Com este texto inauguro uma sessão que deixará arquivados os eixos condutores de minhas palestras que aqui e acolá ouso proferir em alguns centros espíritas desta cidade.
O desafio era atualizar o público quanto ao que estava acontecendo no Brasil, numa visão espírita, óbvio. Então, me sopraram aos ouvidos a metáfora da Torre de Babel. Veja bem que considero uma metáfora e não uma realidade tal qual “A Palavra” diz. E ela diz assim:
“E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala. (...) Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados pela face de toda a terra. Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam; e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro. Assim, o SENHOR os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.” (Gênese 11: 1-8)
Um povo que fala uma só língua. Parece ser esse povo o que descende de uma linhagem específica dos homens, a adâmica. Essa história é uma sequência que se desenrola imediatamente após a descrição de uma árvore genealógica, cujo tronco é Noé, o que sobreviveu ao dilúvio. O Espiritismo defende que a “raça adâmica” é apenas mais uma das muitas culturas que havia na Terra. A Bíblia conta a história dela, de sua miscegenação, disseminação e busca pela salvação.
Um nome para que não sejamos espalhados pela face de toda a terra. É a língua uma das ferramentas que nos faz reconhecer os irmãos. Se identificados sob o mesmo nome, ainda melhor. Para os hebreus, a palavra tem ainda mais significado. E, verdadeiramente, parece que na história da humanidade houve uma melhor agregação dos indivíduos após o desenvolvimento da linguagem.
Uma torre cujo cume toque nos céus. Todo um povo unido para construir uma torre que os eleve até o céu nos faz lembrar muito o projeto humano rumo à trascendência, seja sob que aspecto ela se apresentar, isto é, Deus, céus, Reino dos Céus, perfeição. Pensar uma história que cresça rumo ao melhor, lutar por uma história que parteje um mundo mais justo, menos desigual, é trabalhar em uma torre que finde no céu.
Até aí, tudo bem. Não há nada de mau ser um povo unificado por uma língua que se dedique a alcançar o céu através da construção coletiva de uma torre. Por que o SENHOR decidiu acabar com essa festa? Porque não haveria restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Aqui coincide com a mitologia grega dos homens de ferro que receberam do titã Prometeu o fogo olímpico para, por exemplo, "queimar os tijolos", mas que poderia incendiar toda a Terra. Os homens com todo o poder e sem normas que os limitassem (“não haverá restrição”) tinham nas mãos a possibilidade da desordem. Zeus, em sua mitologia, espalha males e a esperança, para que os homens fiquem insaciáveis em busca da reconciliação com o cosmos. Iavé, espalha os homens, pra quê?
Em analogia com a mitologia grega, o espalhar dos homens pode ter um significado salvífico ou de sabedoria, qual seja, retomar mais adiante a construção da torre, após ter se reconciliado com os homens de toda a Terra. Ou melhor, essa é a única torre que nos levará aos céus: aquela construída sobre a reconciliação dos irmãos. Pelo menos no Espiritismo, a reconciliação com os homens - o amor ao próximo - nos faz assumir a identidade de filhos de Deus, voltando a falar a língua única que nos torna um com o Pai. O céu é uma aquisição consciencial, a torre é a nossa história.
A história acima nos serve para encontrar um sentido muito especial para os conflitos humanos, mas sua gênese fica a desejar, pelo menos para mim que não sou especialista em texto hebraico. Cabe deixar claro o que para o Espiritismo é válido.
Os conflitos, em certa medida, vêm das desigualdades, que, por sua vez, originam-se da liberdade dos homens em querer ser maior do que os outros.
No início, pode parecer uma luta egoísta de dominação e competição, e de fato o é. Mas, o tempo mostra que a solidariedade é mais útil que a luta entre irmãos. E tanto mais útil quanto mais universal.
Os conflitos sempre aparecem nas grandes transições de consciência. É como a ruptura de um corpo de ideias que já não servem mais ao crescimento do Espírito.
Embora seja duvidoso que conseguiremos retomar alguma igualdade essencial, o prêmio ao final da jornada será o mesmo para todos os vitoriosos: a felicidade eterna ao lado do Pai. Com um detalhe, o Pai quer que todos sejam vitoriosos, e trabalha constantemente para que assim seja. E será!
- Esclarecimentos para além da Bíblia
A história acima nos serve para encontrar um sentido muito especial para os conflitos humanos, mas sua gênese fica a desejar, pelo menos para mim que não sou especialista em texto hebraico. Cabe deixar claro o que para o Espiritismo é válido.
Os conflitos, em certa medida, vêm das desigualdades, que, por sua vez, originam-se da liberdade dos homens em querer ser maior do que os outros.
No início, pode parecer uma luta egoísta de dominação e competição, e de fato o é. Mas, o tempo mostra que a solidariedade é mais útil que a luta entre irmãos. E tanto mais útil quanto mais universal.
Os conflitos sempre aparecem nas grandes transições de consciência. É como a ruptura de um corpo de ideias que já não servem mais ao crescimento do Espírito.
Embora seja duvidoso que conseguiremos retomar alguma igualdade essencial, o prêmio ao final da jornada será o mesmo para todos os vitoriosos: a felicidade eterna ao lado do Pai. Com um detalhe, o Pai quer que todos sejam vitoriosos, e trabalha constantemente para que assim seja. E será!
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