sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Depressão segundo o espiritismo



Palestra proferida ao Lar Espírita Chico Xavier de Paracuru que carinhosamente me recebeu para me ajudar a pensar sobre esse tema tão presente em nossos dias. 

Introduzi situando-nos em uma era em que a medicina vem entrando em nossas vidas acautelando-nos sobre as doenças invisíveis. Até, então, a maior parte das moléstias que ceifavam nossos entes saltavam aos olhos, quando não matavam rapidamente. Com o advento das cidades bem urbanizadas e dos antibióticos, passamos a presenciar, por conseqüência da longevidade, as doenças que matam aos poucos, e cujos remédios servem, no pior dos cenários, para prolongar o sofrimento cotidiano. O médico se deparou mesmo com a trágica questão de "quando parar de investir em alguma vida". A tecnologia médica colocou sob nossos olhos o "indivíduo sustentado por aparelhos", o questionamento sobre se aquela vida não estaria em excesso. 

Uma das doenças invisíveis que mais vem consumindo a alegria das gentes é a depressão. Associado a esse quadro em que estamos prestando mais atenção ao que nos desgasta lentamente mais do que o que nos mata de súbito, há uma mudança radical no que entendíamos ser o "sentido da vida". Os últimos três séculos testemunharam um esvaziamento das grandes narrativas (religiões, filosofias, sabedorias dos povos) sem precedentes na história da humanidade. O sentimento de comunidade se esfacela. Entregues ao mundo globalizado, pelo menos duas grandes mudanças nos fazem ver a última geração como já caduca: 1. a verdade de qualquer coisa se desintegra no fluxo da internet; 2. a casa das pessoas se torna o mundo, e, se por um lado o corpo adquire amplitude tecnológica suficiente para explorá-lo, o espírito não acompanha esse processo. São esses fatores que, grosso modo, sugeri darem razão para aqueles que dizem ser a depressão nossa "doença do século". Seus sintomas são quase que uma revolta contra tudo isso: querer ficar mais em casa, se perturbar com o nada que nos circunda, com a ausência de raízes, e, por vezes, sentir tudo isso sem saber porque se sente, pois, onde a verdade?

Entre as tecnologias médicas, semelhante aos antibióticos que quiseram por fim às infecções, drogas antidepressivas mais sofisticadas surgiram prometendo devolver a alegria: um messias farmacológico. E, muito embora, tenha havido resultados formidáveis, havendo mesmo aqueles que defenderam e defendem a universalização do antidepressivo, há uma parcela considerável da população que sofre com depressão que se frustra com seus resultados. São esses indivíduos para quem a mensagem das religiões, filosofias, sabedorias de todos os tempos, do espiritismo, enfim, ainda é válida. 

O espiritismo vem revelar que as nossas doenças não são desta vida, nem são do acaso. São construções milenares. A experiência do Espírito na carne é uma terapia per si, onde as emoções que dinamizamos no contato com o outro podem ser trabalhadas intensamente. O remédio é uma ajuda, não a cura. E a cura pode não vir nesta vida. A salvação não é uma dádiva, mas um caminho. E o imediatismo apenas complica nossas perspectivas. O futuro, sendo certo, não deve ser rechaçado, e a esperança, juntamente ao trabalho no bem, devem ser nossos companheiros inseparáveis. 

Para aqueles que não apresentam qualquer quadro depressivo, todavia, partícipes de outros processos expiatórios, devem ter uma atitude de acolhimento paciente e amoroso para com os que sofrem na depressão, não exigindo que tenham o brilho dos olhos na mesma velocidade em que estes piscam, mas tendo abertura para caminhar lado a lado nesse processo de harmonização da própria vontade com a Vontade do Criador, que nos quer felizes, todos felizes, juntos. 





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