ALLAN: Que saudade das nossas conversas! Não sabia sobre as deficiências da sua filha. Meu núcleo familiar mais próximo (eu, Mia e as crianças) está bem, mas quando começa a se afastar desse circulozinho as coisas estão desmoronando. Não cabe eu detalhar pra você. Às vezes dá uma trégua, e eu penso, deve se estar dando um fôlego porque vem chumbo grosso pela frente. Daquela nossa conversa (2006) para cá, vi tantas dores nos seres humanos. A profissão me fez ficar próximo de tantas mazelas humanas, que a fé chegava a estremecer. Dia desses me vi sendo interpelado por um amigo que queria entender porque o ano de 2019 estava começando com tantas bombas (incêndio, morte, destruição). Ele tinha perguntado porque sabia que eu era espírita e gostaria que eu conversasse com ele como naqueles dias que conversei com você, mostrando caminhos de consolo e, apesar de tudo, grandeza na Criação. Veja só: eu titubeei em falar, minha fala falhou.
Ainda sou espírita, e muito, mas tenho abraçado um certo espiritismo sombrio, um que entende a onipresença do sofrimento no mundo e aceita o mistério de Deus. Faz tempo que não converso com Deus, com devoção e carinho. Tenho passado a ideia de Deus para meus filhos, em pequenas preces noturnas antes de eles dormirem, em frente a uma vela que queima lentamente enquanto rezamos preces decoradas. Sempre tive críticas sobre preces decoradas. Sempre fazia questão de improvisar as palavras. Hoje não mais. É como se o espírito estivesse cansado do meu próprio verbo e cedesse às palavras sagradas da boca de santos, que puderam mais do que eu na passagem pela Terra. Quatro principais embalam o sono das minhas crianças: Pai Nosso, Avé Maria, Oração ao Anjo da Guarda e Oração ao Divino Menino Jesus. Houve uma época até que tentei rezar o terço. Não suportei a repetição. E certamente isso fala menos contra o terço do que contra minha disciplina diante de Deus.
Vou te falar um pouco sobre duas faces da vida. Tem uma que é bem lógica e é o que aprendemos insistentemente no espiritismo mais prosaico: tudo tem um porque. Lemos os romances psicografados por Chico Xavier, e lá as revelações das conexões dos nosso sofrimentos são bem claras com ações que fizemos no passado. O mundo há muito é quebrado, e sempre esteve nas nossas mãos deixar de quebrar e passar a consertar. Sua avó, sua filha, meus parentes que sofrem são reflexos de todo esse movimento. Ajudamos se não quebramos ainda mais o que já vem trincado. Tem outra face que é a do amor de Deus, infinito porém obscuro. Se Ele tem todo o poder, como Ele deixou tudo isso acontecer? Obscuro. Parece racional aceitarmos as teses propostas pelos romances espíritas de uma lei que nos chama a responsabilidade do mundo, mas às vezes parece pouco consoladora essa visão matemática. Sabe o que me consola mais nesse amor infinito e obscuro de Deus? É que é direcionado especialmente para mim, para você, para cada pessoa em particular. A imagem mais forte desse amor é a do Jesus abandonado. Ele era Deus, ou para os espíritas, um deus, e sua dedicação era tal que deu sua própria vida para ajudar cada pessoa que nele confiou (fé=fides=confiança). A imagem de Jesus é a de um deus quebradiço, mas que foi até a última gota alguém que esteve conosco, do lado. Essa imagem ressurgiu do sepulcro como um amigo que mostra as chagas e continua dizendo: vou ao Pai, mas estamos juntos.
A encarnação do Cristo na Terra fala mais ou menos assim: "Eu sei de todo o sofrimento pelo qual você passa! (Veja que ele não fala para uma comunidade, mas para cada pessoa em particular, direto ao coração). Eu passei por algo assim também. Decidi sair das mais altas esferas da felicidade incorruptível para ser junto de você. Ao morrer e ressuscitar, eu quis dizer, não tema. Lute, continue, persevere, e em breve, parece um infinito, mas em breve, você estará comigo, em paz, do meu lado, no meu abraço." Ele se dirige a você e a sua filha. Fala ao ouvido de cada uma de vocês. E vendo Jesus falar assim, dá um ânimo que, para além de qualquer lógica, nos faz querer ser pelo ser amado que sofre o que ele foi por cada um de nós: alguém que abdica da própria felicidade, que se quer incorruptível, para apaziguar uma dor.
Vou te falar um pouco sobre duas faces da vida. Tem uma que é bem lógica e é o que aprendemos insistentemente no espiritismo mais prosaico: tudo tem um porque. Lemos os romances psicografados por Chico Xavier, e lá as revelações das conexões dos nosso sofrimentos são bem claras com ações que fizemos no passado. O mundo há muito é quebrado, e sempre esteve nas nossas mãos deixar de quebrar e passar a consertar. Sua avó, sua filha, meus parentes que sofrem são reflexos de todo esse movimento. Ajudamos se não quebramos ainda mais o que já vem trincado. Tem outra face que é a do amor de Deus, infinito porém obscuro. Se Ele tem todo o poder, como Ele deixou tudo isso acontecer? Obscuro. Parece racional aceitarmos as teses propostas pelos romances espíritas de uma lei que nos chama a responsabilidade do mundo, mas às vezes parece pouco consoladora essa visão matemática. Sabe o que me consola mais nesse amor infinito e obscuro de Deus? É que é direcionado especialmente para mim, para você, para cada pessoa em particular. A imagem mais forte desse amor é a do Jesus abandonado. Ele era Deus, ou para os espíritas, um deus, e sua dedicação era tal que deu sua própria vida para ajudar cada pessoa que nele confiou (fé=fides=confiança). A imagem de Jesus é a de um deus quebradiço, mas que foi até a última gota alguém que esteve conosco, do lado. Essa imagem ressurgiu do sepulcro como um amigo que mostra as chagas e continua dizendo: vou ao Pai, mas estamos juntos.
A encarnação do Cristo na Terra fala mais ou menos assim: "Eu sei de todo o sofrimento pelo qual você passa! (Veja que ele não fala para uma comunidade, mas para cada pessoa em particular, direto ao coração). Eu passei por algo assim também. Decidi sair das mais altas esferas da felicidade incorruptível para ser junto de você. Ao morrer e ressuscitar, eu quis dizer, não tema. Lute, continue, persevere, e em breve, parece um infinito, mas em breve, você estará comigo, em paz, do meu lado, no meu abraço." Ele se dirige a você e a sua filha. Fala ao ouvido de cada uma de vocês. E vendo Jesus falar assim, dá um ânimo que, para além de qualquer lógica, nos faz querer ser pelo ser amado que sofre o que ele foi por cada um de nós: alguém que abdica da própria felicidade, que se quer incorruptível, para apaziguar uma dor.
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