O método, mais particularmente a preocupação com ele, refez a cabeça de nós ocidentais. Foi uma grande estratégia de guerra contra os saberes que se impunham ao homem partindo das autoridades inquestionáveis, colocadas nesse patamar por manobras históricas que se naturalizaram na cultura humana.
Solicitar o método de como se chegou ao conhecimento que se têm foi a grande arma que derrotou as ciências ocultas que, veja o nome!, ocultavam os caminhos de se chegar aos mistérios que elas guardavam. A Igreja Católica fazia as vezes destas ciências na Idade Média.
Vide a nossa ciência moderna. Levantou-se sobre o questionamento de tudo o que a circundava para erigir uma base pretensamente mais sólida que a teologia, cujo princípio fundamental, Deus, escapava ao homem. Tudo deve passar pela voracidade do método. Nada dele pode escapar sob pena de não ser considerado existente.
Contudo, não podemos viver assim. Se essa exigência metodológica é imprescindível para não sermos subjugados pelos falsos profetas, por outro lado é incompatível com a vida que não cansa de nos surpreender para nos conduzir para novos horizontes. Um novo problema aparece. No império do método, o outro, isto é, o ser-que-não-sou-eu, deve provar a sua existência para poder ser incorporado no meu mundo cognoscível.
Estamos vivendo uma revolução tão grandiosa quanto a que Descartes provocou à sua época ao mexer com esse discurso sobre o método. Entendemos que, para que a riqueza da vida não passe desapercebida pelos nossos olhos, é mister abrir o nosso espírito para as experiências da alteridade. Sem abandonar o que somos, nos entregar a aventura do não-ser, ou do que ainda-não-é. Todavia, lembrando que há uma meta que deve ser fixada para que não nos percamos na jornada. O bem da humanidade, assim, torna-se o objetivo a que todos nós devemos almejar. Que o método seja subjugado para este fim, que seja criado com este propósito, mas nunca, nunca mais, submeter o propósito a qualquer método, sob pena de perdê-lo de vista.
Há, contudo, uma temeridade nessa conduta. Qualquer método é válido para alcançar o bem comum? Nesse quesito, certo pensamento oriental nos dá nortes para não causarmos deliberadamente mortes. O caminho para a paz perpétua é a paz como caminho. Outra confusão na qual não podemos cair é a de entender paz como estado de lassidão. Há um movimento enorme por trás de qualquer paz. Há força por trás do perdão. Mas, após atingido o estado de amor, o movimento para o outro se cobre de um facilidade natural.
Precisei fazer esse adendo na questão Dos Princípios da Doutrina Espírita porque em postagem anterior, propositadamente, falei que o Espiritismo teve sua questão de método, mas sem esquecer onde queria chegar.
Para os metodólogos rigorosos, uma ciência autêntica não pode fixar objetivos senão o de descobrir a verdade. Contudo, a verdade que não fixa o bem do outro como meta é envenenada pelos crimes contra a ética. Por isso que, para Kardec, verdade e bondade não poderiam andar separadas. Não é do nada que ele tira essa forma de fazer ciência, mas da cosmovisão cristã que tem a ideia de Deus, revelada por Jesus na releitura do judaismo, como balisa paras as ações. Se Deus impera sobre o universo com os raios da verdade, da justiça e do amor, de outro modo não pode exercer o homem seu fazer científico. É seguindo esses passos que - volto a esse assunto - a doutrina Espírita floresce como ciência, ética e religião. Qualquer cientista que ponha o amor ao outro como bússola e não como tapete necessariamente há de desenvolver esses três ramos no seu corpo doutrinário.
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