Dei esta palestra falando sobre o que aprendi com um grupo do qual me desliguei porque a vida me forçava prioridades familiares, e também porque minha linha de estudo flutuava para outra direção.
Contudo, para não ser tão ingrato, deixei bem claro o quanto o que iria falar se devia à professora Ângela Linhares. Não sei se ela concordaria com esta minha sistematização de seu pensamento, até porque ela não se sente dona de um pensamento para ser sistematizado. Todavia, as conversas que tínhamos por horas na busca de me iluminar formas de pensar espiritamente a vida gerou essa busca de síntese que vocês poderão ouvir no áudio que compartilho mais adiante.
O que aprendi?
Quando pensamos em pesquisa, estamos acostumados com estatísticas e estudos de caso-controle. Temos de provar a relação causal de um fenômeno sobre outro, ou a eficiência disso e daquilo.
Ângela Linhares me ensinou que nada disso pode acontecer sem antes nos reconhecermos como sujeitos apaixonados, movidos por ânsias e encantamentos. Só na medida que nos situamos na própria vida, fazendo encarnar o eu-pesquisador, é que podemos passar a tentar a objetivar algum olhar.
Os números são importantes, mas apenas como início. O grosso do que podemos captar no campo do estudo está nas falas das pessoas, cujo peso tem uma singularidade sem par. Tanto melhor se pudermos fazer com que elas vivam o que pesquisamos, participem conosco do movimento de construção de todo o castelo teórico.
Não sei se podemos voltar a fazer ciência nos moldes da física clássica, objeto de estudo separado de um sujeito-observador inerte, depois que descobrimos na história da epistemologia como verdadeiramente podemos estudar culturas.
Os sociólogos e os antropólogos clássicos ainda quiseram objetivar a cultura das pessoas reduzindo-as a estruturas. Mas, Allan Kardec se abriu de tal modo que deixou os próprios Espíritos guiarem seus trabalhos. É esse comportamento que buscávamos ao fazer estudos com a Ângela.
Outra questão era não cindir a realidade. Sempre se esforçar por enxergar as coisas em sua complexidade. Era como se tivéssemos que ver espírito e matéria ocupando o mesmo espaço. Nunca dicotomizar. Sempre era isso e aquilo, nada de isso ou aquilo, isso e não aquilo. Como este isso e aquele aquilo podem dialogar e serem enxergados como parte de um mesmo todo.
Nossos olhos tinham de estar preparados para ver o grande no pequeno. Tudo em qualquer bagatela. Por que haveria de ser diferente? Cada átomo foi criado por Deus, e nele poderia o Criador se revelar. Do átomo ao arcanjo, no mesmo átimo! Não era um exercício de enxergar o que viria depois, mas o que estava ali, agora, por inteiro.
Essa visão, eu digo, é a dor amor. Quem disse que os apaixonados se enganam a todo momento participa do paradigma antigo. Aqui, o amor é a condição primeira e o coroamento. Começamos apaixonados pelo estudo, perdemo-nos no mar revolto da realidade, peregrinamos para o retorno do amor. O final do trabalho é uma visão redimida, serena, pacífica. Não da paz do mar morto, mas da inteireza.
Este não é outro método que não o que Allan Kardec usou para codificar a doutrina. Um pouco mais poético depois de Chico Xavier, um pouco mais trabalhado no que tange a conscienciologia depois de Husserl.
Poucos são os espíritas que enxergam a construção da doutrina assim. Tive o prazer de vislumbrar. Venho percorrendo estudos que vão tentando assimilar mais e melhor tudo o que vivenciei. Quem sabe um dia não lanço uma pesquisa mais robusta e madura com isso tudo.
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