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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Sobre os traumas nas mentes infantis



Para onde quer que olhemos, estas teorias psicológicas dos sofrimentos humanos vivem a nos falar, no final das contas, de uma psicologia infantil tão frágil que qualquer abalo pode ocasionar o maior dos traumas no futuro, a mudança da rota, a diferença capital. Não é bem assim. 

De fato, cada ação importa para uma criança. E não tenho dúvida que quanto mais proteção e amor ela tiver, mais isto irá influir beneficamente em seu psiquismo. Mas, as lágrimas grossas das pessoas escorrem sentimentos que foram arrastados de vivências muito mais antigas do que a própria vida. Não somos tão frágeis assim. A pele de nosso Espírito possui camadas que o mais trabalhador arqueólogo está longe de revelar, quiçá interpretar. 

Não é uma vida anterior, nem duas. É todo um continuum de existência cuja origem se perde na escuridão da história de tudo, não só da humanidade. 

Leio e releio com gosto um médico polonês, o Sr. Janusz Korczak, que escreveu um dos livros mais sensíveis que já li sobre a criança: Como amar uma criança. Quase ao final, depois de ter nos revelado o imenso esforço humano de tentar desvendar os pequenos, na medida que os cobria do frio e os alimentava na privação, partindo de uma mão que já havia labutado muito a favor da sobrevivência deles em uma Polônia judaica perseguida no mundo entreguerras, nos diz isto:


Raras são as crianças que não são mais velhas que a sua idade real: trazem consigo as taras de muitas gerações. Nas circunvoluções do seu cérebro sangra a dor acumulada durante muitos séculos de sofrimento [...]. Não é a criança que chora, são o cansaço e a dor centenários que se lamentam: não foi por ter sido posto no canto, mas porque foi sempre oprimido, banido, desprezado, amaldiçoado. Estou fazendo poesia? Não, é apenas uma maneira de fazer uma pergunta para a qual não encontro resposta.

Eis a clarividência! "Nas circunvoluções do seu cérebro sangra a dor acumulada durante muitos séculos de sofrimento." E, muitas vezes, nos inquietamos porque não os conseguimos consolar de todo ou mudar seu caráter de forma inabalável em alguns parcos anos de convivência intermitente. É, então, que um árabe, Khalil Gibran, nos fala:

Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria.

Pais e mães que amam mais que tudo a vossos filhos, sejamos bons arcos, é o bastante. Os ventos de Deus cuidarão do resto. 

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