terça-feira, 30 de setembro de 2014
Sobre o medo que temos dos Espíritos
Uma colega de trabalho me fez a seguinte pergunta: "Venho sentindo muito a presença de Espíritos em minha casa. Às vezes tenho até medo de olhar e ver. Quando temos medo de ver o Espírito é porque ele é ruim?"
Não acho. Temos medo de quase tudo que nos é desconhecido. Muitas pessoas dizem que tinham medo de mim antes de me conhecer. Não que eu seja uma pessoa boa, mas não me considero ruim. Acho mesmo é que estamos completamente desacostumados com essa realidade espiritual ao nosso redor.
Nossos últimos séculos corroeram a crença de que há Espíritos espalhados em todo o lugar, em tudo, em todos. Desencantaram o mundo, dizem. Mas, esse desencantamento possui conseqüências graves. Como que produzindo o seu contrário, o século das Luzes desemboca na era do extermínio das raças. Se você é uma ameaça para mim, basta que eu não te conceda o certificado de meu semelhante para que eu possa te exterminar. É quase como se fosse um não-existente. Se eu não te enxergo como merecedor do status de existente, facilmente posso te extinguir do meu quadro de possibilidades de vida. Falo do holocausto dos judeus, mas dos abortados também.
Entendem onde quero chegar? Se não pudemos matar os Espíritos, fizemos com que pelo menos fossem inverossímeis. O status de existente deles foi ridicularizado. E isso foi mais uma estratégia política-ideológica do que científica. Essa realidade espiritual-divina era usada para justificar poderes mágicos para classes nobre-sacerdotais que impediam outras classes de ascender ao poder.
Tolice! Os Espíritos não conferem nem justificam poder à classe alguma. Eles, somos todos. É isso o que nos falta ver. Quando assimilarmos essa identificação visceral entre nós, ver Espíritos será tão natural quanto respirar.
(Certamente, eu respondi para ela só aquele primeiro parágrafo em negrito. O resto desenvolvi aqui pro blog).
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
As pessoas que vivem em mim
Um amigo me pegou falando sobre o que acredito ter sido minhas encarnações passadas. Uma delas é sobre a que papai acreditava: ser eu seu próprio pai.
Embora querendo respeitar minha crença, o amigo perguntava se eu não estava de má-fé, deixando-me levar pelos condicionamentos que os outros colocaram sobre mim. Tipo, não assumir a vida com a autenticidade de tudo o que sou hoje, mas carregando o peso de tudo o que o passado diz que devo ser. Até mesmo justificando as atitudes pelas tais "encarnações passadas".
Respondi carinhosamente:
- As minhas encarnações não me soam mais como justificativas, mas como álbuns cheios de fotos queridas. Aqui e acolá vou entendendo o animal que fui, o anjo que estou longe de ser. E vou reencontrando todas as pessoas que amei, que amo. Porque uma das mais fortes razões para eu acreditar em encarnação não é apenas não conseguir encontrar justiça para as aflições atuais apenas nessa vida, sem ceder à hipótese do acaso, mas, principalmente, de não conseguir encontrar razão suficiente de amar tanto e tão profundamente certas pessoas e não outras.
Sobre meu pai achar que fui o pai dele, não me pesa de forma alguma. Fiquei sabendo disso depois que ele morreu. Ficou como a lembrança mais doce que guardo. Eu e ele, se revezando nos dramas da vida, tentando deixar crescer cada um por sua vez.
A cena em que revelou isso para mamãe:
Entrei no quarto deles para pegar um dinheiro e sair com a namorada. Entrei e saí. Pedi quase sem pedir. Ela reclamou que eu gastava demais. Ele a silenciou, sussurrando: "Deixe! Ele trabalhou muito na roça para que eu conseguisse chegar onde eu cheguei..."
Embora querendo respeitar minha crença, o amigo perguntava se eu não estava de má-fé, deixando-me levar pelos condicionamentos que os outros colocaram sobre mim. Tipo, não assumir a vida com a autenticidade de tudo o que sou hoje, mas carregando o peso de tudo o que o passado diz que devo ser. Até mesmo justificando as atitudes pelas tais "encarnações passadas".
Respondi carinhosamente:
- As minhas encarnações não me soam mais como justificativas, mas como álbuns cheios de fotos queridas. Aqui e acolá vou entendendo o animal que fui, o anjo que estou longe de ser. E vou reencontrando todas as pessoas que amei, que amo. Porque uma das mais fortes razões para eu acreditar em encarnação não é apenas não conseguir encontrar justiça para as aflições atuais apenas nessa vida, sem ceder à hipótese do acaso, mas, principalmente, de não conseguir encontrar razão suficiente de amar tanto e tão profundamente certas pessoas e não outras.
Sobre meu pai achar que fui o pai dele, não me pesa de forma alguma. Fiquei sabendo disso depois que ele morreu. Ficou como a lembrança mais doce que guardo. Eu e ele, se revezando nos dramas da vida, tentando deixar crescer cada um por sua vez.
A cena em que revelou isso para mamãe:
Entrei no quarto deles para pegar um dinheiro e sair com a namorada. Entrei e saí. Pedi quase sem pedir. Ela reclamou que eu gastava demais. Ele a silenciou, sussurrando: "Deixe! Ele trabalhou muito na roça para que eu conseguisse chegar onde eu cheguei..."
domingo, 7 de setembro de 2014
O batismo no Espiritismo
Não há. Não oficialmente, com manual de instruções.
O Espiritismo não nasceu para oferecer novos ritos para o mundo. Kardec deixou claro em 1862 que o Espiritismo deveria servir de base científico-filosófica para todas as religiões que se sustentassem sobre a imortalidade da alma, cada uma devendo seguir seus ritos próprios, cada homem, o que lhe oferecia a sua religião. Devolver o cético à crença, eis o que Kardec considerava o grande feito dessa nova doutrina.
O Catolicismo, particularmente, não só discordou dessa nossa função, como nos considerou ora mentirosos ora adoradores do demônio. Chegou a excomungar todo aquele que se confessasse espírita e continuasse freqüentando a missa. É que Kardec acreditava, no início, que, sendo o Espiritismo apenas a ciência que poderia embasar a crença, o homem poderia perfeitamente ser espírita-católico, espírita-judeu, espírita-árabe. Não se deu bem assim.
Os tempos amadureceram. Ainda recebo cara feia de algumas pessoas quando me revelo espírita. A maioria, graças à Deus, me devolve um "é por isso que o senhor é tão calmo!". Tornamos o Espiritismo nossa forma de enxergar Deus e Sua criação, portanto, nossa religião. Mas, ficou ao encargo de cada um decidir como seriam os ritos que marcariam as grandes etapas da vida. Alguns traduzem o que a sua igreja anterior fazia para o contexto em que vive agora.
Meu filho está prestes a ser batizado conforme os ritos católicos, raízes culturais e afetivas de minha esposa. Perguntaram-me se eu iria aproveitar e me batizar também. Respondi de pronto:
- Já sou batizado.
- Mas, você não é espírita de berço?
- Sim, e já fui batizado.
Geralmente, quando o espírita fala assim entra dentro de uma querela teológica que diz que Cristo, embora tendo se submetido ao batismo, nunca batizou, ou que nosso batismo já não é com água, mas com Espírito. Não é a nenhuma dessas formas de batismo a que me refiro quando falo assim.
Pouco depois de ter chegado em casa, vindo da maternidade, papai convidou mamãe para a sala, deitou-me no berço, abriu o Evangelho Segundo o Espiritismo nas preces sugeridas por Kardec para serem proferidas a um Espírito que acabara de nascer e, em coro com ela, estendendo as mãos sobre mim, disseram assim:
"Meu Deus, confiaste-me a sorte de um dos teus Espíritos; faze, Senhor, que eu seja digno do encargo que me impuseste. Concede-me a tua proteção. Ilumina a minha inteligência, a fim de que eu possa perceber desde cedo as tendências daquele que me compete preparar para ascender à tua paz."
Sem festança, sem alarde, porque o velho não gostava disso. Com amor, com disciplina, porque era militar de carteirinha, entendeu agregar-me assim entre os encarnados, e assumir, por toda a vida, a responsabilidade de me preparar para ascender à paz de Deus. Foi assim que fez com minha irmã, será assim que, depois da missa, gostaria de fazer com meu filho.
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