sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Tinha de ser assim



Conversando certa vez com um amigo sobre o quanto ele estava afastado do centro espírita, tendo ele sido um dos rapazes mais engajados que conheci, eu o cercava com argumentos que tentavam fazê-lo retornar. 

Estranhamente o via bem. Casado, com uma filha, cumprindo bem o seu dever no trabalho. Ele me dizia estar bem. Dizia sentir saudades, mas não sentir falta. Enumerava as qualidades da vida atual e sentia-se satisfeito. Médico, exercia sua profissão com misericórdia e sacrifício. Pai, deleitava-se de ver a filha crescer e elogiava cada novo passo dela.

Pouco tempo depois encontrei duas pessoas de seu antigo centro espírita que haviam igualmente se afastado. Elas eram como se fossem o núcleo familiar de lá, mas se afastaram. 

Liguei para ele, contei a má notícia. Ele não se espantou. 

- Por quê? Você acha que aquele centro não era bom, de fato? Mas, você defendeu com tanto afinco a grandeza dele? Deu tanto de si para o crescimento daquela casa? Você se arrepende de ter feito tudo aquilo?
- Não, querido. Não me arrependo. Mas, também acho que não estamos errados. O que eu acho é que as coisas mudam. 

As coisas mudam. As pessoas, também. Mudam de vida, de endereço, saem do centro. Se afastam, se aproximam. Percebi na fala dele a inocência do presente que eu insistia em culpar. Sem culpados, sem denúncias aquela fala. Uma perspectiva verdadeiramente cristã. Deveríamos dizer menos que os amigos que se afastam estão obsediados e revelar mais o quanto sentimos saudades deles. 

- Não vá! Estará desperdiçando um tempo precioso de sua vida! (fora daqui não há salvação!) - diz o puritano.
- Não queria que você fosse! Sentirei saudades! (fora daqui <3 não há salvação!) - diz o amigo. 

- Vá!  

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