domingo, 7 de setembro de 2014

O batismo no Espiritismo



Não há. Não oficialmente, com manual de instruções. 

O Espiritismo não nasceu para oferecer novos ritos para o mundo. Kardec deixou claro em 1862 que o Espiritismo deveria servir de base científico-filosófica para todas as religiões que se sustentassem sobre a imortalidade da alma, cada uma devendo seguir seus ritos próprios, cada homem, o que lhe oferecia a sua religião. Devolver o cético à crença, eis o que Kardec considerava o grande feito dessa nova doutrina. 

O Catolicismo, particularmente, não só discordou dessa nossa função, como nos considerou ora mentirosos ora adoradores do demônio. Chegou a excomungar todo aquele que se confessasse espírita e continuasse freqüentando a missa. É que Kardec acreditava, no início, que, sendo o Espiritismo apenas a ciência que poderia embasar a crença, o homem poderia perfeitamente ser espírita-católico, espírita-judeu, espírita-árabe. Não se deu bem assim. 

Os tempos amadureceram. Ainda recebo cara feia de algumas pessoas quando me revelo espírita. A maioria, graças à Deus, me devolve um "é por isso que o senhor é tão calmo!". Tornamos o Espiritismo nossa forma de enxergar Deus e Sua criação, portanto, nossa religião. Mas, ficou ao encargo de cada um decidir como seriam os ritos que marcariam as grandes etapas da vida. Alguns traduzem o que a sua igreja anterior fazia para o contexto em que vive agora.  

Meu filho está prestes a ser batizado conforme os ritos católicos, raízes culturais e afetivas de minha esposa. Perguntaram-me se eu iria aproveitar e me batizar também. Respondi de pronto:

- Já sou batizado. 
- Mas, você não é espírita de berço?
- Sim, e já fui batizado. 

Geralmente, quando o espírita fala assim entra dentro de uma querela teológica que diz que Cristo, embora tendo se submetido ao batismo, nunca batizou, ou que nosso batismo já não é com água, mas com Espírito. Não é a nenhuma dessas formas de batismo a que me refiro quando falo assim. 

Pouco depois de ter chegado em casa, vindo da maternidade, papai convidou mamãe para a sala, deitou-me no berço, abriu o Evangelho Segundo o Espiritismo nas preces sugeridas por Kardec para serem proferidas a um Espírito que acabara de nascer e, em coro com ela, estendendo as mãos sobre mim, disseram assim:

"Meu Deus, confiaste-me a sorte de um dos teus Espíritos; faze, Senhor, que eu seja digno do encargo que me impuseste. Concede-me a tua proteção. Ilumina a minha inteligência, a fim de que eu possa perceber desde cedo as tendências daquele que me compete preparar para ascender à tua paz."

Sem festança, sem alarde, porque o velho não gostava disso. Com amor, com disciplina, porque era militar de carteirinha, entendeu agregar-me assim entre os encarnados, e assumir, por toda a vida, a responsabilidade de me preparar para ascender à paz de Deus. Foi assim que fez com minha irmã, será assim que, depois da missa, gostaria de fazer com meu filho. 

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