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sábado, 20 de abril de 2013

Deus? Que Deus?!



Mais uma do Porta dos Fundos. 

Agora sobre Deus. Ótima oportunidade para discutir sobre Ele. Mas, com a consciência humilde que a discussão do divino tem um cercado. Somos limitados no tempo e no espaço. O tempo nos limita não por sermos mortais (falo segundo o Espiritismo, claro!), mas por nossa consciência estar submetida ao esquecimento e a falta de clarividência.

É exatamente essa preliminar, que não é nada mais do que uma constatação óbvia da nossa pequenez, da nossa terrena humanidade, que funda os parâmetros da compreensão de Deus contra os devaneios assassinos de qualquer tribo, casta, seita, etc. 

O homem é relativizado pelo conceito de Deus. Nada mais justo de acontecer quando se colocam vizinhos no pensamento o relativo e o absoluto. Um se vale do outro para se engrandecer ou se apequenar. Mas, se começássemos pensando Deus segundo as nossas limitações, chegaríamos em algumas pontuações pertinentes:

  1. Que Ele é impensável no todo, portanto, participa do mistério que nos escapa (como pode o oceano em uma concha?);
  2. Que não faz o menor sentido uma Ciência que busca a Verdade se ela não existe, e que, se ela existe, deve ter um fundamento que a nutra;
  3. Que faz menos sentido ainda o concílio entre as mais diferentes tribos da humanidade se não há Moral que seja universal, mas que, se há, deve haver algo que a endosse;
  4. Que se as obras de arte são questão de gosto e, portanto, aparentemente indiscutíveis, é espantoso que uma obra forjada em certo tempo e espaço consiga se perenizar levando verdades e morais compartilháveis entre povos distintos.  

Se Deus fosse uma verdade a priori, todos estes pontos estariam resolvidos. Deus é impensável, mas sua existência seria um imperativo, se imporia por ela mesma. Não há o que pensar. O sentimento de óbvio tomaria a todos. A Verdade existe, pois Nele se funda. A Moral, idem. O gosto pela Beleza (ou pelo risível) é compartilhável para além de tempo, espaço, morais e verdades, pelo mesmo motivo. O Belo da arte seria a manifestação na matéria da grandeza divina (o risível, a discrepância da matéria no que pretende ser espírito - Bergson). Mas, o simples fato de nem todos entenderem assim, já nos traz a dúvida do universal. Como pode haver discordâncias entres esses temas se todos somos irmãos, filhos do mesmo Pai?

Foram a partir destas questões que se promoveu uma revolução copernicana e se começou a pensar o universal na perspectiva do humano. O que pode ser assumido por todos como verdade, moral e beleza não se impõe por um Deus da tribo da Polinésia cuja palavra um dia deverá açambarcar o mundo, mas pelo que vemos na humanidade, com nossos olhos de carne, e o que experimentamos, com nosso corpo de ossos e sangue. 

É por isso que nos é tão natural o estranhamento da encenação acima. O nosso referencial de paraíso não está exatamente fundado mais em uma Pessoa Divina que tem o poder de me salvar, mas em seres humanos que pareceram ter praticado um bem universal (Gandhi, Madre Tereza) ou terem devassado uma verdade universal (Einstein), ou ainda, terem criado um belo universal (León Tolstói poderia perfeitamente estar queimando no infinito! E Chaplin rindo ao seu lado). 

A contribuição espírita para esse assunto é a de nos ter esclarecido outros elementos do humano que podem participar dessa busca: os sentidos mediúnicos. Assim como os sentidos de carne, eles são limitados, mas não menos preciosos. Sobre eles, falarei um pouco mais em outros posts.  

A revolução é não mais estarmos a espera de uma exterioridade que nos salve, ou melhor do que isso, nos una enquanto a adoramos, mas de buscar essa unidade no que podemos encontrar de exterioridade em nós. Em outras palavras, não mais esperar que o Pai nos una, mas buscar o que há do Pai em nós para nos unir, a humanidade inteira. Ainda mais claro: tentar enxergar no outro o meu irmão não por causa que eu acredito no mesmo Deus que você, mas porque eu vejo em você o meu Deus. Por que eu não canso de tentar melhorar essa frase?! Mais uma tentativa, mas com uma frase que não é minha: “É assim que aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das virtudes que o Cristo ensinou. É espírita ela? Que importa!”*


* Excerto da mensagem “Infortúnios Ocultos” de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 13, item 4. Essa mensagem sempre me encantou. 

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