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terça-feira, 9 de maio de 2017
Por que o livre-arbítrio seria tão importante assim para Deus?
Pergunta de um leitor: "Por que o livre-arbítrio seria tão importante assim para Deus?". Acho mais fácil responder seguindo outra perspectiva: "Por que o livre-arbítrio é tão importante para nós ao ponto de tornarmos ele sagrado?".
Tem autores que dizem ser o livre-arbítrio uma ilusão, vide Espinoza, e todos os que seguem a esteira do determinismo espinosista. Há a outra ala que diz que não. Aliás, que o livre-arbítrio seria mesmo a única coisa que nos faz humanos, para além da inteligência ou da linguagem. Assim vemos Rousseau, entre os mais modernos, e Kant, de um jeito muito especial.
O fato é que a ideia, no Ocidente, de sermos essencialmente livres é uma ideia judaico-cristã. Se pararmos para ver a forma como a mitologia grega encara as profecias, e a forma como são encaradas pela Bíblia, veremos que lá os vaticínios são certos e implacáveis, já aqui, as falas dos profetas não são anúncios de uma fatalidade, mas orientações de um Pai que quer ver seus filhos voltarem ao caminho certo. Dessa forma, a visão do futuro não esmaga aqueles que estão nela, mas oferece alternativas de escapar daquele destino. Apenas se escapa de um destino se ele não está determinado. Se, pois, temos possibilidade de escapar dele, isto é, liberdade.
Nenhuma pergunta que seja no molde de "por que isso é tão assim para Deus" pode ser respondida. Seria eu atestar conhecimento do que se passa na cabeça do Absoluto. O que podemos fazer é pensar porque um atributo humano foi tido como tão especial ao ponto de ser mesmo elevado a categoria de divino.
Para a tradição judaico-cristã, Deus espera, agindo ativamente, o momento em que seus filhos <<escolherão>> voltar ao mundo que Deus fez e "viu que era bom". E não este cheio de dissonâncias provocadas pela má escolha. Aliás, perceba que mesmo este mundo, para a Bíblia, é fruto de uma liberdade radical no seio da criação. Aqui é fruto de uma escolha, de uma má escolha, mas de uma escolha de todo modo. Pela escolha nos distanciamos de Deus, pela escolha voltaremos.
O que fiz até agora é mostrar o quanto o pensamento bíblico gravita em torno da tipologia de homens livres. Liberdade, fraternidade e igualdade está longe de ser uma temática moderna.
Fora dessas narrativas sagradas, o ponto é saber se somos determinados ou não por o que quer que seja: do inconsciente à infraestrutura econômica, dos deuses aos motores de um materialismo dialético. A questão na filosofia está longe de estar encerrada, e não há o que fazer a não ser escolher um partido e argumentar a seu favor.
Eu sou dos que vêem o homem como um ser livre, embora seus movimentos, vira e mexe, findarão no horizonte de Deus. Mas, a caminhada é tanta daqui pra lá que haja espaço para se movimentar.
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