Eu havia ficado de falar sobre o sinal dos tempos e as convulsões sociais. Acabei por falar sobre o sinal do tempo e as convulsões de minha mãe, não bem as convulsões, mas os tremores paralisantes, como são os da síndrome de Parkinson. É que, cá entre nós, a gente fala do que o coração está cheio, e as convulsões sociais, como estas que vem acontecendo pelo Brasil, não enchem meu coração (encheria o de alguém?).
Confesso que pensei em tanta coisa para fazer os ouvintes entenderem que cada movimento do universo obedece a uma ordem temporal bem orquestrada no concerto cósmico, que a prolixidade foi o meu tropeço. Escrevo estas linhas para me fazer melhor entender.
Como, ao final, ficou claro a quem verdadeiramente me dirigia, isto é, para mamãe que sofre de uma doença que desafia a bondade divina, acredito que me expresso com mais clareza se aqui falar para ela:
- Mamãe, sei que as probabilidades de essa doença ter lhe acometido são poucas. Sei que parece não haver consolo na solidão que enfrenta. Nem adianta falar que o todo, olhado de forma integral, é bom. É abstração demais para que compreenda. Então, queria, por um instante, que tomasse a minha mão e voasse para além desse planeta. Deixe seu corpo aí. Venha em Espírito.
Vou pedir um pouco a graça de Deus para que Ele passe a vida da Terra por nossos olhos. Vê como há ciclos em tudo? Vendo o tempo correr assim de bicicleta, parece até uma brincadeira toda a formação da Terra. Pois cada era geológica dessas foi um tempo suado de construção. Porém, cada coisa ao seu tempo foi se estruturando. Vê, a semente de cada ser vivo desabrochando, e o caldeirão da criação cedendo lugar às formas de tudo?
Calma, não se desespera. É um sonho bom esse que estamos vivendo. Tira um pouco a atenção das dores que aquele corpo sofre. Presta atenção em mim.
Vamos se aproximar um pouco da Terra de hoje em que a senhora vive. Vê as grandes árvores? Já testemunharam tantas gerações fenecerem! Desde as vidas mais simples e rupestres até as tragédias mais sanguinolentas shakesperianas. Olha ali! Um tronco perdido. Percebe que ele guarda em si os ciclos de mil crescimentos, aposições de experiências que o fez robusto como ele só?! Vem mais para cá. Voemos para as altas montanhas. Quero que saiba que elas contam as histórias milenares de uma Terra que já não é mais.
Não se preocupa, seu corpo dorme. Os tremores também. Permita-se esse vôo comigo. Precisamos olhar além daquelas dores.
Veja a humanidade. Deus agora vai permitir que o tempo corra outra vez aos nossos olhos. A terra gira, e os corpos humanos, feito areias de dunas, erguem-se e se vão com o vento. Percebe o erigir e o dispersar dos impérios? De repente, um dilúvio parece tomar conta de toda a Terra. Nós dois nos vemos no espelho dessa cheia infinda. A água desce, as terras habitadas surgem. Um arco-íris nos dá boas-vindas. A humanidade se renova junto com a transformação da casa em que habita. A Terra cicla, as estações passam. Há verão e inverno para todos. Podemos nos enganar o quanto quiser, mas é bem verdade que ciclamos junto com a Terra.
Respira. Respira fundo. Esteja presente neste momento. Eu sei que é descomunal um passeio desse. Todavia, eu preciso fazê-lo com você.
Sabe aquela faculdade que me deu cabelos brancos? Nunca contei a verdade toda dela para você. Foi repleta de fracassos. Mas, deu certo. O que isso tem a ver com o que lhe mostrei? É que, como eu, havia vários estudantes, e ainda há. Ela é meio um microcosmo da vida inteira. Nela me desconstruí, dela saí novo, sem contudo perder as camadas de história, luta, resistência, que ficaram superpostas no corpo. Sempre ouvi papai falar das história de Odisseu, o rei grego. Foram precisos dez anos para destruir a vida dele, e dez anos para reconstruí-la. Em seis anos a faculdade quase destruiu minha autoestima. Já vão seis anos e estou de pé, com dois filhos, e quase encontrado na profissão. Quero te mostrar, que tudo cicla.
Só mais um pouco, mais um pouquinho. No tempo cotidiano onde dorme seu corpo, o sol se prepara vagarosamente para despertar. Por que a pressa em voltar? Talvez seja a primeira vez, depois de anos, que consigo fazê-la dormir por mais tempo.
Olha para trás, agora. Mil sóis se nos avizinham. Enquanto olhávamos o movimento da Terra, todos eles giravam. Um dia, uma estação, um ano, um século, um milênio. A própria humanidade atravessou eras, e estes sóis pareciam marcar certa cadência de uma lógica cósmica. Nada aconteceu por acaso. Cada movimento veio no tempo oportuno.
A última imagem que eu quero te mostrar: volta para a árvore que lhe apontei logo no início. Sabia que Jesus falava ser o Reino dos céus um grão de mostarda, que se transforma em árvore frondosa a aninhar passarinhos? Lembra que, como tudo na natureza, a árvore tem seus ciclos, um crescimento após o outro? Camadas e camadas de vidas que ela presenciou somadas a si? Não é a toa que Jesus fala de semente. A semente é o símbolo maior do tempo que desabrocha. Há dor em cada ruptura, em cada busca de novos patamares, na busca do sol. A semente da mostarda é o sinal do próprio tempo. Não tem como olhar para ela e não pensar que ali dorme uma árvore. Contudo, cada conquista ao seu tempo. Nossos sofrimentos passam, nossos corpos antigos passam, os sóis gravitam marcando ciclos do Espírito, testemunhando nossos passos de imortalidade.
Seus olhos estão abrindo agora, mamãe. O braço volta a tremer, o corpo a se agitar. A doença parece imperatriz. Não se engane. Mostrei-te tanto infinito. Isso que acontece agora, vai passar. Tanta coisa já passou. Vai chegar o tempo, em que teu corpo será templo do Reino de Deus maduro, e, então, dará sombra a transeuntes sedentos, aninhará passarinhos famintos. A doença de hoje, será um ciclo esquecido que te fez forte, e, então, frondosa. Ainda voaremos juntos de novo, e livres, pelo espaço sideral. O Reino dos céus não se toma de assalto, ele se ergue milenarmente em nossos corações, ciclo após ciclo.
Olha para trás, agora. Mil sóis se nos avizinham. Enquanto olhávamos o movimento da Terra, todos eles giravam. Um dia, uma estação, um ano, um século, um milênio. A própria humanidade atravessou eras, e estes sóis pareciam marcar certa cadência de uma lógica cósmica. Nada aconteceu por acaso. Cada movimento veio no tempo oportuno.
A última imagem que eu quero te mostrar: volta para a árvore que lhe apontei logo no início. Sabia que Jesus falava ser o Reino dos céus um grão de mostarda, que se transforma em árvore frondosa a aninhar passarinhos? Lembra que, como tudo na natureza, a árvore tem seus ciclos, um crescimento após o outro? Camadas e camadas de vidas que ela presenciou somadas a si? Não é a toa que Jesus fala de semente. A semente é o símbolo maior do tempo que desabrocha. Há dor em cada ruptura, em cada busca de novos patamares, na busca do sol. A semente da mostarda é o sinal do próprio tempo. Não tem como olhar para ela e não pensar que ali dorme uma árvore. Contudo, cada conquista ao seu tempo. Nossos sofrimentos passam, nossos corpos antigos passam, os sóis gravitam marcando ciclos do Espírito, testemunhando nossos passos de imortalidade.
Seus olhos estão abrindo agora, mamãe. O braço volta a tremer, o corpo a se agitar. A doença parece imperatriz. Não se engane. Mostrei-te tanto infinito. Isso que acontece agora, vai passar. Tanta coisa já passou. Vai chegar o tempo, em que teu corpo será templo do Reino de Deus maduro, e, então, dará sombra a transeuntes sedentos, aninhará passarinhos famintos. A doença de hoje, será um ciclo esquecido que te fez forte, e, então, frondosa. Ainda voaremos juntos de novo, e livres, pelo espaço sideral. O Reino dos céus não se toma de assalto, ele se ergue milenarmente em nossos corações, ciclo após ciclo.