O acaso não é a indeterminação, nem a ausência de
causas. Mas, o conjunto de sequências causais que nos escapa.
Ontem vi um exército de brasileiros na Esplanada dos
Ministérios bradando em uníssono os próximos passos da legítima reivindicação.
Como eles faziam para ter uma única voz, deslizava completamente da minha
compreensão. Mas, entendi que de um ponto tudo partiu: do café amargo da
necessidade histórica misturado ao leite quente da liberdade própria.
Minha esposa ficou aflita ao imaginar as
possibilidades de confronto violento aqui em nossa cidade contra os familiares
que estarão nessa luta.
Peguei o livro Pão Nosso de Emmanuel, psicografado
por Chico Xavier, e lancei o dedo sobre uma página qualquer:
O Senhor dá sempre
“Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos
vossos filhos, quanto mais dará o Pai Celestial o Espírito Santo aqueles que
lho pedirem?” – Jesus. (Lucas, 11:13.)
Um pai terrestre, não obstante o carinho cego com que muitas
vezes envolve o coração, sempre sabe cercar o filho de dádivas proveitosas.
Por que motivo o Pai Celestial, cheio de sabedoria e amor,
permaneceria surdo e imóvel perante as nossas súplicas?
O devotamento paternal do Supremo Senhor nos rodeia em toda
parte. Importa, contudo, não viciarmos o entendimento.
Lembremo-nos de que a Providência Divina opera invariavelmente
para o bem infinito.
Liberta a atmosfera asfixiante com os recursos da tempestade.
Defende a flor com espinhos.
Protege a plantação útil com adubos desagradáveis.
Sustenta a verdura dos vales com a dureza das rochas.
Assim também, nos círculos de lutas planetárias, acontecimentos
que nos parecem desastrosos, à atividade particular, representam escoras ao
nosso equilíbrio e ao nosso êxito, enquanto que fenômenos interpretados como
calamidades na ordem coletiva constituem enormes benefícios públicos.
Roga, pois, ao Senhor a bênção da Luz Divina para o teu coração
e para a tua inteligência, a fim de que te não percas no labirinto dos
problemas; contudo, não te esqueças de que, na maioria das ocasiões, o socorro
inicial do Céu nos vem ao caminho comum, através de angústias e desenganos.
Aguarda, porém, confiante, a passagem dos dias. O tempo é o nosso explicador
silencioso e te revelará ao coração a bondade infinita do Pai que nos restaura
a saúde da alma, por intermédio do espinho da desilusão ou do amargoso elixir
do sofrimento.
A minha direita um país convulsionante, a minha
esquerda uma internet ululante, atrás de mim a mulher grávida de um menino
destinado a que país, sob os meus olhos, então, a mensagem de Emmanuel teve o
efeito exato de uma calma, mas nunca de um desprezo pelos irmãos que marcham.
- Defender com espinhos, proteger com adubos
fétidos, sustentar com a dureza. O desastre e o equilíbrio. As calamidades e os
benefícios.
Fechei a página alegremente surpreso e dedicamos o
resto das nossas forças noturnas a uma prece para que tudo se passe no coração das
pessoas com a pacificidade possível que se pode ter em qualquer guerra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário