segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Refutações filosóficas baseadas na vida familiar



Há algumas correntes filosóficas que imperam ao nosso redor, fazendo adeptos e provocando movimentos que acredito poderem receber séria refutação quando se pensa na simples convivência familiar. 

A filosofia moderna é inaugurada com a subjetivação da verdade. O pensador entende que o fundamento primeiro da verdade só pode residir no sujeito que pensa. E desse jeito encontra um abismo enorme para sair de si e conseguir a verdade que pode ser compartilhada com o outro.

Qualquer pessoa que tentou se relacionar com alguém, e buscou cultivar este relacionamento para que durasse, sabe o quanto é impossível fazê-lo se pensarmos em verdades que apenas nascem do nosso sujeito. O exercício do respeito pela verdade do outro é constante. A surpresa que o outro nos desperta em não conseguirmos ter atingido sua verdade é diária. É só pensar no desafio de presentear alguém, e nas frustrações que isso pode provocar.  

Quando pensamos nos idealistas, que entendem ser a realidade o reflexo de nossos pensamentos, ou no psicologismo, que pensa algo semelhante, reduzindo a verdade a imagens mentais, outro exercício que enfraquece esta ideia é acompanhar o crescimento dos filhos. Quase nada segue o que traçamos. O amadurecimento deles, muitas vezes, é o contrário de fazer o que queremos, pois é ser eles e não nós. 

Se formos olhar as filosofias que enxergam mais as categorias ou as classes de pessoas em detrimento do indivíduo singular, dá para desconfiar que os autores delas raramente se apaixonaram ou amaram alguém a tal ponto que a vida daquela pessoa fosse invendável ou insubstituível. É o que move os pais a velarem os filhos doentes nas madrugadas de febre. 

Cientificismos e historicismos, de uma forma geral, querendo reduzir as ações humanas a equações que geram predições acertadas ignoram a atitude de sabedoria diária que a família nos convida para baixar a guarda de nossas certezas a fim de deixar o outro viver em nós de forma mais livre. Você mal sabe o que se esconde no próprio peito, como poderia se erguer a uma onisciência tal que abarcasse as possibilidades da vida de qualquer um?

Para fechar o elenco das principais filosofias, pensemos naquelas que pregam que todos devem buscar a felicidade em todos os momentos, tentando viver cada instante como se fosse o último, e como se ele pudesse ser repetido pela eternidade. É insustentável pelo própria ritmo da existência. 

A única forma de não devotarmos amor por qualquer coisa é sermos cercados pelo nada. Qualquer amor que nos conecte a algo fora de nós, cedo ou tarde, fecunda a consciência da perda inadiável, que é o sonho da morte que nos visita de vez em quando. Esses momentos são sombrios, gelados, opressivos. A saudade é uma filha adorável deles. A falta é a carrasca. De uma forma ou de outra, ainda que a ausência se faça, flertando com a sombra da morte, qualquer esperança de reencontro faz o amor reacender como se fosse a primeira vez. 

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