terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Estudos do Evangelho no Domingo ao Lar Chico Xavier



Compartilho aqui alguns resumos do estudo que fazemos aos Domingos no Lar Chico Xavier, pegando o Novo Testamento e decifrando-o para a nossa vida versículo à versículo. Inicio esse tópico agora, mas irei ficar alimentando a partir de então com os próximos encontros que eu for participando.
"Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno." (Mt 5:21-22)

- De matar para se encolerizar e dizer um insulto há uma evidente e significativa distância. Quando Jesus confronta o que foi dito e o que ele diz, não se trata do descumprimento da antiga lei, mas uma potencialização. É algo que tende à vigilância íntima. A cólera simplesmente nasce. Não se encolerizar é um convite para vigiar a cidadela no interior da gente. Vá lá que Jesus utiliza expressões fortes: réu do juízo, réu do sinédrio, fogo do Inferno! Mas, tirando um pouco da força que essas palavras tinham daquele contexto e trazendo pro nosso espírita, não é exatamente o que acontece: o juízo de nossa consciência, o sinédrio de nosso espírito, o inferno dentro da gente? As obsessões são um exteriorização do que já está escuro dentro de nós. Importante: sair da lei que nos pune de fora, passando pelo próximo que nos vigia de perto, chegando a consciência de si que ilumina de dentro.


"Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus." (Mt 5:19)

- Onde estão inscritos os mandamentos de Deus? Na consciência do homem. Somos a verdadeira pedra em que Deus cunhou as leis dele, as eternas. Sobre o cerne duro, formam-se leis humanas que se descascam mil vezes junto com as estações. Se eu vivo e passo adiante o que é da nossa essência, eu me multiplico, torno-me ainda maior do que sou. Faço família. Participo daquela que é a universal. Do contrário, me isolo. Sou menor.

O reino dos céus é a nossa consciência. Quanto mais nutrição eu dou à minha alma para que ela se desenvolva, tornando-se reflexo da Vontade de Deus, mais ela se empodera. Mais claro fica o reino dos céus para mim. Maior o reino dos céus em mim, maior sou no reino dos céus.

Compartilhei o quanto me senti fortalecido, maior no reino dos céus, quando mudei o caminho que estava seguindo com o cuidado da doença de minha mãe e fui relendo as leis que estavam contidas em mim, direcionando para a vida. E você, será que está conseguindo ler as leis que estão inscritas em você e que estão particularmente envolvidas no planejamento encarnatório desta existência? Por vezes não são claras! Aqui, no Lar Chico Xavier, estamos para nos ajudar a se encontrar no caminho que nos coloque de volta ao verdadeiro Lar, aquele lugar que Deus nos quer no Cosmos - pelo menos nesta vida e em cada vida por sua vez.


"Não cuideis que vim destruir a Lei e os profetas, não vim ab-rogar mas cumprir" (Mt 5:15). 

- Vou tentar resgatar alguma coisa do que foi discutido no nosso estudo, mas minha memória me trai. Houve a questão da expressão LEI E PROFETAS que é uma referência direta à Torá, compondo uma das partes da tradição de interpretação dela, a TaNaKh. Bem, quando reencarnamos, sempre reencarnamos em muito mais do que só o corpo biológico. Também o fazemos, por exemplo, dentro da LEI, da cultura, das emoções, expectativas, sonhos que nos acolhem. Querer fazer tábula rasa disso foi uma pretensão recente que, se por um lado no permitiu a liberdade de assumirmos nossa missão (nossos compromissos reencarnatórios) de forma autônoma, por outro nos deixou desconectados do caminho que escolhemos seguir, já trilhados pelos que nos antecederam, que bastas vezes formam nossas identidades anteriores.

"Não ab-rogar o que nos antecedeu, mas cumprir" é um exemplo de assumir nossa história - a nossa e a das pessoas no meio das quais decidimos reencarnar - não para reproduzi-la feito conservação inconsciente, mas para elaborá-la e amadurecê-la, como Jesus o fez relendo o que estava escrito com a chave da compaixão e do amor.


"Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens." (Mt 5:13). 

- Nos aproximamos desse tema pela via de entender o ser das coisas, o nosso ser. Como pode não ser salgado o sal? Ju resgatou a imagem da figueira seca, isto é, uma árvore frutífera que não dava frutos. Jesus é enfático e é simbólico. Na sua visão de homem do campo entende que o conceito dos seres está relacionado com sua utilidade. "Para nada mais presta senão para se lançar fora". Alguém já se sentiu fora de contexto, pisado pelos homens. Provavelmente a situação expiatória em que nos encontramos é devido a termos negado nossa essência em dias passados. Mas, a doutrina de Jesus nunca é fatalmente condensadora - vem para o resgate dos ímpios. A Evangelização dos Espíritos nos esclarece que para voltarmos ao sentimento de pertença ao nosso lugar no mundo é necessário conhecermos o que nós verdadeiramente somos e para que estamos aqui. O sal é salgado e serve como adubo, a figueira foi feita para dar frutos, e você, e eu?

"Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós." Mt (5:12)

- De alguma forma começamos a falar sobre o orgulho. Demi ainda tentou defender alguma situação em que o orgulho poderia, na verdade, ser a imposição de uma boa vontade em busca de fundar a justiça contra os que fazem as coisas erradas, citando o exemplo dos vendilhões do templo e sua expulsão por Jesus. Entendemos que Jesus não fez aquilo por um "orgulho ferido", mas não perdeu a oportunidade de encenar uma lição. Encenar em um sentido sagrado - estes é um conceito difícil de apreender para nós pós-modernos que reduzimos o conceito de encenar a uma mera representação ou imitação ou "teatrinho". O Romário nos convidou a imitar, no sentido sagrado, os profetas e a alegrarmo-nos e exultarmo-nos quando ferirem nosso orgulho e nos injuriarem. Ele prometeu tentar fazer isso com a Letícia nas madrugadas em que ela teimar fazer manha. Outro amigo reviu seus conceitos. Uma companheira foi atrás de entender a difícil relação do enfrentamento pais-filhos na vida dela. Eu... eu agradeço por todas estas lições de vida.

"Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa".  (Mt 5:11)

- Acabou que as coisas giraram em torno desse "POR MINHA CAUSA" ou "POR MIM". Inquietante para um espírito racionalista entregar-se assim para um senhor que se diz AQUELE QUE HAVERIA DE VIR. Que é a concretização das promessas, que é o coroamento da dolorosa espera. Mas, é isso. A finalização dessa bem-aventurança dá a razão o que lhe falta de coração, de cuidado, de amparo, de amizade. "Vai que eu estarei contigo!". É o que enternece o chamado, é o que encarece a missão do cristão: saber que Cristo estará presente, a presença-homem da promessa-Deus. Deixa de ser os abstratos conceitos de Bem, Belo, Justo. É a carta viva em cuja carne se escreveu em Espírito e Fogo as leis de Deus. Alex deixou a seguinte indicação de leitura: João, capítulo 9. Um capítulo forte. Um Jesus decidido. Não há "não" na boca do Mestre aí. Vale a pena ler. 


"Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus." (Mt 5:10)

- A JUSTIÇA no Antigo Testamento é considerada a Lei de Deus, a Palavra de Deus. Então, os Espíritos me sopraram que fôssemos atrás da cena do Jovem Rico (Mt 19:16-30), o que ajudou significativamente nossa interpretação. Lá a grande discussão era o que fazer para conseguir a vida eterna, para ser perfeito, para ser salvo. Jesus principia exortando a seguir a Lei de Deus, o decálogo, a Justiça. Diante da aparente obediência do Jovem Rico aos mandamentos, o Rabi o desafia ("o persegue"), e convida o moço a doar tudo o que tem aos pobres e segui-Lo. Abordamos a questão da perseguição em um nível mais essencial, mais da atitude nossa diante de Cristo. Um indivíduo que realmente é perseguido por causa da justiça que professa e não esmorece é um Espírito que "persegue" Jesus. Se a nossa fortaleza não vai a tal ponto de "perseguir" Jesus, qualquer um que nos perseguir, nos colherá desprovidos de virtudes que nos sustentem na escassez. Se Deus, como Senhor da Vinha, quisesse nos colher desta vida, como que tirando um fruto do seu pé, estaríamos prontos para ser colhidos? Todos concordaram que não, longe disso! Deixei como dever de casa para todos nós pensar em três elementos que ainda nos faltam para darmos mais um passo rumo à perfeição, rumo ao amadurecimento, para, um dia, podermos ser colhidos pelo Pai, para merecermos o Reino dos Céus.

"Bem- aventurados os limpos de coração porque verão a Deus". (Mt 5:8)
- Eu quis retomar este versículo porque tem dois salmos que falam disso, e achei importante a agente dialogar com eles. Salmo 24 e 15. Neles o salmista fala que, sim, é a pureza de coração a condição para chegar lá. Mas, ele utiliza a linha de chegada na figura do tabernáculo de Deus ou do Senhor. Isto é, a pergunta que ele nos faz é: "Quem habitará no Teu tabernáculo, Senhor?" [quem será digno disso?] ou "Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo?". Achamos por bem nos fazer esta pergunta hoje. Acordamos que para isso era preciso querer se esforçar (subir o monte) e deixar os supérfluos para trás. Alguns amigos nos lembraram que não bastava se livrar dos supérfluos, deveríamos fitar as Leis de Deus. Eu quis estimular um pouco o que cada um nesta existência tinha de supérfluo para abandonar, de forma particular. Estimulei a reflexão individual das particularidades do Espírito que cada um é, mas senti que os amigos se esquivavam do particular pendendo sempre para as reflexões mais gerais. Dei um exemplo do meu coração sobre como estou nessa encarnação tentando me livrar do desprezo jocoso ao ouvir a dor do outro em rumo da escuta amorosamente ativa desta dor. Deixo registrado aqui a falta que sinto da presteza com que o meu querido amigo João Romário conduz as reflexões que nos fazem expor as coisas daqui de dentro.   

- Querendo seguir a bem-aventurança de limpar o coração, fomos até o jardim do Lar Chico Xavier e fomos limpando aquele solo das outras plantas que por nós não foram plantadas e que promoviam competição prejudicial com as outras que fazem realmente parte do nosso jardim. Fomos analisando o quanto extirpá-las pela raiz, ter luz para exercer este ofício e forçar o corpo inexperiente nesse afazer são importantes para não desistir. Lembramos a parábola de Jesus frente a figueira improdutiva. Alguns matos vale tirar em feixes, são as grandes comoções sobre a terra. Outros, deve-se capinar com zelo - seriam os grandes desafios que carregamos na alma a cada reencarnação? Mãos sujas, coração se limpando! Muito embora o Rabi tenha defendido os discípulos que não lavaram as mãos, nós as lavamos ao final, entendendo que a mensagem era para glorificar mais a pureza d'alma do que a porcaria a que eu estou afeito. Felicito-me neste momento em encontrar colado à passagem das MÃOS NÃO LAVADAS o seguinte versículo que coroa nossa experiência: "Toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada." (Mt 15:13). É a arte espiritual da jardinagem moral!

- Um complemento à interpretação das outras bem-aventuranças, particularmente sobre os aflitos (ou enlutados ou os que choram) e os com fome e sede de justiça. Refletimos sobre a diferença do choro de Pedro após a negação tripla e o choro de João face a face com o Jesus crucificado. Sobre a justiça, refletimos em cima do fato de "justiça" estar extremamente conectado a "lei", isto é, a palavra de Deus no Antigo Testamento. Por fim, antecedemos um pouco o assunto do "por mim" de Jesus que coroa o final do canto das bem-aventuranças. Quem é ou o que é ou será a tal consolação prometida aos aflitos, chorosos ou enlutados? E, por mais que haja divergência entre espíritas e evangélicos quanto ao consolador prometido, entendemos juntos que Jesus não é só o Caminho, a Verdade e a Vida, mas também, e por isso mesmo, a Consolação. O que o Paracleto veio fazer foi só relembrar esse fato!

- Falamos: sobre as bem-aventuranças, Jesus como o novo Moisés no monte das revelações, sobre a graça do amor de Deus que não dispensa as obras da mão do homem, sobre os estados de Espírito bem-aventurado a que Jesus nos convida para evoluir, sobre a nossa visão de salvação como educação do Espírito, sobre o chamado de Jesus que nos faz encarar a morte com novos olhos, não mais de temor, mas de ressurreição. Ah! E sobre o fato de já podermos sentir a presença de Deus, desde já, via limpeza do coração e pobreza em espírito, não precisando esperar a perfeição para isso.   

sábado, 25 de janeiro de 2014

Sobre o que define a existência das coisas



Sobre o rascunho que escrevi acerca de uma possível história do que consideramos existente na postagem anterior, um amigo querido me responde:

“Acrescentaria apenas que, para o paradigma contemporâneo dominante, não se trata apenas de ‘palpar’, mas de ser matematicamente demonstrável. Muito daquilo que consideramos hoje uma realidade, cientificamente falando, não passa do resultado de bem concatenados e amplamente revisados cálculos, cujos resultados não pareçam dar margem a dúvidas. Assim foi com a existência de Netuno, a seu tempo, dos buracos negros, do bóson de Higgs e muitas outras coisas. É claro que uma boa palpada, ainda que pelo menos visual, ajuda a conferir status de existência para qualquer coisa. Lamentavelmente, a beleza e o êxtase causados já não integram mesmo os critérios de concretude de algo. Menos dependência de envolvimento e de emotividade é sinônimo de ‘mais verdade’...”

Eu havia pensado na matemática – relutei em colocá-la. Filosoficamente, ela, enquanto procedimento que confere status de existência a qualquer ser, vem exercendo essa função desde Pitágoras, que já veio dos egípcios, que tomaram isso sei lá de onde. Ali, a coisa era tão séria, que os números possuíam aura divina. O cosmos era lógico. O logos era o cosmos. Não tardaria muito para João pegar essa noção toda e colocar no começo de seu evangelho que o Logos era Deus, que estava com Deus e que veio para Terra, recebendo o nome de Jesus.

A matematização da vida para engendrar sua compreensão tem uma vasta herança filosófica. Descartes escreverá em seu “Discurso sobre o Método”:

Enquanto, ao voltar a examinar a ideia que eu tinha de um Ser perfeito, verificava que a existência estava aí inclusa, da mesma maneira que na de um triângulo está incluso serem seus três ângulos iguais a dois retos, ou na de uma esfera serem todas as suas partes igualmente distantes do seu centro, ou ainda mais evidentemente; e que, por conseguinte, é pelo menos tão certo que Deus, que é esse Ser perfeito, é ou existe quanto seria qualquer demonstração de geometria.”

Spinoza, seu discípulo infiel, intitulará seu livro maior de: “Ética demonstrada à maneira dos Geômetras”. Leibniz se valerá do seu cálculo integral para defender a justiça de Deus no mundo, a Teodicéia.

A própria noção de Leis Naturais dos positivistas nos faz sentir o cheiro forte de uma certeza matemática que nos permite não apenas entender o presente, mas prever o futuro, o que é, novamente, um universo pitagórico da função divina (divinatória!) do número.

Mesmo Marx, esse semi-deus do pessoal das ciências sociais, resvalou nesse pensamento ao considerar seu socialismo definitivamente científico ao ponto de poder prever o colapso inevitável do capitalismo a partir do encontro de sua lei por vias, também, matemáticas. Marx utilizou a economia – não apenas a história, a sociologia e a filosofia – no seu tratado.

O fato é que, apesar de tudo, os empiristas dominam esse campo da existência: o de falar sobre a real existência das coisas. Não é a toa que Kant dirá que Hume o fez despertar de seu sono dogmático. Criticará, então, de uma forma inigualável – apenas terá herdeiros dessa crítica – tudo o que se apoia nesse caminho de provar a existência a partir de conceitos pretensamente matemáticos sem fundamentos sensíveis correspondentes.


Mas, a matemática, para nós espiritualistas, amigo João, é a grande aliada. Um pensamento que é tão forte a ponto de dispensar a matéria para nos fazer acreditar na existência da coisa, o nome disso é espírito – ou quase. Não me admira o conhecimento da astronomia se valer desse expediente. Ela também é herdeira de Pitágoras. Das ciências, é a que mais nos conduz a enxergar Deus apesar dos homens. Mas, particularmente, amigo, minha paixão nasce e renasce em tentar enxergar, nos homens, Deus, apesar de serem tão não-matemáticos!

domingo, 19 de janeiro de 2014

Vidas humanas em outros planetas ou Eu vejo espíritos em tudo - Parte II



Vou falar sobre a vida humana em outros planetas. A vida como organização biológica complexa já está quase certa. Mas, a humana, aquela dotada de história, cultura e política, dizem as fontes oficiais e hegemônicas que não.

Mas, antes de entrar nesse assunto, preciso fazer uma digressão importantíssima: sobre a história de como nós aceitamos o que é existente.

Provar a existência das coisas, atualmente, significa palpar. Um dia, na eras mitológicas, significava ouvir e se extasiar. Toda grande história cuja trama nos arrebatava, nos devolvendo uma noção de sentido da existência, deveria ser verdade. Em outro dia, na era filosófica, existir passava pelo caminho de ser coerente. Bastava que o raciocínio engendrasse uma lógica que conectasse bem todos os elementos que a natureza nos revelava. Não precisava que tudo fosse medido. Dava para ter um fundamento duro, mas que se desdobrava em realidades etéreas a que deram de chamar de metafísica. Nesses tempos, era possível se entregar, em reconhecida atitude científica, aos pensamentos sobre felicidade e serenidade. Um pouco mais tarde, na era medieval, uma grande mitologia imperou sobre todas as outras. Incrementada aqui e ali com pitadas de filosofia, mas extremamente presa às páginas de um livro sagrado. Para considerar existente era necessário que a história se encaixasse perfeitamente na Grande História do Livro Sagrado e da Tradição Interpretativa da Igreja. Devo grafar tudo isso em maiúscula.

Hoje, para que uma coisa possa ser considerada existente, é imperioso podermos palpá-la. Ainda é necessário que ela tenha uma história; que essa história convença (não mais que extasie, infelizmente); que tenha uma coerência interna e uma conexão lógica a fim de permiti-la ser enquadrada em certo tipo de tradição de textos, de escolas de pensamento e pesquisa. Mas, se ela não puder ser palpada, esfumaça-se na nossa mente e escapa da nossa crença. Claro que isso é um esquema! Vale muito mais para a academia oficial dos cientistas do que para as pessoas cotidianas. Eles mesmos, quando estão enredados no dia-a-dia, devem se curvar à exigência das crenças que não passam pelos seus critérios de verdade. Se todo objeto que manipulamos, se toda realidade da qual fazemos parte devesse passar por toda essa prova mortal de que lhes falei para ser considerada existente, morreríamos sem utilizar nada. A ingenuidade é a base da vida. Meu café-da-manhã que vou tomar daqui a pouco existe, ninguém precisa me provar nem que sim nem que não.

Precisei fazer esse parênteses, porque a existência de vida em outros planetas é desses princípios doutrinários no Espiritismo que simplesmente não temos nada palpável para apresentar. Os Espíritos podem ser palpados de forma direta, nas sessões de materialização, ou de forma indireta, nos fenômenos dos espíritos batedores ou nas primordiais mesas girantes. A reencarnação vem se tornando palpável nas pesquisas de lembranças espontâneas de vidas passadas, particularmente fortes na cultura oriental. Mas, a vida humana extraterrestre, ainda faz parte de uma história bem defendida e logicamente conectada ao arcabouço maior da doutrina, que tem o bônus de ser narrada por Espíritos e de retomar o sentimento de êxtase que nos faz sentir reconectados com um plano maior de existência, todavia ainda impalpável:

Se Deus existe e ele é todo sábio, nada de inútil pode ter feito, portanto o resto do Universo, que faz com que a Terra não seja mais que um planetinha periférico, deve ser habitado por muito mais gente do que podemos imaginar.

Como eu já havia dito no post anterior, é preciso um pouco mais de espaço, então, para falar da Humanidade. O espaço sideral é um bom começo. Permita-se viajar um pouco comigo nessa questão. Se isso for verdade, será se acreditam em Deus? Será se possuem cultos mediúnicos? Será se acreditam em reencarnação? Será se buscam intensamente a solução para a angústia que a morte de um ente querido traz? Será se buscam salvação da alma? Se buscarem? Por que meios? Que respostas encontraram para os salvar? Que visões de salvação? Se eles forem menos poderosos do que nós, o nosso homem de ciência manterá sua empáfia e não se abalará com qualquer resposta que dali vier. Se eles forem mais poderosos, as respostas que vierem lá de fora nos abalarão um bocado.

Será se já não vieram? Será se eles já não estão por aqui? Será se já não há uma política interplanetária que se desenvolve sobre a nossa completa alienação mais palpável do que esse meu pão com queijo, mais quente do que esse café-com-leite. Que apocalíptico!


Por falar em apocalipse. Esqueci de falar sobre a nossa visão do assunto. Sério! Prometo que finalizo os princípio da Doutrina Espírita com isso. Apocalipse e Soteriologia são temas irmanados. Se quiserem dar uma lida no marcador Soteriologia deste blog já vão tendo uma ideia sobre o que irei falar. Até mais!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Eu vejo espíritos em tudo - Parte I



Dos princípios espíritas, falei:
  • sobre o Deus único cristão, nossa fé e fundamento primeiro; 
  • sobre a imortalidade do espírito, comum a todos os seres viventes;
  • sobre a possibilidade de comunicação telepática entre as pessoas e mediúnica entre os Espíritos que estão fora da carne e os que estão mergulhados nela;
  • sobre a necessidade de voltar à matéria para completar o desenvolvimento do espírito que peregrina entre a ignorância total e a sabedoria plena, tudo ao lado de Deus, já que este é onipresente. 


Falta-me abordar sobre a presença dos espíritos em todas as coisas e por todos os lugares do Universo. É a que me proponho aqui e em outro post

Estes dois princípios são os mais polêmicos, tendo sido sensato deixá-los por último. Mas, não são menos encantadores, sendo estratégico finalizar por aqui. 

Existir espíritos em todas as coisas significa que em cada ser, do reino mineral ao reino angelical, da pedra ao arcanjo, existe um espírito que vive e se elabora dentro de seus elementos. Provindo de uma matriz que lhe deu à luz, escapulido de uma nuvem de inteligência, é enrolado na matéria para que esta lhe aqueça com os desafios e as lições que cada estágio em situações diferentes pode lhe proporcionar. A elaboração das estruturas cristalinas, a pulsação dos primeiros movimentos celulares, a busca pelos motivos primeiros de crescer e se desenvolver, os primórdios do respeito à vida em si na fuga pela sobrevivência, o aprendizado dos rudimentos de amor, da maternidade, da paternidade, da comunidade, e até mesmo a fruição da verdade, ao mesmo tempo divina e selvagem, de que nós somos devoradores e devorados de tudo, por tudo, misturados nesse mar de criaturas. Em certo momento, emergimos, tomando o fôlego da vida humana, ainda tão animal, mas cheia de liberdade para se transcender em impulsos autônomos, não mais autômatos, pelo menos não em primazia. É aqui onde mais ou menos nos encontramos nessa história do espírito. Fruindo o amor e o ódio de cada dia, sonhando com a angelitude que nos livrará no cosmos. 

Essa visão não é nova - nada no Espiritismo é. Podemos encontrá-la em muitas mitologias de variadas culturas. Antes de provar nosso plágio, reforça essa realidade. Kardec viveu em um período que a cultura não-ocidental era tida como bárbara, e ainda estava longe dos etnógrafos apresentarem a perspectiva do respeito à diferença que conduziria a predisposição que temos hoje de ouvir os e mesmo aderir aos mitos dos outros. Estas informações foram fruto da revelação dos Espíritos. 

Em O Livro dos Espíritos Kardec não fecha o assunto sobre se o espírito estagia em outros reinos em uma sucessão progressiva até o nosso, ou se já inicia no humano. Mas, de forma sagaz deixa como princípio possível. Por que ele não rejeitou esta revelação como o fez com tantas outras, que devem ter se perdido no seu escritório, reservando-lhe, ao contrário, um lugar todo especial no livro fundador de nossa doutrina? É que ela traz uma visão de conjunto que aumenta em muito a grandeza de Deus em sua magnificente obra da criação. 

Nada é inútil no universo e toda a matéria se conecta por laços de finalidade que conduzem o espírito em uma escalada de aprendizado rumo ao seu desenvolvimento pleno. Muitos cientistas olhavam com desprezo e faziam chacota da teoria darwiniana, que defendia nossa descendência dos símios. Muitos filósofos olham com desgosto essa nossa queda para a metempsicose pitagórica, que enxergava a possibilidade de migrarmos entre os mais diversos reinos da natureza. Pessoas comuns se espantam com os caminhos que os budistas tibetanos constroem para as formigas, entendendo que elas podem ter sido pessoas muito queridas em outras vidas. Muito embora a visão espírita seja de uma escalada progressiva e sem volta, isto é, cada reino se distingue do outro por caracteres tão díspares que não faria sentido voltar para um campo em que já se adquiriu as habilidades nele contidas, é de se admirar, com sincera abertura de espírito, todo aquele que se desapega um pouco da importância do eu e se entende como ator de  uma majestosa peça que transcende os limites do palco da humanidade.


Por falar em transcender os palcos da humanidade, é sobre isso que versa a existência de espíritos em todos os lugares do Universo, ou ainda, a pluralidade dos mundos habitados. A Terra é uma das moradas que Deus criou para seus filhos. Mas, acho que preciso de um pouco mais de espaço para falar dessa vida que pulula por aí afora. Findo temporariamente por aqui.