sábado, 10 de agosto de 2013

O Orgulho e a Humildade



Eixos centrais da palestra proferida ao dia 09 de agosto de 2013. 

Para abordar este tema poderia ter me atido à análise dos conceitos ou mesmo à elucubração sobre muitos exemplos que é mais ou menos o que o Espírito Lacordaire decide fazer em O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Mas, há pouco tempo estive na casa de uma senhora fazendo o culto do Evangelho no Lar a fim de melhorar o ambiente espiritual que parecia piorar sua doença e me deparei com uma mensagem estranha, porque aparentemente sem conexão com o caso:  “É acertada a beneficência, quando praticada exclusivamente entre pessoas da mesma opinião, da mesma crença, ou do mesmo partido?”. No que o Espírito Lázaro responde: “Não, porquanto precisamente o espírito de seita e de partido é que precisa ser abolido, visto que são irmãos todos os homens.” (ESE 20:13)

Decidi, então, me aproximar deste tema por este litoral: como sair da seita (instaurada pelo orgulho da raça) para a humanidade (enxergada como família pela humildade de expandir minha pertença ou de aumentar meu coração)? Objetivo secundário era fazer entender por que os Espíritos que presidiam aquele Evangelho no Lar intuíram essa passagem no trato das dores daquela senhora.

Kardec analisa em A Gênese que o egoísmo faz parte de um momento evolutivo do ser espiritual. É o fundamento do instinto de sobrevivência. Quando nos domina os instintos, ele impera. Mas, a necessidade de se aglomerar, para otimizar a sobrevivência, provoca furos no egoísmo a fim de permitir a solidarização dos interesses do bando, da horda, do clã, do geno, da cidade, etc. E isso é um primeiro estágio de humildade e um primeiro amor. 

Há humildade sempre quando curvamo-nos diante do outro pelo reconhecimento de nossa necessidade dele. Há amor sempre quando envolvemos, nesse ato, o coração. Geralmente a humildade é uma das faces do amor. Nessa fase inicial, o amor predomina em sua feição erótica, aquela que necessita do outro, que quer o outro para si. São os meus familiares, a minha raça, a minha seita. Não raro é seguido de um amor mais depurado, a filia, a amizade. Que já não mais quer, porque já tem, e se enternece não com a posse, mas com a simples presença. É quando se encontra uma pessoa querida, fazendo um sorriso nascer de súbito. Todavia, ainda aí há seita. Como chegar a ser humanidade?

O orgulho deve ser diminuído ao mínimo ou deve se expandir ao máximo (ter orgulho de ser humano e não de ser judeu ou cristão). A humildade deve lhe reduzir ao mínimo ou lhe elevar ao máximo (se ver o menor dos seres ou ver igual dignidade em tudo o que existe, portanto se ver igual a todos os seres, filhos de Deus). Há dois caminhos para se chegar nesse ponto: o amor que nos arrebata do domínio do eu ou a dor que, humilhando-nos, destrói o eu. Não que temos de perder a identidade para chegar lá, é menos uma questão de anonimato do que de acolhimento. Quando o eu abraça tudo o que existe, vira Eu - sou eu integrado ao Todo, se pensado de forma laica, ou à Deus, que é como acredito. Esse amor que nos expande para além de qualquer limite que havíamos imaginado é o ágape

A forma mais clara de se praticar o ágape, já falamos por aqui, é amar ao inimigo. A forma mais fácil de entender esse amor é vê-lo na relação entre pais e filhos. Amar ao que não é amável ou ao que ainda não nos deu motivos suficientes para ser amado. Amar, inclusive, àquele que poderá dar motivos suficientemente para odiá-lo, mas amar! Em uma palavra, Amar sem motivos. 

Enfim, por que aquela mensagem caiu em nosso Evangelho no Lar? Os Espíritos que nos guiam nas sessões de desobsessão haviam dito que aquela senhora participava de uma obsessão grave. No processo terapêutico desobsessivo, quem deve ser ajudado? Devemos prestar beneficência exclusiva ao obsedado? Não! Setenta vezes sete vezes não! Todos devem partilhar do bem que se pretende espalhar nesse processo. A maioria reza, e não era diferente no caso dela, para que o obsessor seja afastado, desterrado, expulso, só não morto, porque já está. Poucos se entregam a uma prece que acolha o obsessor em seus pedidos de melhora, de libertação, de cura. 

O Espiritismo, levando o amor ao próximo de Cristo para além das fronteiras da carne, convida a enxergar a humanidade para além dos limites da matéria.