Na Grécia Antiga, particularmente na era Homérica, os poetas eram tidos como intermediários dos deuses. Vá ver como começa Odisséia! É Homero dizendo ao ouvinte, com toda a clareza, que aquela história lhe foi ditada por uma divindade.
Que isso seja a pretensão de Homero é uma coisa, mas daí a ser uma crença de toda a sociedade é outra. Mas, era de fato. Mesmo Platão, cujos textos são tidos por nós Modernos como sendo o berço da filosofia ocidental (no sentido lógico-dedutivo, escapando das gangas místicas de Pitágoras), havendo quem o diga que todo o resto do que conseguimos pensar são comentários à obra de Platão, pois este senhor tem plena convicção de que os deuses se utilizavam dos poetas. Dá mesmo argumentações (em Ion e em a Apologia de Sócrates) para tanto:
1. Se a obra fosse dele haveria de ter tido um esforço anterior para que elaborasse a obra, um estudo, uma técnica aprendida. Todavia, constantemente se verifica que isto inexiste, e essas poesias surgem como que "do nada", sendo que são "dos deuses".
2. Se fosse dele saberia a interpretação profunda do que há ali e, no entanto, em boa parte das vezes sua interpretação é rasa sobre o que acabara de escrever.
Como intermediário de deuses, portanto, eram tido os grandes escritores das tragédias que traduziam em arte, a influir terrivelmente sobre as almas das pessoas, toda a tradição lendária que constituía o sistema de crenças daquele lugar.
É incrível a semelhança que há dessa forma de enxergar os poetas daquela Grécia com a que enxergamos nosso mineiro Chico Xavier. Com seus romances ele (leia-se: os Espíritos) traduziu grande parte do sistema de crenças fundadas pelos livros da codificação kardequiana em narrativas que ilustram o imaginário espírita brasileiro. Com a ressalva de que são Espíritos que nos ditam, assim os enxergamos, e não mais deuses, isto é, são pessoas que morreram e que voltam com alguma sabedoria para nos contar e não entidades que portam a sabedoria desde sempre.
Cabe para futuros estudos vermos o quanto a teoria sobre a boa arte em Plantão vai ao encontro do que imaginamos ser uma boa arte no Espiritismo, haja vista, aquela que faz bem à alma, que a incita a imitar os sentimentos nobres, previne a decadência, etc.
Estes e outros comentários estão embasados na excelente obra de Carole Talon-Hugon: L'antiquité grecque: une histoire personnelle et philosophique des arts.
Outros estudos que ficam a espera é como eram tido os poetas para a civilização hebraica, que são o povo de O Livro que é um dos tripés do nosso ocidente. Esse povo construiu-se e se manteve firme nas diásporas por causa das histórias que se perpetuavam entre si contadas em páginas sagradas. Por Deus, o que eles consideravam arte? Haveria essa ideia de intermediação entre Deus e o escrevente? Tudo o que já li me leva a crer que sim, mas fico devendo fonte bibliográfica mais robusta para lhes confirmar.