domingo, 9 de junho de 2013

Imortalidade e Imoralidade




O filósofo Clóvis de Barros Filho esteve no programa do Jô expondo suas elucubrações com muita didática e, acredito, muita justeza. 

A definição de moral ele a atrelou aos conceitos de invisibilidade ou invencibilidade que, para esse caso, acredita ser a mesma coisa. 

Veja os exemplos tanto mais significativos quanto mais cotidianos: 

Exemplo 1: Uma cédula de dois reais no chão. Ninguém por perto a quilômetros. Nenhuma câmera da polícia. Se apropriar ou não se apropriar? E se fossem os cem reais exatos para quitar uma dívida? 

Exemplo 2: Uma festa distante, em outra cidade, nenhum conhecido. O namorado nem imagina onde você está. Um menino lindamente atraente. O corpo se sente agradado pelo dele. Trair ou não trair? 

Exemplo 3: Você, um velho. Sua esposa, também, mas acamada, muda, neurologicamente estática. Há anos você cuida dela. A doença só piora. A qualquer momento ela pode morrer. Você está cansado, exausto, esgotado e sozinho. Todos os filhos se foram, ou melhor, não houve filhos desse relacionamento. Sufocar a sua esposa com um travesseiro ou não? Tudo indicaria que ela morreu de afecção respiratória. 

O prof. Clóvis se ateve aos casos de invisibilidade, mas para o Espiritismo esta é ilusória. Os Espíritos e o Grande Espírito tudo vêem. Mas, a invencibilidade...

Leia-se imortalidade. O que os Espíritos nos falam é que não morremos. Pior, que podemos voltar para consertar o que erramos. Ainda pior, que, independente de qualquer caminho que escolhamos, chegaremos a felicidade ao lado de Deus. Por que pior? É que isso é um prato cheio para que tenhamos o pretexto da liberdade ilimitada, agora mais que nunca. Os defensores modernos desse estilo de vida o fazem pela finitude da condição humana. Alguns espíritas o fazem pela infinitude da misericórdia divina. Se teremos a salvação custe o que custar ao final, aproveitemos o presente instante. 

Poderão lhes contra-argumentar o umbral em vez do inferno, os obsessores no lugar dos demônios, as dores e os dissabores de vidas de expiação. Contudo, nenhum sofrimento é tão grandioso ao ponto de cobrir o fim glorioso da existência espiritual. Todas as contradições e angústias se desvanecerão quando estivermos ao lado do Criador. Ele é o imã universal que nos atrai apesar de toda a resistência. Nossa liberdade um dia se curva e se deixa arrastar.

O questionamento ético, então, para o Espírito invencível, para o Espírita convicto, é mais atual que nunca. Não é mais uma ameaça divina que nos entrava de fazer o mal, mas uma reflexão moral que nos conduz ao bem, por nossa conta e risco

O que fazer com a imortalidade e a certeza de que necessariamente seremos felizes? Protelar até quando a dor nos amputar todos os membros? Não. Novos membros sempre renascerão! Aqui e ali defeituosos, depois cicatriza. Eu busco entender o que é o Certo e segui-Lo no que posso, procurando que esse possível seja o máximo. Mas, se o limite humano me constranger, por vezes paro e me aquieto, outras me forço e elevo o espírito ainda mais alto - ao passado não retorno mais. 

A máxima que coloco no pórtico do meu oráculo é: ser um homem de bem não por temer o pecado, mas por amar a virtude.

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