domingo, 21 de maio de 2017

Genética, Neurobioquímica e Reencarnação



A primeira vez que vi a notícia que um gene poderia estar relacionado com o vício da nicotina foi um baque para meus fundamentos reencarnacionistas. Desde então, fui em busca de entender como isso seria possível, se somos hoje o que fizemos de nós ontem. 

Deixe explicar melhor minha perplexidade. A reencarnação é uma doutrina que devolve para nós, definitivamente, a responsabilidade pela nossa salvação e pela construção do Reino de Deus na Terra. Revelando que nosso corpo é aqui o que forjamos nele ontem, também nos abre a perspectiva que este artesanato pode e deve se continuar ao infinito. Quando descubro que um gene, codificador de uma proteína, protagonista de algum mecanismo comportamental, é a causa primária de algum distúrbio, retiro do Espírito a responsabilidade do ato. Não posso ser culpado pelo que não fiz livremente. E é essa a grande tentação da doutrina das causas genéticas: o desaparecimento da culpa, causa de tantos remorsos, paralisantes da alma. 

Todavia - efeito colateral - se a culpa (que é o remorso do passado) desaparece, assim também a possibilidade de auto-cura. O reino dos genes, que parecia surgir como algo libertador, revela toda a sua fatalidade. As terapias, prevê-se, funcionarão pouco. Os medicamentos são o armamentário que resta. E ainda assim, a genética pode se revelar de tal modo determinante que os circuitos cerebrais se realinham para o formato que aquela ordena. É o que acontece na depressão, cujos medicamentos tem de quando em quando sofrer novo ajuste de dose para enfrentar a reacomodação das sinapses cerebrais que rumam para o retorno ao cérebro depressivo.  

É senso comum na psiquiatria que é melhor encarar a depressão, por exemplo, como uma realidade bioquímica do que ficar culpando o indivíduo pelo seu humor. Defendo, contudo, que podemos assumir a abominação da culpa sem tirar do indivíduo a esperança de ele mesmo se livrar do mal, ainda que com a ajuda dos medicamentos. Como?

Vamos começar por enxergar como funciona a interação corpo-espírito. Por que os genes, e o fluido neurobioquímico que ele codifica, são tão decisivos? O corpo é o reflexo de todas as experiências passadas do Espírito. Ligando-se este, célula a célula com o corpo, desde o momento da concepção, os genes funcionam como fulcros canalizadores do que se tornou identidade do ser que transmigra entre vidas. Veja, identidade

Para que algo seja tido como identidade, isto é, o que define a pessoa, é que experiências marcantes ou repetidas se imiscuíram em tal magnitude em sua forma de existir que passaram a ser tidas como atributo essencial. 

A concepção espírita enxerga o Espírito apenas com uma essência: a imagem de Deus. Tudo o que convergir para ela permanecerá. Todo o resto que contrariar esta essência é passageiro e cairá. Porém, por vezes o atributo dissonante está de tal forma incrustado na identidade espiritual que segue adiante pelas vidas afora. É dessa forma que poderemos encontrar no genoma de alguém os genes para quase tudo o que ele pode manifestar nesta vida. Desde as doenças mais materiais até as mais mentais. 

Temos de encarar os medicamentos como amparos bioquímicos que anulam temporariamente e de forma parcial a força do determinismo bioquímico patológico, mas nunca desconsiderando que a vontade do Espírito é a única que pode conduzir o mesmo para a cura. A cura, então, por esse ponto de vista, é o restabelecimento da essência espiritual no caminho do aprendizado evolutivo. É a superação de atributos disfuncionais rumo a assunção de outros que aproximem a imagem da criatura ao modelo do Criador. 

Não precisa ter culpa nesse processo. Não é da nossa alçada apontar dedos. Cada um tem sua labuta particular. Ajudar uns aos outros, se com amor, ainda melhor, disse Jesus. 

Essa reflexão em grande parte foi favorecida pelo livro do Dr. Jorge Andrea, psiquiatra, conferencista do Instituto de Cultura Espírita do Brasil: Correlações Espírito-Matéria

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