"... a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as conseqüências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis." (L.E. 685a)
A partir da minha adolescência não tirei essa frase de Kardec da cabeça.
- Então, os males do mundo se devem muito a como fomos educados?! - admirava.
Dizem que Freud falou que se o método de Maria Montessori fosse vivenciado com todas as crianças, não se precisaria mais de psicanalistas.
Então, vim alimentando que precisávamos investir na educação. Fui evangelizador de crianças e quase desisti de medicina para ser professor. Idealista!
Hoje vejo o quanto essa "arte de formar os caracteres" é difícil. Meu filho começou a fazer birra. Compreendeu que calar o choro dele é das mais importantes coisas para as pessoas ao redor. Estávamos nos curvando para isso incoscientemente, e a pediatra hoje nos advertiu sobre o erro que é ceder a esse tipo de comunicação. É um garoto muito esperto, no mais. Contudo, vem utilizando o nosso amor de forma antagônica ao seu crescimento, à sua independência.
Ninguém poderia ter muita crítica sobre nós. Primeiro filho, fazemos o possível para dar o melhor para o garoto. Não apenas brinquedo, mas presença, carinho. Nesses últimos dias, porque me vi livre do mestrado que me consumia, estive sempre brincando horas seguidas com ele. Desde sempre revezo o banho, o ninar e escrevo poesias para ele. Mas, eis que ele resvala nessa fase da birra, do choro imotivado, mas também e principalmente, do choro tirânico ao invés da comunicação civilizada.
A pediatra disse que teremos de ser pacientes e firmes, sem perder o carinho. Convidar sempre para a conversa olho no olho, estimular ao aprendizado de nomear as próprias vontades. Nós e todos ao redor.
Quando a coisa depende da gente, a mudança poderia ser mais simples, porém ao envolver todo o ambiente relacional, complica um pouco. Como mudar as outras pessoas? Vigiar seu atos? De outro modo, precisamos tanto delas. Venho precisando de horas de sono além do comum, pois desenvolvi enxaqueca com esta profissão que me priva do sono em estudos e plantões. Minha esposa também anda cansada, motivos semelhantes.
Vamos tentar, claro! E continuar tentando.
Mas, fica aqui, de novo, a reflexão do quanto nossos caracteres são complexos e a sua educação penosa. Somos tão pequenos diante da quantidade de interações que se misturam no Espírito de nossos filhos. Mais lá na frente, chegarão a apontar o dedo e nos culpar por isso ou aquilo. Terão razão e não terão. Terão razão porque realmente fizemos ou deixamos de fazer algo que se tivesse sido o contrário talvez (!) tivesse mudado o que ele chamará, então, presente. Não terá razão porque somos apenas uma causa entre mil outras.
- Lembra-se da vez em que choveu tanto em nossa cidade que o céu ficou negro por dias seguidos, mirrando o feijãozinho que você tentava cultivar no algodão plantado no pires à sua janela? Você amava tanto aquele experimento, e ele feneceu. Sua culpa? Não. Nossa culpa? Não. Do sol? Da chuva?
Mãos a obra! Mais vale pegar outro feijãozinho e tentar de novo, e de novo, e de novo...