quarta-feira, 15 de maio de 2013

Reencontrando a Verdade





(Toca vinheta)

Allan Denizard: Estamos aqui com mais um caso em “Reencontros com...”. Já nos aproximamos do assunto das reencarnações nas famílias pela ciência e pela psicologia, sempre abordando seus conflitos. Hoje, receberemos a visita de mais um pai que tem memórias que circundam o vínculo com seu filho, bem como a de um padre que haverá de expor o posicionamento da igreja hoje [em 4015] sobre o assunto. Como é o nome do senhor?

Pai: Allan Denizard. 

AD: Ora, vejam só! Meu xará! Conte-nos um pouco, Allan, sobre o relacionamento com o seu filho, desde quando as memórias de outras vidas lhes perseguem?

Pai: Pra falar a verdade, Allan, elas nunca deixaram de existir. Eu não diria perseguir, é forte, é assustador. Não é uma caça. São lembranças.

AD: Mas, lembranças todos nós temos.

Pai: Isso! Todos nós. Acho que ao contrário das memórias, lembranças são mais vagas, são mais doces. 

AD: Então as lembranças do seu filho não te perturbam?

Pai: Por que perturbariam? São elas que vão me manter vivo dentro dele quando eu não estiver presente. Não podemos viver só do presente, sabe?! A vida é pra ser vivida, claro! Mas temos de viver também a saudade. Temos de viver também a esperança. Não acredito só em um Homo sapiens, acredito em um Homo amorosus. E para amar precisamos lembrar de quem amamos. Precisamos esperar a pessoa amada. Esperar mesmo ser amado. Ter saudade de quando o fomos. Sentir falta se hoje não somos. Esperar ainda ser. O que seria de nós sem as lembranças?

AD: O que o senhor tem a dizer disso, padre?

Padre: Continue, Allan...

Pai: Então, seríamos um desenho em um papel. Só um. Não mais, nem menos. As lembranças nos dão dimensões. 

AD: Tudo bem. Mas, você fala isso desta vida. O que estamos abordando no programa são as muitas...

Pai: Lembranças! A vida é uma só. Ou talvez, Allan, as mortes são muitas e não só a do corpo. A palavra que acabou de sair da minha boca foi, nesse instante, sepultada no vento. Por que você continua seguindo o fluxo da minha fala? Por que você ainda entende o que digo? É que você se lembra da vida do meu verbo antes da vida deste que agora vem em contínuo devir da minha boca. 

AD: Isso você diz porque, ao contrário de muitos pais que estiveram aqui, seu filho ainda não te renega. Se ele vier a fazer isso, como você vai se portar?

Pai: Peço a Deus que eu me porte com sabedoria. A negação dos filhos contra os pais não é de 4015, é desde que o primeiro homem percebeu não ser igual ao outro. Eu preciso, mais dia ou menos dia, dizer: eu não sou você, você não é eu. Vai doer? Não duvido. Vou crescer? Duvido menos ainda. 

AD: Gostaria de falar alguma coisa, padre?

Padre: Gostaria de pedir para o Allan continuar. 

Pai: Pois é, obrigado padre. Acho a maior das bobagens esse seu programa, Allan Denizard. Queria muito que os pais que estivessem assistindo a ele, preocupados com as memórias dos filhos que lhes escapam, estivessem dedicados a brincar com seus moleques. O pior da brincadeira é brincar sozinho. Já pensou se o seu parceiro ou oponente sempre fizesse o que você esperasse? Seria o fim dos tempos! E uma das coisas que as lembranças nos ensinam é que a vida passa e se torna tempo - o tempo que passou. A gente tem que aprender a se importar menos com o que vem decorado pelos nossos filhos e se importar mais em decorar nossa relação com eles. Decorar de decoração e não de decoreba. O que vai permanecer no Espírito dele para sempre não vai ser o que eu fiz ele repetir, mas o que ajudei ele a inovar, renovar. E essa aventura do novo é uma que só se dá nas navegações do amor. 

AD: Obrigado pela sua participação, Allan. Eu realmente gostaria de ouvir alguma coisa que o senhor, padre, tem para falar. 

Padre: Eu não. 

sábado, 11 de maio de 2013

Casos de outras famílias




(Toca vinheta)

Allan Denizard: Estamos aqui novamente com “Reencontros”. No programa passado, tivemos aqui um pai que sofria ao lado do filho com memórias bem vivas da última encarnação. Contamos com a fala esclarecedora de um cientista da USP, cujo laboratório se consagrou na pesquisa das memórias genéticas de outras vidas. Hoje, temos mais uma história de conflitos familiares com as reencarnações, contudo, não com a presença viva delas, mas com a sua possibilidade. Bom dia, Sr. Jocicleudo! Conte-nos um pouco a respeito da sua angústia. 

Jocicleudo: Você falou bem, Allan, é uma angústia! Não que meu filho esteja manifestando ter pertencido já a outras famílias, mas é que hoje se fala tanto disso [lembrando que estamos no ano de 4015] que eu não consigo mais olhar para ele e não ver um estranho em minha casa. Ele me sorri afetuosamente, me pede carinho. Não que eu não ofereça, mas é que o faço com asco. Penso naquela pelugem que ele carrega ainda no rosto, e sinto uma barba grossa. Ouço seus gemidos infantis, e escuto um vozeirão enorme. Vejo-o calmo nos braços da mãe, e muitas vezes tenho vontade de arrancá-lo dali porque ela é minha mulher e não dele. Não sei mais o que fazer. Ele é frágil, pequeno, inocente, mas eu o vigio, como se a qualquer momento pudesse se rasgar a pele e se revelar um monstro. 

AD: Para tecer algumas considerações sobre isso, temos o prazer de ter aqui conosco o psicólogo Dr. Jungudo Ibirapuera, especialista em psicologia transvital, professor da faculdade de psicologia da Universidade de Ribeirão Preto. É um caso ainda mais complexo do que se a criança já revelasse seu passado, não acha, professor? 

Jungudo: Enquanto o Sr. Jocicleudo falava sobre o drama com o passado do seu filho, fiquei recordando o drama nosso com o passado da psicologia no que diz respeito às encarnações passadas. Hoje, que a ciência chegou junto de forma quase inquestionável (pois há quem questione, sempre haverá!), que até mesmo grandes ramos das ciências humanas acreditam na hipótese de outras vidas, havendo exceções que só servem para confirmar a regra, fiquei pensando que os devaneios que tínhamos no passado sobre vivências pré-uterinas, como que participantes de um imaginário elaborado pelo inconsciente do indivíduo, não têm mais a mínima razão de ser. Fiquei imaginando como nós do ocidente pudemos ter ficado tanto tempo cegos para essas memórias extra-corpóreas quando mais de três quartos do mundo acreditava ou tinha abertura para acreditar nisso. Chamávamos de superstição. Mesmo a história da humanidade nos resgatando constantemente esta crença presente nos livros sagrados das grandes civilizações, chamávamos de infantilidade do homem místico. A genialidade de um certo Sigmund Freud havia tentado conectar esses sentimentos de hostilidade pai-filho com a mitologia grega, com os vaticínios agourentos de adivinhas, com um destino urdido por deuses que determinavam as vidas das pessoas antes mesmo de elas nascerem. Para Freud, não era uma questão de deuses exteriores, mas de forças íntimas em conflito. Atualmente entendemos que, embora as forças íntimas não sejam desprezíveis, as agonias de outras encarnações não o são menos. Por que o Sr. Jocicleudo ao invés de estranhar repulsivamente seu filho, como que a um inimigo, não o acolhe amorosamente, como que a um irmão? Duas respostas: porque seu filho realmente pode ter sido um inimigo e/ou porque a forma da relação pai-filho que existe em seu inconsciente é conflituosa. O inimigo dele reencarna já em uma forma de se relacionar patológica. Se assim não fosse, aquele que vivenciou uma relação com o pai tranquila teria como que um casulo afetivo que poderia acolher amorosamente o rebento que se apresenta, ainda que descendente de uma inimizade prévia. Seria uma sublimação. Aprendam isso pais: quanto mais se foi amado, mais se é aberto para amar!

AD: E como a psicologia pode tentar resolver isso, professor?

Jungudo: Trabalhando o indivíduo nos dois caminhos que evidenciei. Encontrar os nós que entravam ambas as relações pai-filho. Ajudar o analisando a desatá-los. 

AD: É preciso regressão de memória para isso, não é?

Jungudo: Não, percebemos que não. Na maioria dos casos as memórias já estão presentes até demais nos discursos, só que codificadas. É preciso um intenso trabalho de conscientização na memória atual. O que acho imprescindível é o perdão. 

AD: Não perca no próximo programa, aqui, o que a religião tem a dizer sobre isso. 

domingo, 5 de maio de 2013

Lembranças vivas de vidas passadas



Entrevista em programa televisivo com especialistas sobre o assunto Reencarnação e Criação dos filhos. Gravado em 4015, levado ao ar às oito horas da manhã, de nome Reencontros com Allan Denizard

(A população assiste sem consternamento, mas com sincero interesse, ao assunto enquanto toma seu café-da-manhã porque, a essa altura, reencarnação foi provada até em laboratório). 

AD: Estamos aqui com um pai de família cujo filho se lembra de quem foi em uma encarnação passada. Senhor Sigismundo, como é viver com um filho que não passou pelo processo de esquecimento ao reingressar na matéria?

Sigmundo: É meio complicado sabe, Allan. A gente fica sonhando com tudo o que ele viria a ser, aí quando ele começa a falar, já se mostra cheio de vontades e com uma identidade que eu não ajudei a formar. Desde o início ele já me diz não para tudo o que eu ofereço, como se ele reagisse à minha influência. Sem falar nas comidas. Qualquer bebê normal, na medida que a gente vai insistindo, vai cedendo aos pratos que a gente tenta colocar na alimentação dele. Esse não! Era como se o que ele gosta e o que ele não gosta já estivesse bem vivo na língua. 

AD: Imagino o quanto deve ser sofrido para o senhor querer ser pai de alguém que, mesmo sendo seu filho biológico, não é seu filho de verdade. Mas, vamos ouvir o que o cientista do laboratório de Genética e Reencarnação da Universidade Federal de São Paulo tem a dizer. E, então, Dr. Estevesonildo, como a ciência explica essa anormalidade congênita dessa criança?

Estevesonildo: Então, Allan, boa tarde a todos de casa, eu faço parte de um laboratório que trabalha com pesquisa do comportamento das pessoas na sua manifestação desde as células. Esse nosso laboratório vai completar um século desde que descobrimos que existe uma sequência de genes específicas que é responsável por inibir ao máximo a manifestação das informações cognitivo-comportamentais que descendem de alguma vivência pré-concepção. Todos nós sabemos desde o ensino básico que os genes são a estrutura material que carreia informações para tudo o que acontece no corpo. Pares de bases são o alfabeto da vida. Então, foi uma revolução quando descobrimos que, nos meninos e meninas que se lembravam do que chamamos de "vidas passadas", encontramos pares de bases idênticos, na sequência responsável pela memória, aos que se encontram nos indivíduos de quem elas diziam ser a reencarnação.

AD: Mas, os pares de bases do DNA desses indivíduos já não haviam se decompostos?

Estevesonildo: Alguns sim. Mas, outros, aqueles cujo período entre a morte e o renascimento foi muito curto, conseguimos ainda, com técnicas de recuperação genética à base de silício1919, reaver a sequência que precisávamos. Com isso, conseguimos esse achado. Percebemos, então, analisando as informações genéticas de zigotos de laboratório que, no setor das memórias, diferente do que alguns antepassados nos diziam, não somos uma tábula rasa. Se fôssemos, nesse setor não haveria expressão gênica ainda, cabendo ao desenvolvimento pessoal o despertar da fabricação proteica das lembranças. Nesse lugar, mesmo nos zigotos, já havia intensa elaboração de lembranças.  Não falo pensamentos, porque estes são produzidos em outros setores genéticos, falo mesmo de lembranças. O mais extraordinário, é que essas proteínas, a que demos o nome de mnemosines, são inativadas automaticamente, após produzidas por uma enzima que denominamos de mnemosinases, responsáveis pela, por assim dizer, amnésia dessas lembranças. 

AD: E o que isso tem a ver com esse caso?

Estevesonildo: Tudo! O que acontece com essa criança e com muitas outras com essa mesma patologia é que lhes faltam a enzima mnemosinase. Estamos trabalhando para a criação de um remédio que possa devolver a amnésia das lembranças de vidas passadas para elas. Os primeiros resultados foram desastrosos. A enzima era forte demais e acabou provocando um esquecimento não reversível para o resto da vida. As crianças não conseguiam se lembrar nem dos segundos imediatamente anteriores. É um efeito colateral possível, mas estamos levando adiante, com toda a ética que temos em mão, para a consagração desse feito. 

AD: Obrigado pela sua participação, Dr. Estevesonildo, pela do Sr. Sigismundo. Não percam no próximo bloco: o que os psicólogos e a religião tem a dizer sobre essa situação? E para você, que está nos assistindo, se o seu filho tem alguma lembrança de vida passada que lhe incomoda, ainda que não tenha assumido completamente a identidade da outra vida, entre no nosso chat, converse com nossos convidados. As discussões continuam nos intervalos. E, em instantes, voltaremos com mais “Reencontros com Allan Denizard” (toca vinheta).