(Toca vinheta)
Allan Denizard: Estamos aqui novamente com “Reencontros”. No programa passado, tivemos aqui um pai que sofria ao lado do filho com memórias bem vivas da última encarnação. Contamos com a fala esclarecedora de um cientista da USP, cujo laboratório se consagrou na pesquisa das memórias genéticas de outras vidas. Hoje, temos mais uma história de conflitos familiares com as reencarnações, contudo, não com a presença viva delas, mas com a sua possibilidade. Bom dia, Sr. Jocicleudo! Conte-nos um pouco a respeito da sua angústia.
Jocicleudo: Você falou bem, Allan, é uma angústia! Não que meu filho esteja manifestando ter pertencido já a outras famílias, mas é que hoje se fala tanto disso [lembrando que estamos no ano de 4015] que eu não consigo mais olhar para ele e não ver um estranho em minha casa. Ele me sorri afetuosamente, me pede carinho. Não que eu não ofereça, mas é que o faço com asco. Penso naquela pelugem que ele carrega ainda no rosto, e sinto uma barba grossa. Ouço seus gemidos infantis, e escuto um vozeirão enorme. Vejo-o calmo nos braços da mãe, e muitas vezes tenho vontade de arrancá-lo dali porque ela é minha mulher e não dele. Não sei mais o que fazer. Ele é frágil, pequeno, inocente, mas eu o vigio, como se a qualquer momento pudesse se rasgar a pele e se revelar um monstro.
AD: Para tecer algumas considerações sobre isso, temos o prazer de ter aqui conosco o psicólogo Dr. Jungudo Ibirapuera, especialista em psicologia transvital, professor da faculdade de psicologia da Universidade de Ribeirão Preto. É um caso ainda mais complexo do que se a criança já revelasse seu passado, não acha, professor?
Jungudo: Enquanto o Sr. Jocicleudo falava sobre o drama com o passado do seu filho, fiquei recordando o drama nosso com o passado da psicologia no que diz respeito às encarnações passadas. Hoje, que a ciência chegou junto de forma quase inquestionável (pois há quem questione, sempre haverá!), que até mesmo grandes ramos das ciências humanas acreditam na hipótese de outras vidas, havendo exceções que só servem para confirmar a regra, fiquei pensando que os devaneios que tínhamos no passado sobre vivências pré-uterinas, como que participantes de um imaginário elaborado pelo inconsciente do indivíduo, não têm mais a mínima razão de ser. Fiquei imaginando como nós do ocidente pudemos ter ficado tanto tempo cegos para essas memórias extra-corpóreas quando mais de três quartos do mundo acreditava ou tinha abertura para acreditar nisso. Chamávamos de superstição. Mesmo a história da humanidade nos resgatando constantemente esta crença presente nos livros sagrados das grandes civilizações, chamávamos de infantilidade do homem místico. A genialidade de um certo Sigmund Freud havia tentado conectar esses sentimentos de hostilidade pai-filho com a mitologia grega, com os vaticínios agourentos de adivinhas, com um destino urdido por deuses que determinavam as vidas das pessoas antes mesmo de elas nascerem. Para Freud, não era uma questão de deuses exteriores, mas de forças íntimas em conflito. Atualmente entendemos que, embora as forças íntimas não sejam desprezíveis, as agonias de outras encarnações não o são menos. Por que o Sr. Jocicleudo ao invés de estranhar repulsivamente seu filho, como que a um inimigo, não o acolhe amorosamente, como que a um irmão? Duas respostas: porque seu filho realmente pode ter sido um inimigo e/ou porque a forma da relação pai-filho que existe em seu inconsciente é conflituosa. O inimigo dele reencarna já em uma forma de se relacionar patológica. Se assim não fosse, aquele que vivenciou uma relação com o pai tranquila teria como que um casulo afetivo que poderia acolher amorosamente o rebento que se apresenta, ainda que descendente de uma inimizade prévia. Seria uma sublimação. Aprendam isso pais: quanto mais se foi amado, mais se é aberto para amar!
AD: E como a psicologia pode tentar resolver isso, professor?
Jungudo: Trabalhando o indivíduo nos dois caminhos que evidenciei. Encontrar os nós que entravam ambas as relações pai-filho. Ajudar o analisando a desatá-los.
AD: É preciso regressão de memória para isso, não é?
Jungudo: Não, percebemos que não. Na maioria dos casos as memórias já estão presentes até demais nos discursos, só que codificadas. É preciso um intenso trabalho de conscientização na memória atual. O que acho imprescindível é o perdão.
AD: Não perca no próximo programa, aqui, o que a religião tem a dizer sobre isso.
AD: Não perca no próximo programa, aqui, o que a religião tem a dizer sobre isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário