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terça-feira, 28 de novembro de 2017

Reflexão espírita em "O Justiceiro" da Marvel



(Contém spoiler)

O Justiceiro conta a história de um fuzileiro naval, Frank Castle, que vê sua família morta em um ataque terrorista no parque. Com o tempo ele descobre que o ataque fora direcionado para ele. Como não acredita na justiça dos homens, em questão de julgamento e prisão, decide, ele mesmo, sair punindo - com morte - todos os criminosos envolvidos com a chacina. 

Ao final da primeira temporada que leva o seu nome, parceria com Netflix, Castle está sendo torturado pelo maior responsável pela morte dos seus. Quanto mais seu corpo é surrado mais ele delira vendo sua amada em pensamentos eróticos. Escapa da dor pelo prazer. 

Em Odisséia, de Homero, o épico grego que originou boa parte da mentalidade dos antigos, a grande escolha que reflete o espírito filosófico maior é a de Odisseu entre o amor da ninfa Calipso, com sua promessa de juventude eterna, e a volta para seu reino de Ítaca, onde iria, necessariamente, envelhecer e morrer ao lado da rainha Penélope e do filho Telêmaco. 

A escolha de Odisseu foi envelhecer e morrer. Ao contrário do que interpretam os românticos, não foi por causa do amor-paixão para com Penélope, mas porque é da sabedoria grega assumir o seu lugar no cosmos: o de mortal, o de senescente, o de membro de uma polis. Assim se alegra a Zeus.

Frank Castle, acariciado em sua alma pela amada já morta e vendo-a chamá-lo para se unir à ela no reino das sombras, decide por permanecer entre os vivos e terminar seu projeto de justiça. Recobra suas forças (com a ajuda de alguns artifícios da história, assim como Odisseu fora ajudado por Atenas) e devolve suas raízes para sua história de homem mortal, senescente e sedento de justiça. 

O Justiceiro é um seriado violento? Em demasia! Mas, se olharmos pelo lado simbólico das imagens, o convite heróico dessa história é o de não esmorecermos na busca da justiça (quase toda tragédia faz este convite, vide Antígona, Macbeth), o de não trairmos o movimento justo pelo qual bate o nosso coração, independente do quão sedutora seja a oferta que nos tente fazer desistir. 

Veja que o Justiceiro guarda o mesmo senso de honra e o mesmo peso de certo destino nas costas que os heróis trágicos. Se substituirmos a necessidade de matar os maus pelo imperativo de não ceder ao mal, ambas estas lutas se mostram cruentas e requerem uma força trágico-grandiloquente para vencê-las. Resistir até o fim contra o que for de maligno sempre foi a principal mensagem cristã. A ressurreição, o coroamento.

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