo em seus lábios com leve movimento da língua.

Só, então, percebo presenças ali em casa estranhas a minha família. Mas todos eles me olhavam. Como, se eu havia morrido? Senhor! Eram outros tantos Espíritos! Saudavam a minha chegada. Papai, vovó, todos estavam ali. Papai, veterano naquele lugar apenas me fala:

- Vá conhecer o mundo, não há mais barreiras para você. 

Quis experimentar. Saí a esmo, correndo. Eu não me cansava. Aumentei o passo, ultrapassei minha velocidade comum. Voei! Que liberdade! Não havia mais dores, nem a asma me constrangia. O ar frio do alto céu me era inofensivo. Chego à Lua, onde vejo outros tantos Espíritos dialogando festivamente, outros apenas a mirar o espaço, pensativos. Lembro de meu amigo astrônomo. Subitamente estou ao seu lado. Ele toma um livro que havia dado de presente para ele há tempos. Lembra de nosso cumprimento. O pensamento dele para mim era fala! Eu o respondo. Ele acha engraçado aquele diálogo que acontece na sua mente. Continua a brincadeira e pergunta para mim como estou agora, morto. "Mais vivo que nunca!". Ele ri. Sua esposa pergunta do que ri. "Do Allan." Ela estranha ele estar rindo de um homem que acabara de morrer. Que macabro!

O sol parece querer nascer. Olho para o relógio. Não é possível. Eram apenas duas horas da manhã. Vou ao encontro desse adiantado sol. Um moço enorme me espera fora daquela casa. Dá-me a mão. Tenho a perfeita intuição quando o toco: era o meu anjo. Ele me aponta o céu para que veja o tal sol. Os raios me ofuscam. Aos poucos diviso uma forma no centro da irradiação, logo mais, um rosto. Meu Deus! Não era o sol, mas Jesus. 

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