terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Estudos do Evangelho no Domingo ao Lar Chico Xavier



Compartilho aqui alguns resumos do estudo que fazemos aos Domingos no Lar Chico Xavier, pegando o Novo Testamento e decifrando-o para a nossa vida versículo à versículo. Inicio esse tópico agora, mas irei ficar alimentando a partir de então com os próximos encontros que eu for participando.
"Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno." (Mt 5:21-22)

- De matar para se encolerizar e dizer um insulto há uma evidente e significativa distância. Quando Jesus confronta o que foi dito e o que ele diz, não se trata do descumprimento da antiga lei, mas uma potencialização. É algo que tende à vigilância íntima. A cólera simplesmente nasce. Não se encolerizar é um convite para vigiar a cidadela no interior da gente. Vá lá que Jesus utiliza expressões fortes: réu do juízo, réu do sinédrio, fogo do Inferno! Mas, tirando um pouco da força que essas palavras tinham daquele contexto e trazendo pro nosso espírita, não é exatamente o que acontece: o juízo de nossa consciência, o sinédrio de nosso espírito, o inferno dentro da gente? As obsessões são um exteriorização do que já está escuro dentro de nós. Importante: sair da lei que nos pune de fora, passando pelo próximo que nos vigia de perto, chegando a consciência de si que ilumina de dentro.


"Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus." (Mt 5:19)

- Onde estão inscritos os mandamentos de Deus? Na consciência do homem. Somos a verdadeira pedra em que Deus cunhou as leis dele, as eternas. Sobre o cerne duro, formam-se leis humanas que se descascam mil vezes junto com as estações. Se eu vivo e passo adiante o que é da nossa essência, eu me multiplico, torno-me ainda maior do que sou. Faço família. Participo daquela que é a universal. Do contrário, me isolo. Sou menor.

O reino dos céus é a nossa consciência. Quanto mais nutrição eu dou à minha alma para que ela se desenvolva, tornando-se reflexo da Vontade de Deus, mais ela se empodera. Mais claro fica o reino dos céus para mim. Maior o reino dos céus em mim, maior sou no reino dos céus.

Compartilhei o quanto me senti fortalecido, maior no reino dos céus, quando mudei o caminho que estava seguindo com o cuidado da doença de minha mãe e fui relendo as leis que estavam contidas em mim, direcionando para a vida. E você, será que está conseguindo ler as leis que estão inscritas em você e que estão particularmente envolvidas no planejamento encarnatório desta existência? Por vezes não são claras! Aqui, no Lar Chico Xavier, estamos para nos ajudar a se encontrar no caminho que nos coloque de volta ao verdadeiro Lar, aquele lugar que Deus nos quer no Cosmos - pelo menos nesta vida e em cada vida por sua vez.


"Não cuideis que vim destruir a Lei e os profetas, não vim ab-rogar mas cumprir" (Mt 5:15). 

- Vou tentar resgatar alguma coisa do que foi discutido no nosso estudo, mas minha memória me trai. Houve a questão da expressão LEI E PROFETAS que é uma referência direta à Torá, compondo uma das partes da tradição de interpretação dela, a TaNaKh. Bem, quando reencarnamos, sempre reencarnamos em muito mais do que só o corpo biológico. Também o fazemos, por exemplo, dentro da LEI, da cultura, das emoções, expectativas, sonhos que nos acolhem. Querer fazer tábula rasa disso foi uma pretensão recente que, se por um lado no permitiu a liberdade de assumirmos nossa missão (nossos compromissos reencarnatórios) de forma autônoma, por outro nos deixou desconectados do caminho que escolhemos seguir, já trilhados pelos que nos antecederam, que bastas vezes formam nossas identidades anteriores.

"Não ab-rogar o que nos antecedeu, mas cumprir" é um exemplo de assumir nossa história - a nossa e a das pessoas no meio das quais decidimos reencarnar - não para reproduzi-la feito conservação inconsciente, mas para elaborá-la e amadurecê-la, como Jesus o fez relendo o que estava escrito com a chave da compaixão e do amor.


"Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens." (Mt 5:13). 

- Nos aproximamos desse tema pela via de entender o ser das coisas, o nosso ser. Como pode não ser salgado o sal? Ju resgatou a imagem da figueira seca, isto é, uma árvore frutífera que não dava frutos. Jesus é enfático e é simbólico. Na sua visão de homem do campo entende que o conceito dos seres está relacionado com sua utilidade. "Para nada mais presta senão para se lançar fora". Alguém já se sentiu fora de contexto, pisado pelos homens. Provavelmente a situação expiatória em que nos encontramos é devido a termos negado nossa essência em dias passados. Mas, a doutrina de Jesus nunca é fatalmente condensadora - vem para o resgate dos ímpios. A Evangelização dos Espíritos nos esclarece que para voltarmos ao sentimento de pertença ao nosso lugar no mundo é necessário conhecermos o que nós verdadeiramente somos e para que estamos aqui. O sal é salgado e serve como adubo, a figueira foi feita para dar frutos, e você, e eu?

"Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós." Mt (5:12)

- De alguma forma começamos a falar sobre o orgulho. Demi ainda tentou defender alguma situação em que o orgulho poderia, na verdade, ser a imposição de uma boa vontade em busca de fundar a justiça contra os que fazem as coisas erradas, citando o exemplo dos vendilhões do templo e sua expulsão por Jesus. Entendemos que Jesus não fez aquilo por um "orgulho ferido", mas não perdeu a oportunidade de encenar uma lição. Encenar em um sentido sagrado - estes é um conceito difícil de apreender para nós pós-modernos que reduzimos o conceito de encenar a uma mera representação ou imitação ou "teatrinho". O Romário nos convidou a imitar, no sentido sagrado, os profetas e a alegrarmo-nos e exultarmo-nos quando ferirem nosso orgulho e nos injuriarem. Ele prometeu tentar fazer isso com a Letícia nas madrugadas em que ela teimar fazer manha. Outro amigo reviu seus conceitos. Uma companheira foi atrás de entender a difícil relação do enfrentamento pais-filhos na vida dela. Eu... eu agradeço por todas estas lições de vida.

"Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa".  (Mt 5:11)

- Acabou que as coisas giraram em torno desse "POR MINHA CAUSA" ou "POR MIM". Inquietante para um espírito racionalista entregar-se assim para um senhor que se diz AQUELE QUE HAVERIA DE VIR. Que é a concretização das promessas, que é o coroamento da dolorosa espera. Mas, é isso. A finalização dessa bem-aventurança dá a razão o que lhe falta de coração, de cuidado, de amparo, de amizade. "Vai que eu estarei contigo!". É o que enternece o chamado, é o que encarece a missão do cristão: saber que Cristo estará presente, a presença-homem da promessa-Deus. Deixa de ser os abstratos conceitos de Bem, Belo, Justo. É a carta viva em cuja carne se escreveu em Espírito e Fogo as leis de Deus. Alex deixou a seguinte indicação de leitura: João, capítulo 9. Um capítulo forte. Um Jesus decidido. Não há "não" na boca do Mestre aí. Vale a pena ler. 


"Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus." (Mt 5:10)

- A JUSTIÇA no Antigo Testamento é considerada a Lei de Deus, a Palavra de Deus. Então, os Espíritos me sopraram que fôssemos atrás da cena do Jovem Rico (Mt 19:16-30), o que ajudou significativamente nossa interpretação. Lá a grande discussão era o que fazer para conseguir a vida eterna, para ser perfeito, para ser salvo. Jesus principia exortando a seguir a Lei de Deus, o decálogo, a Justiça. Diante da aparente obediência do Jovem Rico aos mandamentos, o Rabi o desafia ("o persegue"), e convida o moço a doar tudo o que tem aos pobres e segui-Lo. Abordamos a questão da perseguição em um nível mais essencial, mais da atitude nossa diante de Cristo. Um indivíduo que realmente é perseguido por causa da justiça que professa e não esmorece é um Espírito que "persegue" Jesus. Se a nossa fortaleza não vai a tal ponto de "perseguir" Jesus, qualquer um que nos perseguir, nos colherá desprovidos de virtudes que nos sustentem na escassez. Se Deus, como Senhor da Vinha, quisesse nos colher desta vida, como que tirando um fruto do seu pé, estaríamos prontos para ser colhidos? Todos concordaram que não, longe disso! Deixei como dever de casa para todos nós pensar em três elementos que ainda nos faltam para darmos mais um passo rumo à perfeição, rumo ao amadurecimento, para, um dia, podermos ser colhidos pelo Pai, para merecermos o Reino dos Céus.

"Bem- aventurados os limpos de coração porque verão a Deus". (Mt 5:8)
- Eu quis retomar este versículo porque tem dois salmos que falam disso, e achei importante a agente dialogar com eles. Salmo 24 e 15. Neles o salmista fala que, sim, é a pureza de coração a condição para chegar lá. Mas, ele utiliza a linha de chegada na figura do tabernáculo de Deus ou do Senhor. Isto é, a pergunta que ele nos faz é: "Quem habitará no Teu tabernáculo, Senhor?" [quem será digno disso?] ou "Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo?". Achamos por bem nos fazer esta pergunta hoje. Acordamos que para isso era preciso querer se esforçar (subir o monte) e deixar os supérfluos para trás. Alguns amigos nos lembraram que não bastava se livrar dos supérfluos, deveríamos fitar as Leis de Deus. Eu quis estimular um pouco o que cada um nesta existência tinha de supérfluo para abandonar, de forma particular. Estimulei a reflexão individual das particularidades do Espírito que cada um é, mas senti que os amigos se esquivavam do particular pendendo sempre para as reflexões mais gerais. Dei um exemplo do meu coração sobre como estou nessa encarnação tentando me livrar do desprezo jocoso ao ouvir a dor do outro em rumo da escuta amorosamente ativa desta dor. Deixo registrado aqui a falta que sinto da presteza com que o meu querido amigo João Romário conduz as reflexões que nos fazem expor as coisas daqui de dentro.   

- Querendo seguir a bem-aventurança de limpar o coração, fomos até o jardim do Lar Chico Xavier e fomos limpando aquele solo das outras plantas que por nós não foram plantadas e que promoviam competição prejudicial com as outras que fazem realmente parte do nosso jardim. Fomos analisando o quanto extirpá-las pela raiz, ter luz para exercer este ofício e forçar o corpo inexperiente nesse afazer são importantes para não desistir. Lembramos a parábola de Jesus frente a figueira improdutiva. Alguns matos vale tirar em feixes, são as grandes comoções sobre a terra. Outros, deve-se capinar com zelo - seriam os grandes desafios que carregamos na alma a cada reencarnação? Mãos sujas, coração se limpando! Muito embora o Rabi tenha defendido os discípulos que não lavaram as mãos, nós as lavamos ao final, entendendo que a mensagem era para glorificar mais a pureza d'alma do que a porcaria a que eu estou afeito. Felicito-me neste momento em encontrar colado à passagem das MÃOS NÃO LAVADAS o seguinte versículo que coroa nossa experiência: "Toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada." (Mt 15:13). É a arte espiritual da jardinagem moral!

- Um complemento à interpretação das outras bem-aventuranças, particularmente sobre os aflitos (ou enlutados ou os que choram) e os com fome e sede de justiça. Refletimos sobre a diferença do choro de Pedro após a negação tripla e o choro de João face a face com o Jesus crucificado. Sobre a justiça, refletimos em cima do fato de "justiça" estar extremamente conectado a "lei", isto é, a palavra de Deus no Antigo Testamento. Por fim, antecedemos um pouco o assunto do "por mim" de Jesus que coroa o final do canto das bem-aventuranças. Quem é ou o que é ou será a tal consolação prometida aos aflitos, chorosos ou enlutados? E, por mais que haja divergência entre espíritas e evangélicos quanto ao consolador prometido, entendemos juntos que Jesus não é só o Caminho, a Verdade e a Vida, mas também, e por isso mesmo, a Consolação. O que o Paracleto veio fazer foi só relembrar esse fato!

- Falamos: sobre as bem-aventuranças, Jesus como o novo Moisés no monte das revelações, sobre a graça do amor de Deus que não dispensa as obras da mão do homem, sobre os estados de Espírito bem-aventurado a que Jesus nos convida para evoluir, sobre a nossa visão de salvação como educação do Espírito, sobre o chamado de Jesus que nos faz encarar a morte com novos olhos, não mais de temor, mas de ressurreição. Ah! E sobre o fato de já podermos sentir a presença de Deus, desde já, via limpeza do coração e pobreza em espírito, não precisando esperar a perfeição para isso.   

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